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Fiesp alerta para a concentração das exportações

Principal destino das exportações brasileiras do agronegócio, a China tende a manter esse protagonismo até onde a vista alcança, dada a tendência de crescimento de sua economia e, consequentemente, da demanda por alimentos de sua gigantesca população. Mas não é por isso que o Brasil pode se deitar sobre as divisas geradas pelas vendas ao país asiático, sob o risco de ver seu poder de barganha diminuir e de perder mercados em países e regiões importantes para manter a pauta comercial crescente e diversificada. 

É o que reforça estudo recém-concluído pelo Departamento do Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Baseado na evolução dos embarques do setor para China, União Europeia e Estados Unidos entre 2009 e 2019, o trabalho realça não apenas a disparada das vendas para a China e a crescente dependência de cadeias produtivas brasileiras como a da soja do mercado asiático, mas também joga luz sobre o tímido avanço das vendas para os EUA e sobre a queda do valor dos embarques para a União Europeia na década em tela. 

Como até os graneleiros que transportam soja para Xangai sabem, EUA e UE são mercados fundamentais para exportadores de alimentos como o Brasil, por suas elevadas exigências fitossanitárias e pelo amplo consumo de produtos de mais valor agregado. Para outros países, funcionam muitas vezes como cartões de visitas que tornam mais ágeis os trâmites dos protocolocos necessários para viabilizar o comércio agropecuário. Daí porque boas relações com esses parceiros costumam abrir outras portas. 

“Nos preocupa ver uma concentração cada vez maior nas exportações para a China, e em poucos produtos”, afirma Roberto Betancourt, diretor do Deagro. Em 2009, aponta o estudo, baseado em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os embarques do agronegócio brasileiro para a China renderam US$ 8,9 bilhões, ou 15% do total setorial. Já em 2019 as vendas somaram US$ 31 bilhões, quase 250% mais, e a participação chinesa subiu para 32%. No intervalo de 12 meses entre agosto do ano passado e julho último, foram 33% de US$ 71,3 bilhões. 

Soja e celulose encabeçaram os embarques à China em 2009 e continuam na ponta em 2019. Mas houve uma importante mudança no perfil das vendas com a ascensão dos embarques de carnes bovina, de frango e suína, que são produtos de maior valor agregado. Como gosta de lembrar o ex-ministro Pratini de Moraes, é melhor exportar frango do que a soja que o alimenta, e nessa frente houve avanço, embora a China tenha planos de elevar sua produção em nome da segurança alimentar.

“Nos últimos anos, a geopolítica também beneficiou o Brasil na China [por causa das disputas comerciais entre Pequim e Washington, mas, em contrapartida, tem nos prejudicado na UE”, observou Betancourt. Ele se refere, é claro, às constantes críticas europeias em relação a problemas ambientais no Brasil, que podem também servir de pretexto para barreiras protecionistas. O fato é que, em 2009, as exportações do agronegócio brasileiro para a UE alcançaram US$ 19,1 bilhões, ou 30% do total setorial, e no ano passado o valor caiu para US$ 16,8 bilhões, ou mirrados 17,3%. 

“É verdade que a Europa está ficando muito complicado e que há países que podemos acessar com mais facilidade. Mas é preciso ter equilíbrio e o mercado europeu não pode ser deixado de lado”, diz o diretor da Fiesp. Ele reconhece que o acordo entre o Mercosul e o bloco europeu pode ajudar a estancar a sangria, mas, de uma maneira geral, defende a negociação de um número maior de acordos bilaterais Betancourt nota que mesmo nos EUA, concorrente do Brasil em mercados como grãos e carnes, ainda há um grande potencial a ser explorado com acordos específicos. “Os EUA importam US$ 20 bilhões por ano em frutas, por exemplo, e nossa participação é próxima de zero”

Fonte: Valor Econômico.

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