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Fogo também causa estrago à produção no Pantanal

Apontado como um dos responsáveis pelas queimadas que destroem o Pantanal, o agronegócio também está na rota do fogo que se alastra pelo bioma. Até o dia 27 de setembro, 23% do bioma foi afetado – ou 3,4 milhões de hectares, de um total de 15 milhões, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Entre 1º de janeiro a 30 de setembro, foram 18.259 focos de incêndio, mais que o triplo de igual período de 2019 e maior número da série histórica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O fogo não poupou áreas de conservação nem terras indígenas, mas também devastou lavouras, pastagens e matou animais de produção.

O número de cabeças bovinas no bioma chega a quase 4 milhões, 400 mil na porção mato-grossense, segundo a Embrapa Pantanal, e 3,4 milhões em Mato Grosso do Sul, conforme a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro-MS). A área ocupada por imóveis rurais soma 13,7 milhões de hectares ao todo, de acordo com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), sendo 7.751 os imóveis cadastrados. Mato Grosso abriga o maior rebanho bovino do país (30 milhões de cabeças), segundo a Acrimat, que representa os produtores do Estado, e o problema reduzirá a oferta.

“Incêndio todo ano tem, mas quando vem a primeira chuva o pasto rebrota. Neste ano não, porque o fogo tomou uma proporção tão grande que o pasto está coberto de cinzas”, diz Daniella Bueno, diretora-executiva da Acrimat. Ela avalia que vai demorar muito tempo para a produção voltar ao normal. “A oferta de bezerros vai diminuir no ano que vem. Tem propriedades que perderam tudo”, afirma. 

Diretor da Acrimat no Vale do Rio Cuiabá, o pecuarista Ricardo Arruda viu o fogo engolir sua fazenda em Poconé no fim de julho. O incêndio cercou a propriedade de 9 mil hectares e se alastrou por 80% do pasto até meados de agosto. 

Localizada a 120 km de Poconé via rodovia transpantaneira, a fazenda de Arruda foi evacuada às pressas. O gado foi retirado, mas o mesmo não pôde ser feito com os animais selvagens do entorno. Arruda estima que serão necessários R$ 5,8 milhões para tornar a propriedade produtiva novamente – dados os custos com limpeza da pastagem e substituição de gramíneas. Segundo laudos dos bombeiros, o fogo veio de fora da fazenda, de uma área de extração de mel. 

Na Fazenda Grendene, em Cáceres, também em Mato Grosso, que tem rebanho de 8 mil fêmeas nelore e produz 1,5 mil touros por ano – além de 69 mil sacas de soja por safra – as perdas também foram grandes. 

No combate ao incêndio na propriedade, de 37 mil hectares (16 mil de pasto), um funcionário morreu enquanto liderava outros 20 colegas no controle das chamas. Ilson Ribeiro Corrêa, diretor de pecuária na fazenda, espera que a chuva chegue logo, porque os mais de 20 dias de luta contra o fogo têm sido exaustivos. 

“É a seca e também uma irresponsabilidade humana isso que estamos vendo. A gente não sabe de onde o fogo surgiu, não tem como ir atrás de um culpado. Mas ‘acidentes’ acontecem todo dia no Pantanal”. 

Desde que o fogo começou na fazenda, 50 hectares de pasto foram queimados, bem como 4,2 mil hectares de mata, no curso do rio Paraguai. A suspeita é que o incêndio tenha começado na beira da rodovia, talvez com uma bituca de cigarro.

 “Na fazenda ainda temos o gado manejando o pasto, o que reduz o material combustível. Mas o que aconteceu na nossa reserva aconteceu na Reserva Taiamã e em Nova Larga em grandes proporções, coisa de 150 mil hectares. É uma perda ambiental sem tamanho”, diz.

Na propriedade da família de Eduardo Cruzetta em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, o fogo chegou em plena estação de nascimento de bezerros e, embora tenha apenas beirado as cercas, gerou prejuízo de R$ 50 mil. “Um pessoal que estava na rodovia acendeu uma fogueira no almoço, que atingiu um pasto a 20 quilômetro da fazenda. Avisaram na sede e foram embora”, diz Cruzetta. 

Em quatro dias, o fogo se alastrou por 10 mil hectares de pasto dos vizinhos e só não entrou em sua propriedade porque os funcionários agiram rápido. “Fizeram um fogo contra fogo para limar o capim seco do nosso lado e evitar que a queimada continuasse avançando”, afirma. 

Mesmo assim, houve custos com um quilômetro e meio de cercas queimadas, 20 hectares de pasto invadido e as horas de mão de obra e combustível empenhadas no combate às chamas por 9 funcionários, que usaram um tanque de água de 2 mil litros puxado por um trator. 

Ainda não é possível contabilizar os prejuízos dos produtores no Pantanal, porque o fogo segue vivo. Além de terem que gastar mais para alimentar os animais e compensar a falta de pastagem, muitos pecuaristas tiveram que arrendar áreas fora do Pantanal para transferir seus rebanhos, afirmou Daniella Bueno. 

Fonte: Valor Econômico.

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