A empresa de origem argentina GDM, que tem sede institucional em Londrina (PR) e atua em melhoramento genético de soja, obteve aprovação no Brasil para a primeira variedade da oleaginosa desenvolvida por meio de edição gênica. A semente tem menos açúcares (rafinose e estaquiose), que prejudicam a digestão em organismos monogástricos como os de humanos, aves e suínos.
Em março, o projeto recebeu sinal verde da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), quando a semente foi classificada como livre de organismos geneticamente modificados (OGM), o que atesta que ela não é um transgênico. “A planta tem alteração que se assemelha a uma mutação natural, por isso é classificada como livre de OGM”, disse André Beló, gerente de novas tecnologias da GDM, ao Valor.
Ele explica que a edição gênica “acelera” mutações que ocorreriam na planta na natureza. No organismo geneticamente modificado, a alteração depende, necessariamente, de engenharia genética – por meio da qual ocorre a inserção de gene de um outro organismo doador a uma determinada planta. O Brasil, afirma Beló, tem uma legislação que regulamenta técnicas de edição gênica e permite as diferenças de classificação.
A pesquisa para desenvolver a variedade levou três anos. Agora, após a classificação que a CTNBio deu à semente, a companhia prepara os próximos passos do projeto: a realização dos testes finais a campo e a multiplicação da variedade. A meta da GDM é levar a nova soja ao mercado a partir de 2025. Com faturamento de R$ 1,3 bilhão no ano passado, 130% mais que em 2020, a empresa destina ao menos 20% de sua receita anual para pesquisas e desenvolvimento.
A companhia, que concorre com gigantes como a alemã Bayer e a americana Corteva, acredita que a nova soja é um passo relevante em melhoramento genético vegetal. “Todas as empresas [que atuam na área] certamente estão trabalhando com edição gênica, mas saímos na frente”, disse Júlio César Poletto, líder de negócios da GDM.
Segundo Poletto, a edição gênica abre uma porta importante de oportunidades para a companhia, já que é uma ferramenta que ajuda a otimizar características distintas de “modo natural”. Como um vegetal “editado” envolve menos processos burocráticos, como os de regulamentação, ele pode chegar mais rapidamente ao mercado do que o transgênico, afirma o executivo.
A GDM não informa qual é o potencial de ganhos com as vendas da nova variedade. A soja desenvolvida por edição gênica tem redução de 75% de rafinose e de 50% de estaquiose, características que contribuem para melhor digestão e ganho de peso animal. Com um público mais específico de compradores em mente, a companhia quer desenvolver um novo modelo de vendas. “Os parceiros não serão apenas os tradicionais sementeiros”, disse Poletto. “Podem entrar nessa lista, por exemplo, grandes indústrias de alimentação”.
Evidentemente, como a maior parte das empresas de alimentos não cultivam grãos, os sementeiros deverão integrar o modelo de vendas que está em estudos. “O ponto nisso é abrir a possibilidade de termos parceiros diferentes no negócio”, continua. Poletto chama o modelo em desenvolvimento de venda “em circuito fechado”, em que o parceiro direto (de cultivo de sementes) produzirá para atender um comprador já interessado.
Fonte: Valor Econômico.