A pandemia de coronavírus causou uma dor significativa ao consumidor brasileiro, com o desemprego aumentando e a renda declinando nos próximos meses. Além do choque inicial do período de bloqueio, em que supermercados e farmácias tiveram um bom desempenho, os hábitos dos consumidores devem mudar e se assemelhar a algumas das tendências observadas durante a última recessão em 2015-2016.
Choque inicial e maior impacto à frente
Perdas em serviços de alimentação terão um enorme impacto em alimentos e bebidas em 2020
Com medidas de distanciamento social em vigor em todo o Brasil, o impacto da pandemia no consumo de alimentos e bebidas será muito significativo no primeiro e segundo trimestres e potencialmente terá impactos duradouros nos níveis de consumo, dependendo do aumento do desemprego e da gravidade do problema.
Enquanto o Rabobank espera uma contração no PIB de cerca de 2% para 2020, outras instituições como o Banco Mundial observam uma queda de 5% na produção econômica, o que levaria o tamanho da economia aos níveis de 2010. O Sebrae, uma agência privada que apoia pequenas e médias empresas, informou que até 600.000 pequenas empresas fecharam de forma permanente ou temporária no início de abril, o que pode significar risco de nove milhões de empregos. Em 26 de março, quase todo o país tinha algumas restrições a restaurantes e bares, que permanecem em vigor em meados de abril.
Consumo de Laticínios: Leite líquido e mussarela ganham com quedas de valor agregado
As empresas estão relatando várias mudanças na dinâmica de vendas após três semanas de quarentena. Por exemplo, as empresas de laticínios tiveram um aumento nos produtos básicos, como mussarela e queijos prato e leite UHT, já que os consumidores aumentaram significativamente suas compras de produtos básicos, antecipando as medidas de isolamento social.
As linhas de produtos mais caras, como iogurtes, sobremesas e queijos importados, caíram acentuadamente nas últimas semanas. Isso indica que os consumidores estão sendo mais cuidadosos ao fazer suas compras nos pontos de venda, e isso parece estar acontecendo também em outros setores, à medida que os consumidores passam de marcas e categorias mais caras para produtos básicos e alternativas acessíveis.
Por outro lado, as vendas de produtos para pontos de venda de alimentos caíram entre 70% e 90%, de acordo com empresas entrevistadas pelo Rabobank, já que os restaurantes limitam a maior parte de seus negócios a entregas e limitam seus estoques ao mínimo.
As importações de laticínios caíram 30% até agora em 2020, enquanto as exportações avançaram 16%, em parte como consequência de um dólar mais forte. Um déficit comercial menor ajudará a equilibrar a demanda doméstica mais lenta de produtos lácteos e proporcionará alguma estabilidade ao setor.
Aves domésticas são favorecidas em relação à carne bovina à medida que os consumidores diminuem os gastos
O setor de proteínas animais também enfrenta desafios significativos. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as taxas de abate de bovinos caíram cerca de 50% em março, em comparação com o mesmo mês de 2019. O consumo doméstico está se contraindo em ritmo acelerado e, como consequência, os principais processadores estão fechando algumas de suas plantas temporariamente. As vendas de aves estão com um desempenho melhor que a carne bovina, com os consumidores buscando acessibilidade. As exportações de carne suína para a China não sofreram impactos, o que está ajudando o setor a manter uma produção estável.
Vendas de bebidas foram muito afetadas, diminuindo as vendas de serviços de alimentos
Como esperado, o canal de food service está sofrendo mais durante o período de isolamento social, com as vendas caindo na maioria dos pontos de venda, pois os pedidos obrigatórios para fechar bares e restaurantes continuam em abril. Alguns restaurantes estão vendo um aumento significativo na entrega de alimentos, mas, de acordo com a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), isso representa apenas 6% a 8% da receita dos restaurantes em horários normais.
É provável que esse percentual aumente significativamente durante a pandemia, mas não será suficiente para compensar as vendas perdidas de maneira significativa. De acordo com a Euromonitor, as vendas de food service representaram 69% das vendas de cerveja, 41% das bebidas espirituosas, 37% do consumo de carne, 10% das vendas de laticínios e 20% das vendas de refrigerantes em 2019.
Perspectivas para o consumidor brasileiro em 2020
Fonte: Rabobank, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.