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Formação de lotes em confinamentos e padronização do produto final

O crescimento de confinamentos de grande escala no Brasil tem possibilitado a produção de carne de melhor qualidade, porém há ainda grande variação no produto final. O processo de formação de lotes em confinamentos possibilita a produção de grupos de animais com carcaças padronizadas, garantindo um produto final de qualidade, com valor agregado e que atenda às exigências do mercado.

O crescimento de confinamentos de grande escala no Brasil tem possibilitado a produção de carne de melhor qualidade, porém há ainda grande variação no produto final. O processo de formação de lotes em confinamentos possibilita a produção de grupos de animais com carcaças padronizadas, garantindo um produto final de qualidade, com valor agregado e que atenda às exigências do mercado.

A formação de lotes homogêneos reduz a variabilidade do grupo através da remoção de animais cujas carcaças possam receber descontos devido ao peso excessivo ou excesso de gordura (Trenkle, 2001). Em sistemas classificação tais como o americano (“grid”), a formação de lotes protege o confinador de carcaças que não se classificam em certos parâmetros de qualidade e causam descontos significativos que prejudicam o retorno financeiro do lote. Animais com quantidade excessiva de gordura de cobertura, por exemplo, embora até possam ser classificados Choice ou Prime no grid, também recebem descontos (Bruns, 2000). Modernos sistemas de formação de lotes também possibilitam melhor manejo geral dentro do confinamento, uniformizando animais tanto em termos de peso como em termos de tipo biológico e consumo (Galyean and Abney, 2006).

Com a formação padronizada de lotes é possível ainda estimar-se dias em terminação, o que facilita a venda uniforme de lotes completos. Isso evita problemas tais como o “descasque de baias”, onde animais prontos dentro de uma baia são separados para venda, enquanto que animais que ficam são misturados com outros lotes. Essa mistura pode causar problemas significativos no controle de desempenho e de consumo desses animais (Bruns, 2000). Bruns (2000) lembra ainda que os animais que ficam não retornam à sua rotina normal após a mistura de lotes. É ainda preciso prestar atenção no trato dos animais que ficaram, pois os animais que foram vendidos são os que ganharam peso mais rápido e consumiam mais. Logo, os que ficaram têm menor consumo e a quantidade de ração oferecida pode ser exagerada. O excesso de ração pode fazer com que os animais que fiquem sofram de problemas digestivos tais como acidose (Bruns, 2000).

Ultra-sonografia

O uso de ultra-sonografia em tempo real para estimativa da composição corporal já tem sido estudado há mais de 20 anos (Bruns, 2000). Esse recurso pode ser utilizado na formação de lotes homogêneos pois a avaliação de características de carcaça por ultra-sonografia apresenta boas correlações com as medidas no momento do abate. Dados de Brethour (2001), por exemplo, mostram que o uso da ultra-sonografia nos possibilita prever com até 75% de precisão quais animais serão classificados Choice ou Select. É importante lembrar, no entanto, que os benefícios da ultra-sonografia estão relacionados com o treinamento e experiência dos técnicos, pois a interpretação das imagens durante a coleta pode ser subjetiva (Brethour, 1994).

Formação automatizada de lotes

Modelos matemáticos avançados têm sido utilizados para predição de características de carcaça e para a identificação de consumo individual de animais tratados em grupos (Perry and Fox, 1997; Tedeschi et al., 2006). O uso de sistemas para identificação do consumo individual torna-se muito interessante por auxiliar o processo de cobrança de proprietários com animais engordados em sistemas de “boitel”, onde pode existir ampla mistura de animais de diferentes proprietários em uma mesma baia. Dados recentes de nosso laboratório mostram que o programa Cornell/Cattle Value Discovery System (CVDS; Tedeschi et al., 2004), por exemplo, foi capaz de explicar 71% da variação no consumo individual de 48 animais confinados em grupos mas com acesso individual ao cocho (Vasconcelos, 2006).

Esse mesmo modelo tem sido utilizado para o desenvolvimento de sistemas automatizados de formação de lotes (por exemplo, Accu-Trac® Electronic Cattle Management System®; Microbeef Inc., Amarillo, TX). Nesses modernos sistemas, diversas informações do animal são rapidamente coletadas durante o processamento no início do confinamento por equipamentos e técnicos, e inseridas no programa para que as mesmas sejam utilizadas no modelo. Os resultados das equações levam em consideração predições de características de carcaça, consumo e custo do ganho, e determinam a abertura automática de um dentre seis portões para formação de grupos diferentes, formando esses seis lotes de acordo com o dia estimado para comercialização dos animais para lucro máximo.

Conclusões

A classificação adequada de animais durante o início do período de engorda traz muitas vantagens para o confinador, porém ainda não existe um método “mágico” para o processo. O uso de ultra-sonografia e sistemas automatizados têm se mostrado eficiente no processo de homogeneização de lotes. Para que a formação dos lotes seja viabilizada, no entanto, faz-se necessária a implantação de sistemas de classificação de carcaça que avaliem a carne pelo seu valor agregado e não como uma commodity, através da gratificação por produtos com qualidade superior.

Informações geradas pelos sistemas classificatórios podem ser utilizadas para a criação de um banco de dados interessante, com informações como fonte dos animais, características biológicas e desempenho, dentre outros fatores que podem ter influenciado de alguma forma o valor agregado à carcaça. Esses dados podem ser utilizados para planejamento do confinamento nos anos seguintes. É importante também levar em consideração que sistemas de formação de lotes no futuro deverão também considerar outros fatores tais como idade, genética do rebanho, estado sanitário e condições nutricionais antes da entrada no confinamento.

Literatura consultada

Brethour, J. R. 1994. Estimating marbling score in live cattle from ultrasound images using pattern recognition and neural network procedures. J. Anim. Sci. 72:1425-1432.

Brethour, J.R. 2001. Technology for pre-harvest evaluation of fed cattle – ultrasound. In: Proc. Plains Nutrition Council Spring Conference. Publ. No. AREC 01-23. Texas A&M. p. 37.

Bruns, K.W. 2000. Sorting for different markets – costs versus benefits. Advanced feedlot cattle management shortcourse II. July 10-13, 2000; Brookings, SD.

Galyean, M. L., and C. S. Abney. 2006. Intake by feedlot cattle: A retrospective look and suigestions for future research. Pages 81-99 in Proc. Plains Nutr. Council Conf., AREC, Amarillo, TX.

Perry, T. C., and D. G. Fox. 1997. Predicting carcass composition and individual feed requirement in live cattle widely varying in body size. J. Anim. Sci. 75:300-307.

Tedeschi, L.O., D. G. Fox, M. J. Baker, and D. P. Kirschten. 2006. Identifying differences in feed efficiency among group-fed cattle. J. Anim. Sci. 84:767-76.

Tedeschi, L. O., D. G. Fox, and P. J. Guiroy. 2004. A decision support system to improve individual cattle management. 1. A mechanistic, dynamic model for animal growth. Agric. Syst. 79:171-204.

Trenkle, A.H. 2001. Effects of sorting steer calves on feedlot performance and carcass value. 2001 Iowa State Univ. Beef Research Report. A.S. Leaflet R1740.

Vasconcelos, J. T. 2006. The use of different nutritional strategies and mathematical models to improve production efficiency, profitability, and carcass quality of feedlot cattle. Ph.D. Dissertation. Texas A&M University.

0 Comments

  1. José Luiz Nelson Costaguta disse:

    Tudo o que diz respeito ao artigo tem uma significação especial e muito elucidativa, para o bom desempenho e uniformidade do Lote-Dados-Técnicas modernas-avaliação de dados e etc. No entretanto no meu modesto entender, na formação dos animais p/mesma baia, é indispensável a inspeção do olho experiente de um técnico selecionador.

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