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Grão de milho ensilado em dietas de alto concentrado para bovinos

Dante Pazzaneze Lanna1 e Alexandre Berndt 2

Normalmente o grão de milho é colhido com cerca de 20% de matéria seca e armazenado em silos após a secagem para que cheguem ao teor de umidade de 13-14%. Este é um processo difícil, com perdas no campo, perdas no transporte, custos de secagem, etc.

Alternativamente, é possível fazer a colheita do grão de milho quando este apresenta por volta de 30-32% de umidade. O alimento produzido é normalmente chamado de grão de alta umidade, ou silagem de grão de alta umidade, uma vez que após a colheita este grão é ensilado.

A utilização do grão de alta umidade na nutrição animal apresenta algumas vantagens agronômicas, tais como: minimização das perdas na colheita, liberação antecipada da área, redução dos custos e tempo gasto com o processo de secagem, entre outras.

Além disto a ensilagem de grãos de milho aumenta a eficiência de conversão alimentar. Experimentos demonstram diminuição no consumo de alimentos e ganhos equivalentes na utilização do milho úmido em relação ao milho seco, com conseqüente melhora da eficiência alimentar. Este tipo de resposta é esperado sempre que o animal já estiver maximizado a sua capacidade de ganho. Revisões apontam melhoras na eficiência alimentar entre 9 e 25%, principalmente com redução de consumo, algo teoricamente consistente quando se aumenta a digestibilidade de uma dieta de alta energia.

Quando o milho seco é substituído pelo milho úmido, em dietas mistas (teor de concentrado próximo a 40%) uma melhora de cerca de 10% na taxa de ganho tem sido observada.

Um experimento recentemente concluído, conduzido em colaboração por pesquisadores da FZEA, IZ e ESALQ utilizou 28 tourinhos Santa Gertrudis, com idade média de 10 meses e peso inicial de 245 kg. Testaram-se os seguintes tratamentos: silagem de milho + milho úmido (Si-MU); silagem de milho + milho seco (Si-MS); bagaço cru + milho úmido (Ba-MU); e bagaço cru + milho seco (Ba-MS). As dietas foram balanceadas segundo o modelo CNCPS (Cornell Net Carbohydrate and Protein System) e continham 88% de concentrado e 12% de volumoso (12% de bagaço ou 20% de silagem de planta de milho com 40% de grãos).

Para ganho de peso, conversão alimentar, rendimento e peso de carcaça (tabela 1) não houve interação significativa entre o tipo de volumoso e o tipo de processamento do milho (Henrique et al., 1999).

Entretanto os resultados demonstram claramente o efeito altamente significativo do volumoso. O bagaço de cana in natura representava 12% da matéria seca da dieta, enquanto a silagem de planta inteira de milho foi utilizada como 20% da matéria seca (silagem esta com 40% de grãos e portanto 60% de contribuição como volumoso). Apesar das dietas terem a mesma proporção de grãos o desempenho foi significativamente melhor para a silagem de planta inteira de milho, com necessidade de 10% menos alimento por kg de ganho de peso.

Com relação ao tipo de milho observou-se também que a conversão alimentar era piorada da ordem de 8-10% quando se utilizou o milho tradicional (seco até 14% de umidade) ao invés de utilizar o milho de alta umidade ensilado.

Tabela 1: Eficiência alimentar, peso da carcaça quente e rendimento de carcaça de tourinhos Santa Gertrudis (Henrique et al., 1999).

Os resultados de composição química corporal e taxas de deposição de constituintes químicos corporais estão apresentados na tabela 2. Estes resultados podem ser utilizados para estimativa das exigências líquidas de energia e proteína para crescimento nas condições deste experimento para animais Santa Gertrudes.

Tabela 2: Composição química corporal e taxas de deposição dos constituintes químicos corporais de tourinhos Santa Gertrudis (Berndt et al., 1999).

Um aspecto importante deste experimento é demonstrar que o bagaço in natura pode ser utilizado como único volumoso em dietas de alto concentrado, embora o desempenho seja significativamente inferior ao obtido com a silagem de planta inteira de milho.

Bulle (2000) avaliando tourinhos cruzados alimentados com dietas de alto teor de concentrado e diferentes níveis de inclusão de bagaço de cana in natura como única fonte de volumoso, observou que houve tendência a maiores taxas de ganho de peso vazio e maior percentagem de extrato etéreo na composição do ganho em dietas com 15% de bagaço in natura , em relação à 9 e 20%.

Trabalhos em andamento no confinamento coordenado pelo Prof. Paulo Leme na FZEA em Pirassununga têm procurado avaliar o bagaço de cana in natura em dietas de alto concentrado para animais Nelore.

Em resumo acreditamos que o milho úmido representa uma tecnologia que terá grande utilidade para aumentar significativamente a eficiência tanto agronômica quanto de conversão de alimentos. O resultado mais óbvio será a importante redução nos custos de produção em confinamento. A redução nos custos relativos da energia digestível proveniente de grãos faz necessário o desenvolvimento de tecnologias e alternativas para uso de dietas com alta proporção de concentrados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HENRIQUE, W.; LEME, P.R.; LANNA, D.P.D. et al. Equações para estimativa da composição química corporal de bovinos Santa Gertrudis a partir do corte da 9-10-11a costelas. In: REUNIÃO DA SBZ, 36, Porto Alegre, 1999. Anais… Porto Alegre:SBZ, 1999.

BERNDT, A.; LANNA, D.P.D.; LEME,P.R. et al. Milho úmido, bagaço de cana e silagem de milho em dietas de alto concentrado 2. Composição corporal e taxas de deposição dos tecidos. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36, Porto Alegre, 1999. Anais… Porto Alegre:SBZ, 1999.

BULLE, M.L.M. Desempenho, composição corporal e exigências líquidas de energia e proteína de tourinhos de dois tipos genéticos alimentados com dietas de alto teor de concentrado. Piracicaba, SP: ESALQ, 2000. 50p. Dissertação (Mestrado em Produção Animal) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/ Universidade de São Paulo, 2000.

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1. Prof. Dr. Dep. Produção Animal, ESALQ/USP
2. Mestrando, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP

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