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‘Grandes empresas serão vitais para o financiamento do agro’

Em um cenário de progressivo esgotamento do crédito rural oficial no país, as grandes empresas terão papel fundamental no futuro do financiamento da agro no Brasil, especialmente por meio de iniciativas ligadas à sustentabilidade. A avaliação é da sócia da Mauá Capital, Carolina da Costa, que participou ontem da Live do Valor, que esta semana tem uma programação toda dedicada ao setor, desenvolvida em parceria com a revista Globo Rural.

“Estamos em um cenário de arrefecimento do crédito rural a juros controlados e vai continuar assim. Isso gera oportunidades, com o surgimento de outras fontes que podem ajudar nessa expansão do agronegócio e com uma agenda importante de sustentabilidade”, disse ela.

Entre outras novidades, a sócia da Mauá enxerga dois grandes potenciais para o futuro do crédito rural no país: os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e os “blended finance”, que são financiamentos de negócios de impacto social, como podem ser os projetos de intensificação sustentável – os sistemas de integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta, por exemplo.

Carolina ressaltou que, para que esses financiamentos de impacto social avancem, será necessário que as companhias tenham uma visão regionalizada da atividade e um olhar dedicado aos pequenos produtores.

“Os pequenos não querem apenas recursos financeiros, querem saber como usar. O desafio é trabalhar modelos que não são apenas o crédito em si, mas também acordos comerciais… Alguma forma de essas empresas ajudarem seus fornecedores, que esse recurso tenha um propósito, uma agenda social”.

A especialista disse que o potencial de mercado é grande e citou um estudo recente da Innovative Finance for the Amazon, Cerrado and Chaco (IFACC) segundo o qual há uma oportunidade de US$ 30 bilhões para bancos, empresas e investidores protegerem esses biomas por meio de iniciativas que trabalhem o aumento da produtividade nessas regiões.

“As empresas precisam desenvolver as cadeias de blended finance para incentivar o produtor a tomar esse crédito. Mudar o manejo custa, e é preciso existir recursos acessíveis e assistência técnica. E para as companhias é importante, pois traz rastreabilidade e selo de qualidade para suas matérias-primas”, reforçou.

Se os blended finance trabalham com a ideia de ajudar o pequeno e médio agricultor, a sócia da Mauá Capital vê nos Fiagro uma possibilidade de expandir o financiamento da agricultura empresarial.

Embora em 2021 os fundos tenham decepcionado – a expectativa do mercado é capturar cerca R$ 800 milhões neste ano, ante uma previsão inicial de R$ 3 bilhões -, muito em função de incertezas em torno da taxa básica de juros (Selic), ela acredita que o mercado ainda não encontrou a melhor formatação para atrair investidores.

“Os Fiagro ainda estão muito ligados a ativos imobiliários, o que deve evoluir. Quem foi atrás de modelos de CDI e trabalha com direitos creditórios, por exemplo, teve melhor desempenho. Os FIDC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios] podem ser os grandes protagonistas dos Fiagro e ser uma fonte interessante de captação por sua isenção tributária”, disse Carolina.

Outro caminho pode vir dos chamados títulos “verdes”, como o Sustainability-Linked Bond (SLB), que são financiamentos atrelados a metas ambientais. A SLC Agrícola, uma das maiores empresas de produção de grãos e fibras no país, obteve em junho um SLB de R$ 200 milhões junto ao Rabobank.

“A agricultura empresarial tem chance de conciliar o acesso a recursos com a agenda verde – não com as mesmas taxas [controladas], mas em boas condições. Cabe aos financiadores, que têm o dinheiro com esse carimbo verde, desenharem programas de crédito com esse contorno”, avaliou Carolina. Para isso, a Mauá Capital vem conversando com parceiros para desenvolver linhas destinadas ao agronegócio, com foco especial nos blended finance.

“A Mauá tem trabalhado essa agenda com grandes empresas, buscando formas de criar linhas acessíveis e trabalhar a intensificação sustentável. Para as empresas é interessante, pois traz responsabilidade aos seus fornecedores, mas é uma agenda de médio a longo prazo”, disse.

Fonte: Valor Econômico.

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