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Inclusão de gordura na dieta de bovinos de corte

A utilização de gorduras na dieta de bovinos de corte apresenta diversas vantagens como o aumento na densidade energética e diminuição no incremento calórico, porém podendo levar a queda na digestão de fibras e no consumo voluntário, fatos extremamente indesejáveis no processo de produção. Outro ponto importante na inclusão de gorduras na dieta de bovinos seria o fornecimento de ácidos graxos específicos para determinados processos metabólicos, como a reprodução e a composição da gordura da carcaça. A alteração da composição de gordura das carcaças, visando um perfil de ácidos graxos mais favoráveis à saúde humana, com certeza será um grande diferencial para agregar valor ao "produto carne vermelha".

A utilização de gorduras na dieta de bovinos de corte apresenta diversas vantagens como o aumento na densidade energética e diminuição no incremento calórico, porém podendo levar a queda na digestão de fibras e no consumo voluntário, fatos extremamente indesejáveis no processo de produção. Outro ponto importante na inclusão de gorduras na dieta de bovinos seria o fornecimento de ácidos graxos específicos para determinados processos metabólicos, como a reprodução e a composição da gordura da carcaça. A alteração da composição de gordura das carcaças, visando um perfil de ácidos graxos mais favoráveis à saúde humana, com certeza será um grande diferencial para agregar valor ao “produto carne vermelha”.

Óleos vegetais

A inclusão de óleos vegetais pode ser feita na forma protegida ou livre, podendo levar a alterações no ambiente ruminal, apresentando níveis de biohidrogenação de 50 e 85%, respectivamente. Menores porcentagens de ácidos graxos saturados são encontrados em tecido adiposo de animais alimentados com 5% de óleo de girassol. Essa mudança provavelmente ocorra devido a menor quantidade de ácido palmítico no óleo de girassol. Gillis et al. (2001), observaram aumento das concentrações de oleico e linoleico, na gordura subcutânea e interna, com a inclusão de 6% de óleo de girassol na dieta, porém não observaram diferença na composição da gordura de marmorização. Andrae et al. (2001) observaram aumento do marmoreio, com aumento de 42 para 72% de carcaças classificadas como “choice”, com a substituição do milho convencional por milho “alto óleo” (2x mais óleo que o milho convencional).

Caroço de algodão

O caroço de algodão apresenta grande quantidade de óleo, e portanto, alta densidade energética. Além disso, apresenta uma boa atividade de fibra, estimulando os processos de ruminação. Algumas alterações nas características da carcaça, como a composição do tecido adiposo, foram observadas com a utilização de caroço de algodão para bovinos de corte em confinamento.

Outros ingredientes da dieta também podem alterar o perfil de ácidos graxos da gordura dos bovinos, promovendo um aumento na quantidade de ácidos graxos saturados. A composição do tecido adiposo de bovinos também vai se alterar devido à raça, sexo, peso de abate, idade e condições ambientais.

A presença de maior quantidade de ácidos graxos saturados na gordura de bovinos vai levar ao “endurecimento” da gordura da carcaça, provocando problemas na industrialização e aumento na ingestão de gorduras saturadas pelos consumidores. Autoridades da saúde recomendam uma menor ingestão de gorduras saturadas, devido aos problemas de saúde relacionados ao excesso de ingestão de alimentos com essa característica.

Segundo Yang et al. (1999), a maior saturação da gordura de bovinos se deve principalmente a menor formação de ácidos graxos insaturados endógeno. Nos bovinos a insaturação de ácidos graxos vai ocorrer pela ação das dessaturases, enzimas presentes no fígado, intestinos e tecido adiposo, sendo mais ativas no tecido adiposo no caso dos ruminantes.

Yang et al. (1999) trabalhando com animais ½ sangue Angus a pasto e com diferentes períodos de confinamento com 5% de caroço de algodão, observaram alterações no perfil de ácidos graxos nos diferentes tratamentos, com maior saturação na gordura dos animais confinados em relação aos animais em pastejo. As avaliações foram feitas no tecido adiposo subcutâneo dos animais, na porção correspondente ao músculo Longissimus dorsi.

Animais a pasto, apresentam maior quantidade total de ácidos graxos insaturados, menor quantidade total de saturados, resultando numa menor relação saturados/insaturados. Não há diferença entre diferentes períodos de confinamento.

A maior quantidade de insaturados nos animais a pasto se deve a uma maior atividade (60-85%) da delta 9 dessaturase, proporcionando uma maior quantidade dos ácidos graxos C16:1, C18:1c9 e C18:3. Não foram observadas diferenças na atividade da delta 9 dessaturase para os diferentes períodos de confinamento. O fornecimento de caroço de algodão promoveu um aumento na quantidade de 18:2, e uma diminuição nos monoinsaturados, principalmente 18:1c9. Essas alterações foram provavelmente devido a diminuição na atividade da enzima delta 9 dessaturase.

Milho Alto Óleo

Com a proibição de utilização de produtos de origem animal na formulação de rações para ruminantes, os cultivares de milho selecionados para altos teores de óleo, passaram a ser uma boa alternativa para aumentar a densidade energética da dieta de bovinos confinados. Cultivares de milho selecionados para altos níveis de óleo apresentam 7-8% de extrato etéreo, aproximadamente o dobro dos cultivares de milho tradicionais. A substituição do milho comum (MC) por milho alto óleo (MO) nas dietas, vai proporcionar aumento da densidade energética e das quantidades de ácidos graxos insaturados na dieta. A película externa das sementes oleaginosas protege fisicamente os lipídeos da biohidrogenação ruminal, sendo essa a provável razão do aumento da deposição de ácidos graxos insaturados no tecido de bovinos de corte tratados com esses alimentos

Gordura protegida

A inclusão de gordura protegida em até 6% da dieta, não apresentou alterações em relação ao ambiente ruminal. Tal inclusão leva ao aumento da densidade energética da dieta, podendo elevar o desempenho e a composição da carcaça produzida. Gillis et al. (2001), observaram aumentos da quantidade de ácido linoléico na gordura de marmoreio, com a inclusão de óleo de açafrão, após 56 dias de alimentação.

Os resultados de pesquisas apresentados acima nos mostram a possibilidade de manipulação da quantidade e do perfil de ácidos graxos do tecido adiposo de bovinos de corte, através da alteração de características da dieta. Esse fato vai permitir a produção de cortes cárneos diferenciados, e com características desejáveis à saúde humana, de acordo com à exigência dos consumidores.

Referências bibliográficas:

ANDRAE, J.G.; DUCKETT, S.K.; HUNT, C.W.; PRITCHARD, G.T.; OWENS, F.N. Effects of feeding high-oil corn to beef steers on carcass characteristics and meat quality. J. Anim. Sci., v.79, p. 582-588, 2001.

GILLIS, M.H.; DUCKETT, S.K.; SACKMANN, J.R. Effects of supplemental rumen- protect conjugated linoleic acid or corn oil on fatty acid composition of adipose tissues in beef cattle. J. Anmi. Sci., v. 82, 1419-1427, 2004.

TAYLOR, R.E.; FIELD, T.G. Beef production and management decisions, New Jersey, Prentice Hall, ed. 4, 2005.

YANG, A.; LARSEN, T.W.; SMITH, S.B.; TUME, R.K. Delta 9 desaturase activity in bovine subcutaneos adipose tissue of different fatty acid composition. Lipids, v. 34, p. 971-978, 1999.

0 Comments

  1. catarina lopes disse:

    Boa tarde, André,

    O que achas da utilização de uma gordura by pass rica em ômegas 3 e 6, no Brasil, seria o Megalac-E (alto perfil de ômegas 3 e 6 e alto EE)?

    Uma suplementação de 45 a 70 dias antes do abate poderia trazer benefícios na qualidade da gordura da carne e um ganho de peso?

    Obrigada

  2. André Alves de Souza disse:

    Prezada Catarina,
    O fornecimento de gorduras para bovinos de corte em terminação é sabidamente uma excelente alternativa para aumentos na densidade energática da dieta, já como um “controlador” do perfil de ácidos graxos da gordura da carcaça depende-se de outros fatores como dosagens, tempo de suplementação, tipo de alimentação, quantidade de acabemento, etc. Trabalhamos com 8 diferentes grupos genéticos, saindo do puro Zebu até o Puro Continental ou Britânico, avaliando graus de sangue diferentes, sendo que o perfil de ácidos graxos mais adequado ao consumo humano foram os diferentes graus de sangue britânico. Com a crescente demanda por cortes de melhor qualidade, seja em marmoreio e/ou perfil de ácidos graxos (saúde humana) a nclusão de gorduras à dieta de bovinos é uma excelente ferrramenta nutricional.

    Grande abraço.

  3. Antonio João Lourenço disse:

    Bom dia, André
    Vc tem alguma informação sobre a utilização do oleo vegetal coletado, em processo de reciclagem, (residencial ou de cozinhas industriais) que são filtrado e empregado na confecção de sabonetes em escala industrial, na composição de dieta de bovinos.
    Abraços
    Pqc Lourenço – pesquisador aposentado

  4. André Alves de Souza disse:

    Caro Lourenço,
    É possível a utilizaçãodo óleo vegetal coletado (residencial ou de cozinhas industriais), tomando-se algumas precauções em relação à quantidade de inclusão na dieta e a rancificação, nos casos de misturas de grandes quantidades. Nesses casos deve-se utlizar anti oxidantes. Atualmente com a coleta um pouco mais organizada e dierecionada a produção de sabões, o custo se elevou. Uma alternativa bem parecida seria a utilização da “borra de filtro” do processo de industrialização do óleo de soja, comprada junto as empresas de processamento da soja.

    Forte abraço.

  5. eduardo bueno de camargo disse:

    bom dia doutor André

    qual a restriçao do caroço de algodao/ farelo de açgodão na dieta dos bovinos de corte?
    excluindo aquelas sa conhecidas ex: gossipol

    qual nivel maximo em % na dieta que nao venha prejudicar animais ( femeas ) para reproduçao ? ou nao existe mtrestriçoes para essa categoria de animal

  6. André Alves de Souza disse:

    Prezado Eduardo,
    A inclusão de caroço ou farelo de algodão à dietas de bovinos de corte não apresentam restrições devido a fatores anti nutricionais além do gossipol. Existe uma grande discussão a respeito da alteração de sabor devido a excesso de inclusão de caroço de algodão em dietas de bovinos confinados, porém existe muita divergência de resultados apresentados na literatura. Há possibilidade de alteração no perfil de ácidos graxos da gordura de bovinos devido a inclusão de altos níveis de caroço de algodão, porém a quantidade necessária, bem como o tempo de alimentação para que isso ocorra ainda não estão bem esclarecidos.
    No caso de suplementaçõa de fêmeas, limite para a inclusão seria o tero de gordrua total da dieta que não deve ultrapassar 6% da matéria seca total.

    Forte abraço.

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