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Grãos continuam a testar novas máximas

A escalada das tensões entre Rússia e Ucrânia, marcada pela invasão russa ao país vizinho na semana passada e pelas sanções impostas por União Europeia, Estados Unidos e outros países ocidentais a Moscou, continua a motivar novas máximas dos preços dos grãos no mercado internacional, e em fevereiro patamares que não eram observados ao menos desde 2013 foram atingidos.

As cotações, particularmente da soja, já estavam em alta por causa dos prejuízos causados pela seca em lavouras do Sul do Brasil, da Argentina e do Paraguai, e ganharam fôlego extra com o recrudescimento das tensões, tendo em vista que Rússia e Ucrânia têm participações relevantes nos mercado de trigo e milho.

Desses três grãos básicos para a alimentação humana e animal, o trigo foi o que mais subiu ao longo do mês. Segundo cálculos do Valor Data baseados, os contratos futuros de segunda posição de entrega do cereal fecharam fevereiro com alta de 21,9% ante a última cotação do mês anterior. Com isso, esses papéis alcançaram uma média mensal 4,8% superior a de janeiro, a segunda maior desde dezembro de 2012. Com nova valorização no pregão de ontem, os preços chegaram ao maior nível desde 2008.

No mercado de milho, os ganhos ao longo de fevereiro se aproximaram de 11%, e o valor médio do mês, 6,6% superior ao de janeiro, é o maior desde março de 2013. No caso da soja, a valorização do início ao fim do mês passado foi de 10,6%, o que resultou em um valor médio 12,8% maior que o de janeiro – o mais elevado desde setembro de 2012, também puxado pela seca na América do Sul. No Brasil, as perdas agrícolas causados pela seca ultrapassam R$ 70 bilhões.

Ontem houve novas altas em Chicago. O conflito entre Rússia e Ucrânia continua a bater forte em trigo e milho porque, juntos, esses países respondem por quase 30% das exportações globais do primeiro e por pouco menos de 20% dos embarques do segundo. Os beligerantes são pouco relevantes na área de soja, mas o grão sofre influência de trigo e milho e dos óleos vegetais, uma vez que a Ucrânia é grande exportadora de óleo de girassol. O efeito do salto do petróleo sobre biocombustíveis é outro ponto de atenção.

No Leste Europeu, observa a Agroconsult, além de todos os problemas logísticos e financeiros que já cercam o escoamento das colheitas desta safra 2021/22, as atenções estão voltadas a possíveis danos em regiões produtoras de milho e trigo da Ucrânia na temporada 2022/23. Segundo a consultoria, também o plantio da próxima safra de cereais na União Europeia preocupa, por uma eventual falta de mão de obra proveniente do Leste Europeu.

O encarecimento dos insumos em meio ao conflito se soma aos fatores altistas, já que tende a elevar ainda mais os custos de produção em diversos países produtores onde as margens já estão mais estreitas – inclusive no Brasil, que lidera as exportações mundiais de soja e o segundo em embarques de milho, embora seja grande importador de trigo. O país é dependente de fertilizantes importados, e Rússia e Belarus, que também sofre sanções, são exportadores importantes.

Segundo compilação de dados feita pela Agroconsult, de um volume recorde de 39,1 milhões de toneladas de adubos em geral (nitrogenados, fosfatados e potássicos) compradas pelo Brasil no exterior em 2021, 9,2 milhões vieram da Rússia (recorde) e 2,4 milhões, de Belarus. Ou seja, juntos os dois países representaram 30% das importações totais, uma fatia que dificilmente pode ser compensada de um dia para o outro. E, como já informou o Valor, os negócios nesse segmento já se complicaram na cena internacional.

Insumos, petróleo e câmbio estão na base dos fatores que influenciaram as direções de algodão e açúcar na bolsa de Nova York em fevereiro. A alta do petróleo oferece suporte a algodão e açúcar porque tira competitividade dos tecidos sintéticos, por um lado, e torna o etanol mais interessante que o açúcar para usinas do Brasil e da Índia, por outro. As demais “soft commodities” importantes para o país (café, cacau e suco de laranja) sofreram mais com a tendência de aversão ao risco que ganhou força nas bolsas com a escadas das tensões na região do Leste Europeu.

Segundo os cálculos do Valor Data, o algodão, que como as demais “softs” têm na conta, ainda, as projeções para o crescimento da economia global, caiu 3,2% ao longo de fevereiro em Nova York, mas seus contratos de segunda posição de entrega encerraram o mês com valor médio 4,4% maior que o de janeiro, no maior nível desde junho de 2011.

O açúcar caiu 0,6% em fevereiro, e sua média mensal foi 2,3% inferior a de janeiro; o café registrou baixa de 1,1% no mês, mas sua média em fevereiro foi 4,6% maior que a janeiro; o cacau recuou 1,8% no mês passado, mas garantiu uma média mensal 4,1% maior; e o suco de laranja recuou 1,6% em fevereiro e seus contratos de segunda posição ficaram com valor médio 4,6% menor que a do mês anterior, sempre conforme o cálculos do Valor Data.

Fonte: Valor Econômico.

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