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Índices reprodutivos em gado de corte

Ed Hoffmann Madureira

Este assunto é bastante amplo e também polêmico. Procuraremos abordá-lo de uma maneira prática em mais de um artigo.

“Índice” é tudo aquilo que indica ou denota alguma qualidade ou característica especial.

Com relação à produção de gado de corte, a reprodução é, sem dúvida, uma característica muito especial.

Há vários anos, foi feita uma avaliação econômica da importância relativa das diferenças de fertilidade, crescimento e qualidade da carcaça na rentabilidade da produção de gado de corte. As conclusões foram:

1) As diferenças na fertilidade são muito mais importantes do que as diferenças no crescimento ou na qualidade da carcaça.

2) As diferenças no crescimento são mais importantes do que as diferenças na qualidade da carcaça.

Isto significa que a fertilidade e a sobrevivência dos bezerros são mais importantes do que qualquer outra característica na determinação da rentabilidade da produção de bovinos de corte.

É importante que a performance reprodutiva seja periodicamente avaliada e interpretada quando se pretende maximizar a fertilidade sob um determinado conjunto de condições ambientais e de manejo.

Os índices reprodutivos são valiosas ferramentas para esta avaliação e para verificação do impacto que o melhoramento genético tem sobre a eficiência reprodutiva, principalmente no que diz respeito às características ligadas ao crescimento e à qualidade da carcaça.

Quanto mais completas e acuradas forem as informações disponíveis na propriedade, maior o número de índices que poderão ser calculados e interpretados.

O intervalo entre partos (IEP) é um índice importante, e para obtê-lo basta computar o número de dias compreendidos entre os partos consecutivos de cada matriz do rebanho. Assim, podem-se calcular as médias de IEP por matriz, individualmente, ou para todo o rebanho.

Como nosso objetivo é produzir um bezerro por vaca por ano, o IEP ideal é de 12 meses ou 365 dias. Em muitas propriedades não é possível sequer obter este índice porque a data dos partos não costuma ser anotada. Caso a data da prenhez esteja disponível, é possível incluir no cálculo do IEP, as vacas prenhes utilizando-se a data da previsão de parto. Com isso, amplia-se a base de cálculo o que melhora a acurácia.

Embora bastante útil, este índice é muito amplo e nos casos em que é superior a 12 meses torna-se difícil identificar onde está o problema. Por exemplo, as vacas podem estar demorando muito tempo para reassumir a ciclicidade pós-parto, ou apesar de estarem ciclando precocemente, não terem sido detectados no cio ou mesmo estarem sendo inseminadas ou cobertas e repetindo o estro.

Todas estas causas podem ser responsáveis pelo aumento do IEP, porém as providências a serem tomadas em cada caso são diferentes. Portanto outros índices são necessários para identificar o problema e tomar a decisão correta.

A taxa de prenhez (TP) é o número de fêmeas prenhes em relação ao número de fêmeas introduzidas no programa reprodutivo. Podemos calcular a TP na estação de monta (EM) ou mesmo em intervalos menores de tempo como por exemplo, a TP após um programa de sincronização dos estros ou nos primeiros 30, 60 dias da (EM).

Para que uma vaca emprenhe, ela deve ser detectada em estro e ser inseminada ou coberta e conceber após este serviço, portanto a TP pode ser desmembrada em outras duas taxas: a taxa de serviço (TS) e a taxa de concepção (TC), ao ponto de ser obtida pelo produto de ambas (TP=TS x TC).

Temos verificado, na maioria das fazendas, que a baixa eficiência reprodutiva está intimamente ligada a um índice extremamente importante e que é geralmente relegado a um segundo plano: a taxa de serviço (TS).

A TS é o número de fêmeas efetivamente inseminadas ou cobertas em relação ao número de fêmeas disponíveis para serem inseminadas ou cobertas. Ela também pode ser calculada considerando-se toda a EM, nos primeiros 30 ou 60 dias da EM ou na primeira semana após a aplicação da PGF2a por exemplo. Basta para isso dividir o número de vacas disponíveis no programa, em cada um destes intervalos de tempo e multiplicar por 100. Há outras maneiras de se calcular a TS que procuraremos abordar assim que o conceito ficar melhor estabelecido.

A TS efetivamente depende do número de fêmeas que estão ciclando e da eficiência com que os estros estão sendo detectados. Como já relatamos anteriormente, a TP está em função da TS e, portanto, os dois fatores que a influenciam também influenciam a TP. Assim, é lícito afirmar que a performance reprodutiva de um rebanho de corte depende em grande parte da ciclicidade das matrizes no início da EM e da eficiência da detecção de estros.

Se separarmos apenas fêmeas ciclando para iniciar a EM, deveríamos inseminar 100% delas nos primeiros 22 dias. Entretanto, nestes casos inseminamos em média 65% das mesmas quando a eficiência de detecção dos estros pode ser considerada boa, o que nos leva a uma falha da ordem de 35%. A mesma TS (65%) costuma ser obtida ao aplicarmos PGF2a em fêmeas bovinas após a detecção do corpo lúteo por palpação retal.

De um modo geral, a porcentagem de matrizes que iniciam a EM em anestro é muito variável e se considerarmos um rebanho com 50% de vacas ciclando e 50% de vacas em anestro (uma condição das mais comuns) teríamos uma TS de apenas 32,5% nos primeiros 22 dias da EM (TS = % de animais ciclando x eficiência da detecção de cios).

A TS geralmente não se mantém constante durante toda a EM. A eficiência da detecção de cios costuma ser mais alta para a 1a. IA do que para as inseminações posteriores. Isto ocorre porque entre as vacas que repetem o cio após a 1a. IA, apenas cerca de 50% delas são reinseminadas.

Como já relatamos anteriormente, existem outras maneiras de calcularmos a TS, como por exemplo:

Fórmulas

Onde:

– 22 é a duração do ciclo estral em dias
– número médio de serviços/concepção é calculado com base apenas nas vacas prenhes. Não é portanto o número de serviço/concepção do rebanho!
– dia da EM na qual a vaca emprenhou é o número de dias compreendidos entre o início da EM e o dia do serviço no qual a vaca emprenhou
– 11 é o número correspondente à metade de um ciclo estral

Estes índices são um pouco mais difíceis para compreender mas muito úteis quando calculados na metade da EM ou no final da mesma, quando os diagnósticos parcial e total de gestação estão disponíveis, permitindo correções para a fase final de EM ou programação das EM futuras.

Para exemplificar o emprego destes índices, suponhamos que nos primeiros 22 dias da EM inseminamos todas as vacas sem nenhuma concentração de cios em algum dia especificadamente. Assim:

Fórmulas

Note-se que são possíveis TS maiores do que 100% em determinadas situações. Se o estro for sincronizado em um grupo de vacas de modo que todas forem inseminadas, em tempo fixo, no 1o. dia da EM, teríamos:

Fórmulas

Podemos verificar que as taxas de serviço podem ser calculadas de várias maneiras com enfoques diferentes e por isso mesmo devem ser analisadas em conjunto.

No próximo artigo abordaremos a outra taxa que juntamente com a TS compõe a TP : a taxa de concepção (TC).

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