Geraldo Perri Morais: a qualidade como força na negociação com o frigorífico
11 de março de 2005
Abiec: exportação cresce 27% em fevereiro
15 de março de 2005

Fornecimento e consumo de misturas minerais em pastagens: parte 2

Diversos aspectos interferem no consumo de misturas minerais de bovinos em pastagens, podendo ser inerentes ao animal, ao ambiente ou as características do próprio suplemento. Fatores como a categoria animal, fertilidade do solo, estação do ano e quantidades de energia e proteína do suplemento vão ter grande influencia no consumo do mesmo.

Fertilidade do solo

Usualmente, maiores níveis de fertilidade do solo proporcionam menores ingestões do suplemento mineral. Vários trabalhos da literatura mostram que o cálcio, fósforo e magnésio são consumidos de acordo com as concentrações observadas na forragem. Animais em pastagens nativas, de baixa qualidade ou degradadas tendem a consumir maior quantidade de suplemento mineral do que animais em pastagens cultivadas ou adubadas.

Estação do ano

A estação do ano influi fortemente no consumo de misturas minerais, sendo maior o consumo nos períodos de seca, quando as pastagens cessam o crescimento, secam, se tornam mais fibrosas, lignificadas, e com menor digestibilidade e disponibilidade de minerais. O consumo de misturas minerais vai ser menor, quanto maior for a disponibilidade de minerais na forragem. O consumo é aumentado nas condições descritas acima devido à baixa disponibilidade de minerais, menor ingestão de matéria seca total devido à disponibilidade e palatabilidade.

Disponibilidade de energia e proteína no suplemento

O tipo e as quantidades de energia e proteína na mistura mineral vão influir no consumo dos suplementos minerais. A disponibilidade de suplementos protéicos e energéticos diminui o consumo voluntário de suplementos minerais. Weber et al. (1992) observou grande variação de consumo nos blocos minerais quando foram disponibilizados blocos protéicos concomitantemente.

Requerimentos minerais individuais

Desempenho, índice de natalidade e produção de leite, mesmo em gado de corte, vão influir nas exigências em minerais dos animais. Animais gestantes ou em lactação tem suas necessidades em minerais aumentadas. Quanto maiores forem os índices produtivos dos animais, maiores serão suas exigências em minerais. Segundo Barrows (1977), o consumo de misturas minerais tende a diminuir com o aumento da idade em bovinos.

Quantidade de sal nas fontes de água disponíveis aos animais

Determinadas regiões apresentam fontes de água com concentrações elevadas de sais minerais, sendo conhecida como água “salobra”. Animais ingerindo esse tipo de água apresentam menor consumo de misturas minerais. Um exemplo claro dessa situação é encontrado na região do pantanal sul-matogrossense.

Palatabilidade da mistura mineral

A palatabilidade da mistura mineral é um dos fatores de maior influência na ingestão do suplemento mineral. Alguns ingredientes como o melaço, farelo de algodão e gordura podem ser usados não só para e obter maior consumo, como também para melhorar a uniformidade de consumo dentro do lote. Vale lembrar que, os palatabilizantes devem ser usados para correção da quantidade de suplemento a ser consumida, e não simplesmente para aumento da quantidade total consumida. Isso poderá levar a excesso de consumo e desperdício.

Disponibilidade da mistura mineral

Animais que passam por longos períodos de privação da mistura mineral, vão ingerir grandes quantidades do suplemento no momento em que o suplemento for disponibilizado novamente com consumo voluntário. Essa maior ingestão pode ser de 2 a 20 vezes maior do que o consumo esperado nos primeiros dias. Esse consumo pode inclusive levar à intoxicação, se o animal tiver com consumo limitado de água.

Forma física do suplemento

O consumo de suplementos minerais na forma de blocos minerais compactos é ao redor de 10 – 20% menor do que a forma farelada. A vantagem do uso de suplementos minerais em blocos compactados é a possibilidade de utilização nos períodos de chuva sem a necessidade de cobertura, ou mesmo locais mais úmidos. Nesses casos as perdas são pequenas.

Contato prévio e interações de dominância

Os bovinos tendem a rejeitar novos alimentos num primeiro momento. Esse tipo de comportamento é chamado de neofobia (rejeição ao novo). Portanto, é interessante que os animais recebam suplementos minerais o quanto antes, ficando a cargo do técnico a indicação do momento adequado, dependendo de cada sistema de produção. Porém, independente do sistema de produção utilizado, deve-se suplementar bovinos à partir da desmama, e em algumas situações a suplementação deve-se iniciar durante a lactação.

A experiência prévia, idade e dominância também vão influir diretamente no consumo, sendo que com o tempo as variações individuais de ingestão tende a diminuir.

Animais dominantes tendem a consumir quantidades maiores de suplemento, e impedem que animais dominados consumam quantidades adequadas de suplemento. Esse tipo de problema pode ser minimizado com manejo adequado.

Todos os fatores descritos acima influem na suplementação mineral de bovinos em pastagens, sendo necessário um bom manejo para que sejam minimizados os efeitos negativos, permitindo assim a obtenção de resultados satisfatórios no sistema de produção.

Referências bibliográficas

BARROWS, G.T. Animal Nutrition Health, v. 32, p. 12, 1977.

McDOWELL, R.L. Feedstuffs, p. 12, nov. 2003.

WEBER, D.W.; DILL, T.O.; OLDFIELD, J.E.; FROBISH, R.; VANDERBERGH, K.; ZOLLINGER, W. Prof. Anim. Sci., v. 8, p. 15, 1992.

0 Comments

  1. Bruno Carvalho Rosa disse:

    Estação do ano

    A estação do ano influi fortemente no consumo de misturas minerais, sendo maior o consumo nos períodos de seca, quando as pastagens cessam o crescimento, secam, se tornam mais fibrosas, lignificadas, e com menor digestibilidade e disponibilidade de minerais. O consumo de misturas minerais vai ser menor, quanto maior for a disponibilidade de minerais na forragem. O consumo é aumentado nas condições descritas acima devido à baixa disponibilidade de minerais, menor ingestão de matéria seca total devido à disponibilidade e palatabilidade.

    Caro André,

    Você não acha que nas águas os animais necessitam de uma quantidade maior de minerais? Para atingirem desempenho máximo, considerando que há boa disponibilidade de forragens.

    E, nas secas em um sistema diferido eficiente, com o fornecimento de uréia (NNP) + Nitrogênio proteico, o consumo de matéria natural seria menor, mas , o consumo de matéria seca seria equivalente ao período das águas.

  2. Milton de Souza Dayrell disse:

    Caro André,

    O seu artigo foi muito bem colocado, muito claro. Inclusive, com algumas observações (como a questão do aumento do consumo do mineral devido a privação do mesmo por determinado período), sem respaldo da pesquisa mas que realmente ocorrem.

    Quando pesquisador da Embrapa-Gado de Leite, tentamos checar a questão da influência da época do ano no consumo “ad libitum” da mistura mineral, não conseguimos evidenciar isso talvez pela grande variação de consumo encontrada entre os meses do ano.

    Outra questão levantada, que é polêmica, é com relação a influência da fertilidade do solo no consumo. A fertilidade vai influenciar enormemente a concentração dos minerais nas forrageiras, mas estes minerais, com exceção do sódio, não influenciam o consumo da mistura.

    Atenciosamente,

    Milton de Souza Dayrell
    Diretor Técnico da Nutriplan Produtos Agropecuários Ltda

  3. André Alves de Souza disse:

    As colocações do Milton foram muito bem colocadas, porém gostaria de salientar que a relação fertilidade de solo/consumo de misturas minerais existe, e não só para o sódio, mas também para o fósforo, cálcio e magnésio. Esses dados foram encontrados por Barrows (1977) e citados por Mc Dowell (2003).

    Forte abarço à todos.

  4. André Alves de Souza disse:

    Prezado Bruno,
    Suas conclusões estão corretas, e concordo com vc. O que acontece é que no artigo estou me referindo ao comportamento animal, que é o fator determinante nas condições de consumo à vontade de misturas minerais. Esse fator é muito importante, pois como vc mesmo descreveu, os animais precisam de maior concentração de minerais na dieta durante os períodos de maior disponibilidade de forragem, por estarem com maior desempenho. Porém, nos casos de ingestão ad libitum de sal mineral, ocorrem exatamente o inverso, com os animias ingerindo mais a mistura nos períodos de menor disponibilidade de forragem.

    Grande abraço!

    André Alves de Souza

  5. André Alves de Souza disse:

    Olá Milton, tudo bem?
    Obrigado por suas considerações em relação ao artigo e suas considerações. Em relação ao consumo de mistura mineral em diferentes épocas do ano, acredito haver grande variação de consumo entre os animais, dificultando ainda mais a detecção desses resultados cientificamente. Já para a fertilidade do solo, é um assunto bastante polêmico, no qual minha opinião é de que o mais importante é o fato do animal obter maior concentração dos minerais na forragem, e consequentemente necessitar de menores teores de minerais na mistura mineral. Realmente a maior concentração de minerais não vai inibir o consumo da mistura mineral, e nem mesmo os animais são capazes de selecionar os minerais em que estão deficientes. O que ocorre nas condições de melhor fertilidade do solo é um maior consumo devido à maior disponibilidade de forragem, diminuindo o consumo voluntário da mistura mineral.

    Grande abraço.

    André Alves de Souza

  6. Paulo Roberto Leal Coelho disse:

    Prezado Dr André, saudações,

    Sei que a pergunta não é pertinente ao artigo (que por sinal está excelente), mas queria te pedir um esclarecimento, se for possível.

    É com relação ao custo de mineral para gado de corte.
    Segundo sua experiência, qual o percentual que a Suplementação Mineral tem na formação do preço da arroba.

    Como se fazer esta conta (sei que há inúmeros benefícios) de uma forma simples que o pecuarista “menos informado” entenda.

    Recentemente, um deles colocou para mim:
    Meu boi ingere 1 sc SM/ano (30 Kg , +/- R$ 30,00).
    Se ele cresceu 6 arrobas x R$ 60,00, então rendeu bruto R$ 360,00.

    Percentualmente o mineral incidiu com 8,3% (bruto).

    Tenho lido alguns artigos de dizem chegar até 20 % !

    Se for possível, esclareça-me estes valores.

    Obrigado.

  7. André Alves de Souza disse:

    Prezado Paulo Roberto,

    A formação do preço da arroba é de certa forma complexa e, dependerá de diversos fatores, dependendo principalmente do sistema de produção utilizado e do desempenho obtido.

    Portanto, você deverá fazer essa avalaição caso a caso, pelo fato do desemepenho, ou seja, o índice produtivo, determinar a participação da suplementação mineral na formação do custo de produção.

    Gostaria de lhe indicar o artigo “Cepea avalia a relação custo x beneficio da suplementação mineral”, do Marcus Baruseli, que desecreve o trabalho do Dr. Sérgio de Zen (CEPEA/ESALQ), publicado nesse site. Isso poderá lhe ajudar a entender a participação da mineralização sobre o custo total de produção.

    Espero ter esclarecido suas dúvidas, mesmo assim me coloco à disposição para posteriores dúvidas, ok?

    Forte abraço.

    André Alves de Souza

plugins premium WordPress