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Governo descarta afetar pecuária para reduzir emissões

O Brasil descarta participar de qualquer iniciativa global para a redução de emissões de metano durante a CoP 26, que acontece em novembro em Glasgow, segundo apurou o Valor. Isso porque afetaria diretamente a produção agropecuária do país. A flatulência dos bois é responsável por boa parte da liberação mundial de metano, um dos principais gases causadores do efeito estufa. 

Interlocutores da União Europeia e dos Estados Unidos têm insistido em um compromisso de corte de pelo menos 30% nas emissões desse tipo até 2030 em relação aos níveis de 2020. 

O governo brasileiro, no entanto, não vê vantagens na medida. O país tem o maior rebanho comercial do mundo, com mais de 210 milhões de cabeças de gado. O país é também o maior exportador mundial de carne bovina. Em 2020, o Brasil exportou 2 milhões de toneladas da commodity, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O negócio rendeu US$ 8,505 bilhões ao setor. 

O Brasil tem uma política de redução de emissão de metano que está incluída na sua Contribuição Nacionalmente Determinada (iNDC), um compromisso voluntário firmado pelos países no âmbito do Acordo de Paris para a redução de emissões. Mas não pretende “singularizar” o metano em um documento em separado. 

Na visão dos negociadores brasileiros, seria mais afetivo do ponto de vista dos interesses nacionais atacar o problema do desmatamento, que produz o dióxido de carbono. 

“Nós temos um setor agropecuário que é emissor de metano, não resta a menor dúvida. Mas, se conseguirmos conter as emissões de outros gases, nós já teremos cumprido as nossas metas de emissão”, diz uma fonte do governo brasileiro. “É uma escolha que nós fizemos e não vejo por que nós devamos aderir a essa declaração sobre o metano. Não é do nosso interesse.

Na visão do Brasil, o “custo de oportunidade” de firmar um compromisso para reduzir a emissão de metano é menor para europeus e americanos do que para o Brasil para outros países. 

O assunto está no centro de uma grande discussão interna nos Estados Unidos sobre o futuro da indústria de xisto, que extrai combustíveis líquidos e gasosos do subsolo. O metano é também um subproduto desse processo e vem sendo liberado na atmosfera. 

Entretanto, já desde o governo Barack Obama (2009-2017), as indústrias do setor vêm sendo cobradas a capturar o gás, que, se reaproveitado, pode ser aproveitado comercialmente. 

Depois de um período de ataque às regulações ambientais durante a gestão Donald Trump (2017-2021), a ideia voltou com força após a eleição do democrata Joe Biden, no ano passado. 

A ideia de criar um mecanismo para reduzir a emissão de metano partiu de John Kerry, enviado especial para o Clima dos Estados Unidos. E ganhou rapidamente a adesão dos europeus. 

Na visão de alguns interlocutores de Brasília, a iniciativa de colocar isso à mesa em Glasgow trata-se de uma “jogada de marketing” para o público interno. Isso porque, como a ideia acarretará um aumento de custos com possíveis demissões em alguns setores, há o desejo de transferir esses custos também para outros países. 

Nos bastidores, porém, diplomatas brasileiros já alertaram americanos e europeus que não pretendem levar a ideia adiante. 

Da perspectiva do Brasil, há interesse em cumprir a NDC e reduzir de outras maneiras as emissões. O grosso dos cortes deve corresponder ao desmatamento. No caso do metano, isso pode ser feito com uma política para os lixões e com a melhora no saneamento básico, por exemplo.

Internamente, a tentativa de americanos e europeus de tentar fazer uma declaração sobre a emissão de metano é motivo de ironia em Brasília. 

“Nós gostaríamos muito que a UE e os EUA pudessem se unir a uma declaração sobre redução de dióxido de carbono, mas nós temos quase certeza de que o apelo não seria grande em Bruxelas e Washington”, diz uma fonte, lembrando que as emissões do setor de aviação estão excluídas da iNDC do Reino Unido

Fonte: Valor Econômico.

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