Mercados Futuros – 18/05/07
18 de maio de 2007
Formulação exclusiva pode render até R$ 35,00 a mais por animal
22 de maio de 2007

Gastroenterite verminótica em bovinos (parte I)

Entre os fatores que interferem no desenvolvimento da pecuária bovina, as helmintoses gastrintestinais ocupam grande destaque, por causarem elevadas perdas econômicas, principalmente pela baixa produtividade dos rebanhos de corte e de leite. A prevalência destas infecções varia segundo a região, devido a fatores como clima, idade, raça, tipo de exploração econômica, manejo, pastagens, tipo de criação e período do ano.

Entre os fatores que interferem no desenvolvimento da pecuária bovina, as helmintoses gastrintestinais ocupam grande destaque, por causarem elevadas perdas econômicas, principalmente pela baixa produtividade dos rebanhos de corte e de leite, retardamento no desenvolvimento dos animais, principalmente no que diz respeito a sua entrada na idade reprodutiva, morte e gastos excessivos com o manejo, além de predisposição dos animais a outras infecções, pela queda da resistência orgânica (Lima, 1994).

Apesar do grande número de espécies de helmintos encontrado no Brasil, os parasitos que apresentam maior importância econômica são os nematódeos ou vermes redondos, por provocarem alta morbidade e mortalidade.

A prevalência destas infecções varia segundo a região, devido a fatores como clima, idade, raça, tipo de exploração econômica (gado de leite, corte ou misto), manejo, pastagens, tipo de criação (intensiva ou extensiva) e período do ano. No entanto, em geral, os helmintos gastrointestinais de ruminantes mais prevalentes no Brasil são dos gêneros: Haemonchus, Cooperia, Oesophagostomum, Trichostrongylus, Bunostomum, Strongyloides, Trichuris e Toxocara (Guimarães et al., 1983).

Sintomatologia

Nas infecções naturais no campo, as infecções destas espécies mais prevalentes ocorrem sempre em conjunto. Praticamente não existe nenhuma propriedade em que ocorra apenas uma única espécie de helminto no rebanho. Muitas destas espécies, por si só, não causam muitos danos ao hospedeiro, mas em conjunto, ocasionam sérios danos aos hospedeiros, na maioria das vezes de forma insidiosa ou subclínica.

Embora todo o rebanho esteja infectado, apenas uma minoria do rebanho é que vai apresentar os sintomas clínicos da verminose. Estes sintomas geralmente são: emagrecimento progressivo a caquexia, alterações de pelagem que tornam-se sem brilho e pelos longos, desidratação, diarréia (melena) ou não, aumento do abdome pelo edema das mucosas gastro-intestinais, ranger de dentes batimento dos pés no chão como manifestação de dor abdominal, adema de papeira como resultado de hipoproteinemia, e anemia.

Epidemiologia

No estudo da epidemiologia das gastroenterites verminóticas de ruminantes é de essencial importância o conhecimento da dinâmica das parasitoses para que se obtenha sucesso nos programas de controle. As estratégias de controle são baseadas em tratamentos antihelmínticos, no entanto, a adoção concomitante de medidas de manejo relacionadas a epidemiologia das parasitoses são imprescindíveis ao sucesso dos programas.

Agente

Um dos fatores mais importantes na epidemiologia das helmintoses é o conhecimento do agente, já que a maioria da população de parasitos (95%) está presente no ambiente estando apenas 5% em parasitose. Isto indica que o tratamento de uma população de hospedeiros, está atingindo apenas 5% da população de parasitos presentes. Considerando esse aspecto destaca-se a importância de um tratamento racional que surta efeito sobre a população de vida livre.

Sendo os períodos pré-patentes destes helmintos relativamente curtos, os índices de reinfecções são quase imediatos pós-tratamento, uma vez que a maioria dos tratamentos anti-helmínticos são apenas curativos ou com curto efeito preventivo.

Uma outra característica do agente que deve ser avaliada a capacidade de algumas espécies de permanecer sem atividade (hipobiose) no hospedeiro em certas épocas do ano, sendo menos vulneráveis ao tratamento anti-helmíntico, um fator importante como mantenedor da infecção no rebanho. Esta hipobiose ocorre principalmente com a Ostertagia no sul do Brasil, provavelmente nas regiões mais frias, mas também com outras espécies como Haemonchus e Oesophagostomum, no inverno. A hipobiose também pode ser induzida por fatores ligados à resistência do hospedeiro. As condições essenciais para ocorrência desse fator é a presença de chuvas no inverno, pois as chuvas dissolvem os bolos fecais e permitem a migração dessas larvas para o capim, como ocorre na região sul (Lima et al., 1994).

Manejo

As larvas L3 nas pastagens têm baixa dispersão, sendo a migração horizontal máxima de 1 metro e a maioria das larvas sobem até cerca de 20 cm. Com isso manejo de pastagens em alturas maiores tende a diminuir a translação, além de disponibilizar uma maior quantidade de matéria seca nos pastos para os animais e evitar pragas de pastagens como a cigarrinha. O manejo adequado do pasto é essencial para manter os animais melhores nutridos e garantir uma melhor resposta imunológica melhor às verminoses.

O horário do dia em que os animais ingerem a maior quantidade de larvas nas pastagens é no amanhecer, quando as pastagens estão recobertas de orvalho, proporcionando a migração das larvas para cima das pastagens. Á medida em que o dia vai esquentando, as larvas descem para a base das pastagens e não morrerem dessecadas pelo calor.

Durante o período seco, a translação diminui substancialmente, dado as condições do meio ambiente que prejudica a sobrevivência das larvas na pastagem. O desenvolvimento de ovos até L3 também fica comprometido, pois como não há chuvas, os bolos fecais nas pastagens não são dissolvidos no solo, e os ovos presentes no interior do bolo não se desenvolvem na ausência de oxigênio (o pisoteio dos bolos fecais também é um importante fator para espalhar as fezes no pasto). Entretanto, estes ovos no interior do bolo fecal se preservam, as larvas L3 podem sobreviver penetrando no solo para conseguir umidade e contribuem para o “spring rise”, onde no início das chuvas ocorre um surto de diarréias chamadas diarréias das aguadas (Guimarães et al., 1983).

Os cochos de alimentação no pasto não devem ser construídos em áreas baixas, pois o acúmulo de umidade no solo em volta dos cochos pode ser grande nestas áreas, principalmente nas épocas de chuvas, favorecendo a população de vida livre em volta dessas áreas mais frequentadas pelos animais.

Hospedeiro

Quando se observa o hospedeiro como participante desse conjunto epidemiológico, deve-se ressaltar que 10% dos animais de um rebanho detêm cerca de 50% dos vermes que estão em parasitose. O restante da população de parasitos está distribuído nos 90% restantes da população. Deste modo, estes 10% acabam sendo aqueles animais considerados inferiores na escala hierárquica do rebanho. Com isso a parasitose nestes animais é agravada pelo fato desses animais terem acesso aos restos da alimentação daqueles animais que estão acima na escala hierárquica do rebanho. Esse comportamento pode ser evidenciado tanto a pasto como em estábulos (Bianchin & Melo, 1985).

No que diz respeito às raças, os animais Bos taurus indicus parecem ser mais resistentes que B. taurus taurus. O estado nutricional do rebanho também está diretamente relacionado à presença de verminoses, uma vez que, animais mal nutridos respondem imunologicamente pior às parasitoses.

Quanto à idade, bovinos até 24 meses são mais prejudicados pela verminose, pois as respostas imunológicas contra verminoses começam a se tornar realmente efetivas a partir de 2 anos. Portanto essa categoria é a prioridade em um programa de controle de verminoses.

Em circunstâncias de parto, ocorrem mudanças hormonais nas fêmeas, de modo que estas passam a eliminar maiores quantidades de ovos de helmintos nas fezes. Deste modo, estas fêmeas passam a ser importante fonte de contaminação das pastagens.

Ambiente

A topografia é um aspecto ambiental bastante importante na epidemiologia dessas gastroenterites. As áreas mais baixas, por exemplo, pela sua umidade, apresentam melhores condições de sobrevivência e migração de larvas de helmintos.

As condições climáticas do Brasil permitem a translação parasitária durante todo o ano. No Brasil Central, as estações de primavera e verão são mais favoráveis a fase não parasitária do parasito, pela alta umidade relativa, tornando a translação nesta época bem mais alta. Nas épocas secas, o desenvolvimento de populações de vida livre diminui substancialmente, ou pelas condições hostis do ambiente (a larva morre dessecada) ou pela não capacidade larval de migrar do bolo fecal para as pastagens. Deste modo o maior limitante climático das verminoses nessa região é a umidade, ao passo que no sul do país, onde as chuvas estão regularmente distribuídas ao longo do ano, o maior limitante climático ao longo do ano é a temperatura, já que certos gêneros cessam ou retardam muito o desenvolvimento em temperaturas muito baixas. A temperatura é importante também no sentido de induzir o fenômeno de hipobiose, atuante como mantenedor das populações de parasitos nestas regiões (Lima, 1994).

A estrongiloidose em bezerros, em algumas regiões, apresenta-se como sério problema em bezerros criados em pastos ou piquetes muito úmidos nas épocas de chuva. Às vezes o alto grau de contaminação destas pastagens pode ser evidenciado através de visualização de bezerros sacudindo os pés, como resposta a irritação provocada pelas larvas penetrando percutaneamente. Esta parasitose parece predispor os bezerros às diarréias por bactérias como Salmonella sp, comum em bezerros novos. Em algumas regiões essas diarréias só se curam pela associação de um tratamento anti-helmíntico.

No que diz respeito às chuvas, deve-se ressaltar a presença de uma maior população de moscas, incrementando a translação daqueles helmintos que dependem de moscas e outros fatores peculiares das moscas que também interferem na produtividadade. Embora na época de chuvas haja uma grande população de larvas na pastagem, chuvas muito fortes e intensas podem diminuir a população de larvas da pastagem, pois lavam as pastagens e as larvas são carregadas nas enchorradas.

O cultivo de pastagens como braquiárias favorecem as populações de parasitos pois além de suportarem maiores densidades animais, cobrem o solo bem, mantendo um microclima para o parasito, principalmente em épocas secas (Guimarães, 1983).

Referências Bibliográficas:

BIANCHIN, I.; MELO, H.J.H. Epidemiologia e controle de helmintos gastrintestinais em bovinos de corte nos cerrados. 2.ed. Campo Grande : EMBRAPA-CNPGC, 1985. 60p. (EMBRAPA-CNPGC. Circular Técnica, 16).

GUIMARÃES, M.P.; LIMA, W.S.; LEITE, A.C.R. & COSTA, J.O. Gastro intestinal nemathode infections in beef in the savannah region (cerrado) on Brazil. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot., v.35, n. 6, p. 845-851, 1983.

LIMA, W.S. Verminose dos bovinos de corte no Brasil. Bom Manejo, v. 3, p. 5-7, 1994.

1Mestre em Medicina Veterinária Preventiva e doutoranda em patologia veterinária – Escola de Veterinária/UFMG.

0 Comments

  1. Afranio dos Santos Filho disse:

    Este é o tipo de matéria interessante ao produtor. Parabéns. Continue assim.

  2. Jorge Luis Fensterseifer disse:

    Parabenizo ao BeefPoint por disponibilizar informações técnicas importantes e atualizadoras para nós profissionais que estamos trabalhando longe dos centros de pesquisa e nem sempre temos condições de participar de eventos técnicos e de reciclagem. Continuem assim, parabéns a equipe do Beefpoint.

  3. Luiz Alfredo Fontes de Salles Graça disse:

    Excelente artigo, congratulações!

plugins premium WordPress