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Gabriel Mello Souza Fernandes: na pecuária, precisamos tirar de nosso vocabulário a expressão “faço isso porque meu pai fazia”

No dia 5 de abril, foi realizado o Beef Summit Sul, em Porto Alegre – RS. O evento foi organizado pelo BeefPoint, em parceria com a Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB). O Beef Summit Sul reuniu nomes de sucesso do agronegócio para discutir e debater os rumos da pecuária de corte no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

No dia do evento, o BeefPoint homenageou as pessoas que fazem a diferença na pecuária de corte no Sul do Brasil através de um prêmio. Houve vários finalistas, em 19 categorias diferentes.

Os nomes foram indicados pelo público; em uma primeira etapa, através de um formulário divulgado pelo BeefPoint. Na segunda etapa, o público escolheu através de votação, o vencedor de cada categoria. Para conhecer melhor essas pessoas, o BeefPoint preparou uma entrevista com cada um deles.

Confira abaixo, a entrevista com Gabriel Mello Souza Fernandes, um dos ganhadores do Prêmio BeefPoint Edição Sul na categoria Produtor nova geração.

Gabriel Fernandes

Gabriel Mello Souza Fernandes mora em Pelotas-RS. É administrador de empresas e pós-graduado em Gestão. Iniciou sua carreira profissional nas empresas Josapar, Ambev e Embratel, trabalhando na área comercial. Em 2010 foi convidado por seu pai e seus irmãos Junior e André a gerenciar junto com seu pai a Estância Santa Maria (condomínio familiar) em Pedras Altas-RS, tentando fazer algo diferente, buscando sempre o melhor retorno sobre o capital investido para o negócio.

BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de corte do sul do Brasil hoje?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Penso que são dois os maiores desafios: o primeiro, aumentar a produção; o segundo, o oligopólio por parte das indústrias frigoríficas. A pecuária é uma commodity, o que tende a ter uma baixa rentabilidade, faltando então agregar valor aos produtos produzidos.

BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro no sul do Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Penso que temos inúmeros produtores de ponta em nosso estado, mas minha admiração é pela prata da casa, tenho meu pai Sergio Fernandes como exemplo de produtor, busco nele a inspiração diária em sempre buscar mais, otimizando ao máximo os recursos e investindo o que for preciso para produzir de maneira sustentável, o que constitui a missão de nossa empresa: sustentação econômica, social e ambiental.

BeefPoint: Como podemos vender a carne do sul do Brasil de forma diferente e especial, em outras regiões do Brasil e no exterior?

Gabriel Mello Souza Fernandes: O Rio Grande do Sul é pouco reconhecido a nível mundial. Quando se fala em Brasil o mundo pensa que aqui só se produz Nelore. Poucos mercados sabem que produzimos animais britânicos e aí esta a nossa saída, temos de nos diferenciar do resto do Brasil, produzindo carne britânica padronizada e de alta qualidade, para os mercados que pagam mais, ou seja, tentar transformar a nossa commodity em um produto de alto valor agregado.

BeefPoint: Qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Na Estância Santa Maria, localizada no município de Pedras Altas-RS, estamos tentando inovar para buscar maior rentabilidade. Estamos trabalhando com duas novidades, pelo menos para o Sul do Brasil, são elas: irrigação por asperação via pivô central para pecuária de corte e a criação de cordeiros através do gene booroola (ovelha produz no mínimo dois cordeiros por parto), o que duplica a produção habitual.

BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar sua competitividade no sul do Brasil?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Produzir alimentação para os rebanhos, buscar parcerias reais com os fornecedores, agregar valor aos produtos, ter escala, cada um fazer uma parte do processo produtivo buscando a especialização.

BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua atividade em 2012?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Quando rodamos o orçamento e observamos que com a recria e terminação de novilhos o resultado do nosso negócio seria medíocre em 2012, buscamos a alternativa em um projeto novo de ovinocultura, o que já no ano de 2012 transformou nossa lucratividade em algo sustentável e rentável, pois nosso ano seria regular e atingimos um resultado muito bom, superando a nossa expectativa.

BeefPoint: O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Estávamos comprando terneiros/bezerros a R$ 4,00/kg à vista, fizemos um preço médio de venda na venda de bois de R$ 3,27/kg vendido à vista, ou seja, estamos pagando um ágio de R$ 0,73/kg comprado o que diminui muito a rentabilidade do negócio. Então partimos para vender cordeiros, comprando uma ovelha por R$ 220,00 e em 12 meses vendendo um cordeiro por R$ 200,00 (R$ 4,77/kg vivo). Ainda fica a produção da lã, que deixou um resultado de 7% sobre o valor da ovelha e a ovelha que está no campo prenha.

BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013? E porque?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Pretendemos aumentar a nossa área de irrigação, pois a seca ocasiona perda de produção. Pensamos que embora o custo de implantação seja alto, podemos investir a juros que a pecuária pode pagar e assim conseguir alavancar o negócio e garantir a produção.

Pretendemos também ampliar a produção de partos múltiplos nas ovelhas, buscando índices de 170%, o que já existe em países como Austrália e Nova Zelândia.

BeefPoint: Qual sua mensagem para os pecuaristas?

Gabriel Mello Souza Fernandes: Homens e mulheres trabalhadores(as), que não medem esforços para fazer de suas vidas seu negócio. Acredito, como pecuarista, que temos de ter cuidado ao fazer pecuária. É imprescindível a gestão, o planejamento e a estratégia. Tirando de nosso vocabulário a expressão “Faço isso porque meu pai fazia”. Temos que pensar o que fariam nossos antepassados hoje e não fazer hoje o que então fizeram sem escutar a época.

BeefPoint: Qual sua mensagem para a industria frigorífica e varejo?

Gabriel Mello Souza Fernandes: A indústria frigorífica, embora seja capitalista, deve tomar cuidado com a “galinha dos ovos de ouro”, pois se não pensar em sustentabilidade a longo prazo, os produtores vão se tornar agricultores e faltará a matéria-prima para a produção destas empresas e elas sucumbirão.

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1 Comment

  1. Cecilia Gabriela Rubert Possenti disse:

    É comum ouvir essa expressão na pecuária “Faço isso porque meu pai fazia”. Esse setor ainda caminha devagar com as tecnologias existentes. É preciso um incentivo maior para a cria de animais selecionados que acabam tendo maior valor de mercado, clima propício e áreas disponíveis temos para essa finalidade. O sistema de criação em campo nativo também precisa ser revisto, pois atuando dessa forma tradicional, não conseguiremos ser competitivos. A bovinocultura de corte esta se exinguindo em algumas regiões do estado, pois a cultura da soja está se disseminando nessas regiões, oferendo vantagens de retorno a curto prazo.
    É preciso mudar nos sistemas de criação.

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