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Índia: fúria dos hindus contra exportações de carne bovina

Em uma noite em agosto passado, uma multidão enfurecida correu na estrada Delhi-Jaipur queimando caminhões e propriedades do governo, pararam o trânsito e forçaram as fábricas a fechar. Os manifestantes estavam furiosos com um assunto que sem dúvida é tão antigo quanto a Índia: o consumo de carne bovina, que a maioria dos hindus do país considera um sacrilégio há pelo menos 1.000 anos.

Talvez surpreendentemente em um país onde tantas pessoas veem as vacas como sagradas, a Índia poderia em breve se tornar o maior exportador mundial de carne bovina, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

A maioria, mas não toda carne bovina exportada pela Índia é de búfalos, um animal menos venerado do que a vaca indiana. Porém, o comércio, mesmo de carne de búfalo, ainda evoca repulsa entre os nacionalistas hindus.

A maior crítica vem do partido Bharatiya Janata (BJP), principal oposição no parlamento. Seu candidato a primeiro ministro nas eleições do próximo ano, Narendra Modi, criticou o que ele chama de “revolução rosa” do governo, uma brincadeira com a revolução original agrícola ou “verde” na Índia, e sua “agenda secreta para exportação de carne bovina”.

As tradições vegetarianas na Índia e a aversão hindu à carne bovina levam a um consumo interno de 2,1 milhões de toneladas de carne bovina. Lembrando que nos Estados Unidos, o consumo é de 11,5 milhões de toneladas por ano, ou seja, apenas um quarto da população da Índia.

Porém, as exportações de carne bovina da Índia deverão ser de quase 1,8 milhão de toneladas em 2013, perdendo somente para o Brasil, de acordo com uma previsão do USDA de abril. O valor das exportações da Índia quase dobrou de US$ 1,9 bilhão em 2010-11 para US$ 3,2 bilhões em 2012-13, de acordo com a Autoridade de Desenvolvimento de Produtos Alimentícios e Agrícolas Processados para Exportação (APEDA).

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A produção de carne bovina na Índia é dominada por muçulmanos, uma minoria no país. As manifestações desse ano na estrada Delhi-Jaipur mostram o quão rapidamente a carne bovina pode provocar raiva.

Os transeuntes reportaram um mau cheiro vindo de um caminhão que tinha quebrado, rumores espalharam que o caminhão estava cheio de carne. Jovens gritando percorreram a cidade de Dharuhera, a cerca de 40 quilômetros de Delhi, saqueando o caminhão e arrancando sua carga de carne coberta de gelo. Até o momento em que a polícia acalmou o tumulto, 74 caminhões e ônibus tinham sido queimados.

No final, a carga era de carne de búfalo, não de vaca. Porém, Sailesh Soni, membro do Rashtriya Swayamsevak Sangh, um poderoso grupo nacionalista hindu que apoia o BJP e quer um reforço mais rígido da proibição do abate de bovinos, disse que todos os hindus deveriam estar prontos para defender todos os bovinos.

“Se alguém mirasse em minha mãe, o que eu faria? Eu ficaria na frente dela e a salvaria. Da mesma forma, vocês devem se levantar, se unir e salvar nossa mãe vaca”.

Os hindus acreditam que Nandi, um touro, é o corcel da poderosa divindade Lord Shiva e que Lord Krishna nasceu como um vaqueiro.

De acordo com participantes e oficiais da indústria os búfalos e as vacas estão cada vez mais terminando em abatedouros no país. Os búfalos representam de longe a maioria das exportações de carne da Índia. A carne de vaca é proibida para exportações.

No total, a Índia tem metade dos búfalos do mundo, de acordo com o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola e o maior número de bovinos, com 327 milhões de cabeças, de acordo com o USDA. Os Estados Unidos têm cerca de 89 milhões de bovinos.

Sentado em seu escritório no andar térreo arejado em um abatedouro de cerca de oito quilômetros na cidade de Aligarh, no norte da Índia, Mahendra Singh disse que o negócio está crescendo. Sua produção de carne de búfalo aumentou de 100 a 120 toneladas para 150 toneladas por dia há cerca de um ano.

Seu empregador, Hind Agro Industries Ltd., pediu a permissão do governo local para aumentar seu limite diário de produção para 250 toneladas para suprir a crescente demanda. “No começo havia somente nossa planta, mas agora, existem mais de cinco unidades somente nessa área”, disse Singh, gerente geral da planta.

A Hind Agro vende a maioria de sua carne para o Oriente Médio e Sudeste da Ásia, mas o governo diz que os maiores compradores de carne bovina da Índia são Vietnã, Malásia, Tailândia e Egito.

A China, onde o consumo de carne bovina está crescendo rapidamente, poderia em breve ser o cliente oficial, após os dois países assinarem um acordo no começo desse ano.

A demanda global por exportações de carne de búfalo, mais magra e mais barata que a carne de vaca está crescendo em cerca de 30% por ano. A ausência de hormônios de crescimento na carne bovina indiana fornece uma atração adicional para os consumidores conscientes com relação à saúde, disse o vice-presidente de exportações e marketing da Hind Agro, M. Kalim Khan.

A rápida expansão do setor de carne bovina, os aumentos dos preços e a demanda encorajaram o contrabando de gado e os ativistas animais. “Os animais abandonados são tirados das ruas para abate. Ninguém está incomodado, porque todos, incluindo a polícia, obtêm sua parte dos agentes”, disse o fundador do Karuna, uma organização para bem-estar animal na cidade de Mumbai, Arvind Shah.

Os motoristas dos caminhões, por sua vez, têm histórias de espancamentos e roubos. “Estamos fartos de pagar subornos aos policiais e sermos espancados por pessoas dos grupos de direitos dos animais e membros de partidos políticos”, disse o motorista do mercado de Gulaothi, Mohammad Gulfam.

Embora as regulamentações do governo sobre transporte de animais sejam rígidas, a implementação é frequentemente fraca e os animais são espremidos em caminhões para reduzir custos. Os animais frequentemente fazem o caminho a abatedouros sem alimentos ou água e são às vezes deixados no calor enquanto os motoristas fazem suas pausas.

Depois do surto de violência fora de Nova Delhi, os idosos muçulmanos e os clérigos disseram que preservar a paz era mais importante do que comer carne bovina.

Qualquer um que matasse vacas agora serão multados em 115.000 rúpias (US$ 1.877,28), eles anunciaram. Desde então, as tensões diminuíram na área, onde os hindus e muçulmanos vivem lado e lado e conversam uns com os outros em frente dos quintais.

Em 14/01/14 – 1 Rúpia Indiana = US$ 0,01632
61,1540 Rúpia Indiana = US$ 1 (Fonte: oanda.com)

Fonte: AlbertaFarmExpress.ca, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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