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Grupo de produtores capta R$ 63,6milhões em ‘CRA verde’

Um grupo de sete produtores de grãos do Centro-Oeste captou na semana passada R$ 63,6 milhões com a emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) com o compromisso de não realizar nenhum tipo de desmatamento, mesmo de forma legal, e de recuperar matas ciliares nas áreas de preservação permanente (APP), que são requeridas pelo Código Florestal – além de compromissos produtivos.

A operação financeira, conduzida pela Gaia Securitizadora, foi a primeira com caráter sustentável que ocorreu no mercado de CRA de forma pulverizada, modalidade que reúne mais que um lastro e que se tornou possível após a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2018. O acesso de produtores rurais ao mercado de capitais ainda é baixo, mas tem crescido à medida que a oferta de crédito subsidiado pelo governo diminui.

Os sete produtores comprometeram-se a recompor 2.046 hectares de áreas na proximidade de leitos de rios que hoje estão com degradadas, retornando à vegetação original. E, até o vencimento dos CRAs, em junho de 2025, eles também deverão manter intactos 24.667 hectares, dos quais 2.505 são de matas ciliares no entorno de 387 quilômetros de rios e 141 nascentes. As propriedades envolvidas, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, cobrem 78.452 hectares e produzem soja, milho e algodão.

Há ainda outros compromissos socioambientais com os quais os produtores terão que cumprir, relacionados aos cuidados com o solo, por exemplo. O desempenho de cada produtor será avaliado e resultará em uma nota. Se algum produtor não alcançar a nota requerida, ele poderá ser excluído da operação e pode até pagar multa.

O trabalho de monitoramento caberá à plataforma Produzindo Certo, que presta serviço de assessoria socioambiental a fornecedores de produtos agropecuários de grandes empresas. No caso dos produtores envolvidos na emissão do CRA, que são monitorados e assessorados pela plataforma, serão produzidos relatórios anuais a serem enviados aos investidores.

A prospecção dos produtores para a realização da emissão foi realizada pela Produzindo Certo, que já tem em sua base 1,6 mil proprietários de 6 milhões de hectares em 15 Estados. Alguns produtores envolvidos na emissão, porém, só acessaram a plataforma depois que souberam que a operação seria realizada. “Chamou a atenção pela taxa, que era interessante, pelo prazo, por dar previsibilidade, e a questão da sustentabilidade também ajudou”, disse Aline Locks, CEO da plataforma. Para a executiva, uma emissão verde no mercado de capitais por parte de produtores comuns indica que eles também podem ter práticas socioambientais valorizadas.

A análise de crédito e de risco dos produtores foi feita pela TrAIve, fintech voltada à estruturação, modelagem e distribuição de soluções financeiras inovadoras para o agronegócio. Em nota ao Valor, o CEO da fintech, Fabricio Pezente, disse que a operação pode ser considerada piloto, mas já há interesse de investidores e produtores para novas emissões do tipo.

Para estruturar a operação, a emissão foi dividida em uma cota sênior, que aportou R$ 50,7 milhões, e uma cota subordinada, que aportou R$ 12,7 milhões, ambas a uma taxa pré-fixada de 8%.

O lastro são 17 Cédulas do Produtor Rural (CPRs) emitidas pelos produtores, referentes à produção agrícola – o que também é visto como uma vantagem para os produtores, já que financiamentos bancários costumam exigir garantias reais, como a propriedade, ressaltou Locks. Seguros agrícolas customizados também compuseram a garantia aos investidores.

Para João Paulo Pacifico, sócio fundador da Gaia, a mensuração do desempenho socioambiental foi um elemento “bem relevante” para atrair os aportes. “Os investidores estão em processo de aprendizado” sobre ESG e impacto, disse.

Fonte: Valor Econômico.

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