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Frigoríficos fecharam 44 plantas no país no ano

A rápida deterioração das margens brutas dos frigoríficos, espremidas pela combinação entre uma severa escassez de bois para abate e o enfraquecimento da demanda no Brasil e no exterior, levou a indústria de carne bovina a fazer cortes profundos no primeiro semestre. Com o intuito de estancar perdas e ajustar a capacidade à oferta de matéria-prima, empresas do segmento paralisaram mais de 40 frigoríficos e demitiram milhares de trabalhadores, ampliando ainda mais a concentração no segmento.

De acordo com levantamento da consultoria Agrifatto, 44 plantas já deixaram de abater bovinos no país neste ano. A maior parte dessas unidades é de médio e grande porte e fiscalizada pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). Segundo Lygia Pimentel, diretora da empresa, os números, que incluem tanto paralisações definitivas quanto temporárias, são ainda mais “assustadores” quando se leva em consideração a magnitude da redução da capacidade instalada de abate no Brasil, país que abriga o maior rebanho comercial de bovinos do mundo.

“Quando fiz as contas, me assustei. Esse movimento se intensificou muito rapidamente em 2015”, afirma Lygia. Conforme a Agrifatto, os frigoríficos fechados ou com as atividades suspensas neste ano representam uma redução de 13% na capacidade diária nacional de abate – ou seja, cerca de 30 mil cabeças. No fim de 2014, as unidades em operação no país tinham capacidade para abater 220 mil cabeças por dia.

O fechamento de frigoríficos tem provocado uma onda de demissões. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho apontam que os frigoríficos cortaram 4,3 mil postos de trabalho entre janeiro e maio, ou 3,3% de um total de 130,8 mil trabalhadores que estavam empregados no fim do ano passado.

No entanto, na semana passada, as três maiores empresas do segmento do país – JBS, Marfrig e Minerva – anunciaram o fechamento de unidades em Cuiabá, Pirenópolis (GO) e Batayporã (MS), respectivamente, o que deverá resultar em pelo menos mais mil demissões, em um processo que tem tido efeitos deletérios sobre economias regionais. Em Batayporã, por exemplo, o fechamento da unidade da Minerva vai ceifar 823 postos de trabalho, 27% dos empregos com carteira assinada do município, que tem, ao todo, 11 mil habitantes. Na segunda-feira, o Minerva informou que fechou  o frigorífico que possui em Mirassol D’Oeste, em Mato Grosso. Com o fechamento da unidade, a empresa demitirá mais 701 pessoas.

De modo geral, as paralisações e fechamentos de frigoríficos atingiram em cheio os dois maiores Estados produtores de carne bovina do país: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde a capacidade de abate foi reduzida em 17% e 23%, respectivamente, segundo a Agrifatto. O perfil das unidades atingidas é diferente nos dois Estados. Dos 14 frigoríficos que deixaram de abater neste ano em Mato Grosso – diminuindo a capacidade diária de abate no Estado em 9,5 mil cabeças -, a maioria é de grandes empresas, diz Lygia.

Em Mato Grosso do Sul, as principais empresas afetadas são de pequeno e médio porte, casos de Boi Verde, Beef Nobre e Frialto. Grandes grupos como Marfrig e Minerva também paralisaram plantas, mas a avaliação é que os menores terão mais dificuldade para retomar os abates mesmo quando a oferta de bois melhorar, talvez em 2017.

Para as grandes empresas, os problemas na operação de carne bovina no Brasil são minimizados tanto pela presença em outros países quanto pela diversificação das frentes de negócios, que em alguns casos inclui frango e suínos. Exemplo disso é a JBS, a maior empresa de carnes do mundo. Com lucros recorde, a empresa anunciou, nas últimas duas semanas, US$ 3 bilhões em aquisições fora do Brasil.

A preocupação com os pequenos e médios levou a Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne de Mato Grosso do Sul (Assocarnes) a protocolar no mês passado um pedido de audiência pública na Assembleia Legislativa para discutir o que considera uma concentração do setor nas mãos da JBS. Procurada pela reportagem à época, a JBS disse que a escassez de bois também afetou a empresa, que reduziu os abates em 12% no Estado.

Para o operador da mesa de futuros do BESI Brasil, Leandro Bovo, o processo de ajuste de capacidade está perto do fim. “O que tínhamos era canibalismo e ia acabar inequivocamente no fechamento de plantas. Mas agora estamos com as coisas mais ordenadas”, afirma. Lygia Pimentel também concorda que o ajuste está se completando. Tanto é assim que a margem bruta dos frigoríficos, que atingiu em março 1,81% – pior nível desde 2008 -, recuperou-se nos último meses e chegou a 6,46% em junho, segundo a Agroconsult. Apesar disso, essa margem segue abaixo da média histórica, de 9,75%. “Mas, aparentemente, o pior já passou”, afirma Bovo.

Na avaliação do analista, boa parte dos frigoríficos fechados no Brasil neste ano dificilmente reabrirá. “Tínhamos uma estrutura de abate superdimensionada”, diz. Vice-presidente de planejamento e relações com investidores da Marfrig, Marcelo Di Lorenzo concorda com o raciocínio. “Estava muito distorcido. Se você força a mão no abate, acaba elevando preço e diminuindo sua margem”, resume.

Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

6 Comments

  1. Alexey Heronville Gonçalves da Silva disse:

    Novamente os efeitos do país do monopólio. Novamente os efeitos da concetração (artificial) de mercado, distorcendo este e prejudicando os pequenos e médios. Novamente, como a História nos mostra (mas infelizmente não ensina), os efeitos da política dos “amigos do rei”.

  2. Adjalma Dias da Costa disse:

    O que preocupa é que a pecuária está passando por uma transformação profunda e essa é um processo excludente. Só se firmarão na atividade os bem estruturados (capitalizados) os demais estarão fora. Coitados dos sitiantes.

  3. Marcos Campos disse:

    Deveria haver uma clausula na contratação de créditos junto ao Banco Nacional de DESENVOLVIMENTO SOCIAL – BNDES, criando condições para que as empresas criassem empregos e não cortassem empregos. Afinal, a principal função do BNDES não é criar DESENVOLVIMENTO SOCIAL?????

  4. Marco Bicchieri disse:

    Esta “crise” só prejudica os pequenos frigoríficos que já estão agonizando e fortalece ainda mais os que detêm o monopólio . Se fizerem uma analise minuciosa sobre a atual situação que o setor atravessa vão constatar que o problema iniciou-se a uns 14 anos quando decidiram criar monopólios setoriais. O resultado agora está ai !!!
    As crises em qualquer lugar do mundo são por falta de seriedade.

  5. […] conjuntura adversa que já levou à paralisação de dezenas de frigoríficos neste ano no país está influenciando os preços do boi. Leandro Bovo, operador da mesa de futuros do BESI Brasil, […]

  6. J.Tatsch disse:

    Segundo a BMF&Bovespa, atualmente a Caixa.Econ.Fed. detém 10,07% e o BNDES Participações 23,19% das ações do JBS.SA

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