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Grupos pressionam Casino a não comprar carne de áreas desmatadas e griladas

Uma coalizão de grupos ambientalistas e indígenas divulgou um documento pressionando o grupo francês Casino a parar de comprar carne bovina oriunda de áreas identificadas recentemente com desmatamento e grilagem de territórios indígenas, e indicou que pode até buscar compensações na Justiça. 

Em junho, a organização não-governamental francesa Envol Vert publicou uma investigação que identificou quatro fazendas no Brasil envolvidas com desmatamento na Amazônia e no Cerrado que forneceram gado posteriormente abatido e transformado em carne vendida em dez supermercados do Casino no Brasil. 

As quatro fazendas foram responsáveis pelo desmatamento ilegal de 45 mil hectares, convertidos em pastagens. Áreas localizadas em territórios indígenas também foram desmatados, segundo a investigação da ONG. 

A organização também identificou que uma das propriedades, a Fazenda Ellus, em Mato Grosso, forneceu gado em 2018 e 2019 para frigoríficos que depois viraram carne vendida no varejo. 

Na carta ao Casino, a coalizão de organizações ambientalistas e indígenas afirma que se o grupo francês não excluir essas fazendas de sua cadeia de fornecimento em três meses, entrará com uma ação na Justiça francesa. 

Os grupos se amparam em uma lei francesa de 2017, que impõe às empresas o dever de vigilância e obriga os grupos a tomar medidas para evitar que situações de violações dos direitos humanos, do meio ambiente e da saúde e segurança das pessoas estejam ligadas a suas operações ou a sua cadeia de fornecimento. 

A coalizão é formada por Organização Nacional de los Pueblos Indígenas da Amazônia Colombiana (Opiac), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Comissão Pastoral da Terra (CPT), às organizações Mighty Earth, Envol Vert, Notre Affaire à Tous, Sherpa e ao escritório Seattle Advogados. 

Procurado, o GPA, controlado pelo grupo francês Casino, afirmou que desde 2019 exige que os frigoríficos tenham sistemas de geomonitoramento para identificar a situação dos pecuaristas e que fornecedores que não se adequaram foram bloqueados. O GPA não detalhou se as quatro fazendas de pecuária identificadas com desmatamento ilegal e grilagem de terras indígenas foram excluídas de sua cadeia de fornecimento.

 Questionada sobre a pressão de organizações ambientais e indígenas sobre a venda de carne relacionada a desmatamento e grilagem de terras indígenas reportada mais cedo, a empresa afirmou ao Valor, em nota, que “nunca recebeu questionamentos de entidades ou representantes de povos indígenas e, reitera que está totalmente aberto ao diálogo constante com seus stakeholders”. 

A empresa afirmou ainda que sua política socioambiental de compras de carne bovina, criada em 2016, foi atualizada neste ano e publicada ainda neste mês, com a implementação de um protocolo para monitorar a compra de carnes por meio dos fornecedores de carne bovina no Brasil em conjunto com a ONG Imaflora. 

Segue a nota do GPA na íntegra: 

“O GPA está ciente de seu papel como agente transformador da sociedade, tendo a sustentabilidade como um dos pilares estratégicos de seu negócio. O Grupo vem, há anos, promovendo uma atuação e compromisso com o combate ao desmatamento ligado à criação de gado no país, por meio de uma política sistemática e rigorosa de controle da origem da carne bovina entregue por seus fornecedores. 

Desde 2016, o GPA estabeleceu uma Política Socioambiental de Compras de Carne Bovina, que homologa todos os fornecedores nacionais de todos os negócios da companhia, a fim de identificar a origem direta e garantir o cumprimento de critérios socioambientais na produção de carne in natura (resfriada e congelada). São eles: Livre de desmatamento do bioma Amazônico, Livre de condições análogas a trabalho escravo/infantil, Livre de embargos, Livre de invasões de terras indígenas e, Livre de invasões em áreas de conservação ambiental. 

Tal política foi recentemente atualizada (aprovada em julho e publicada em setembro/2020), com a implementação de um rigoroso protocolo para o monitoramento da compra de carnes por meio dos fornecedores de carne bovina no Brasil, processo liderado pela ONG IMAFLORA (projeto “Boi na Linha”). Para acessar a Politica, clique aqui. 

Desde 2019 , todos os frigoríficos fornecedores do GPA possuem sistemas de geomonitoramento para verificar se os pecuaristas diretos estão aderentes aos critérios exigidos em nossa Política Socioambiental. Os fornecedores que se recusaram a implementar um sistema de geomonitoramento foram bloqueado.

O GPA participa ainda de diálogos com representantes da sociedade civil e demais representantes da cadeia de valor para continuar buscando evoluções para o monitoramento da origem da carne, como por exemplo, na fazendas indiretas. 

Cientes dos desafios e riscos, bem como da complexidade dessas cadeias na América do Sul, a companhia continua reforçando suas ações e políticas, em conjunto com todas as partes interessadas em um processo construtivo, para combater o desmatamento e demais danos socioambientais. Adicionalmente, cabe enfatizar, que dentro desse processo de construção conjunta, o GPA nunca recebeu questionamentos de entidades ou representantes de povos indígenas e, reitera que está totalmente aberto ao diálogo constante com seus stakeholders. Além disso, a Política Socioambiental de Compras de Carne Bovina, além de prever como um dos critérios o respeito a terras indígenas, também reforça o compromisso para promover o respeito da Declaração Internacional dos Direitos Humanos, dos direitos e modo de vida dos povos indígenas, comunidades locais e trabalhadores. 

Por fim, o GPA reforça que cumpre integralmente a legislação vigente, bem como está completamente atento às necessidades de seus públicos de relacionamento de forma a identificar e implantar soluções eficazes em larga escala, num contexto complexo que exige uma colaboração construtiva e pacífica para que nossa atuação possa estar em constante evolução e aderente as melhores práticas.” 

Fonte: Valor Econômico.

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