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Fico maginando

"Olha seu moço. Quando meus avó chegaro d' Itália, já tava tudo derrubado p'ra plantá café com milho, feijão e arroz nas entrelinha. A gente plantava nas várzea porque a terra era mais fresca e sofria menos co'a seca. Bem que a várzea protegia a gente. Agora querem que a gente num plante mais nas baixada. Num dá. Nois n'um semo responsave si os antigo derrubaro mato p'ra sobrevive e p'ra ganha a vida. Fico maginando: eles trabalharo muito p'ra abri o sertãozão".

“Olha seu moço. Quando meus avó chegaro d’ Itália, já tava tudo derrubado p’ra plantá café com milho, feijão e arroz nas entrelinha. O milho servia p’ra fubá, p’ros porco e p’ras galinha. Era um despropósito de fartura. Tinha de tudo.

A gente plantava nas várzea porque a terra era mais fresca e sofria menos co’a seca. Bem que a várzea protegia a gente. Agora querem que a gente num plante mais nas baixada. Num dá. Nois n’um semo responsave si os antigo derrubaro mato p’ra sobrevive e p’ra ganha a vida. Fico maginando: eles trabalharo muito p’ra abri o sertãozão.

Mato na beira dos rio era casa dos pernilongo das maleita e tinha pranta cum veneno qui matava os boi, por isso a gente limpava tudo. Tinha rio chamado de pardo, de turvo, de vermelho porque as beirada desbarrancava e mudava a cor d’água. E mesmo assim era tudo mato nas marge qui diz ciliá.

Diz que prantá mata ciliá é bão p’ros bicho e p’ra segurá os barranco. Bicho gosta di mato fechado, sucegado, longi di gente. N’um é essas nesga di capoera qui vai ajudá as capivara e vai firmá os barranco. N’um credito não. Num tem nem espriença p’ra prová, uai! Já desbrugava quando era tudo mato. Fico maginando: a genti pranta as berada p’ra mor di ficá bonito, fazê sombra, cortá os vento!

Num sei quen inventaro a tar reserva de 20%. Porque esse núm’ro? Podia ser 15, 25 ou quarquer outro. Acho que contaro os dedo que a gente tem. Parece inté tabelamento de juro. Ninguém bedece. O tal 20% tem que caí fora. É pura invenção dos político ou de gente que não tem mais que fazê. Fico maginando: não diantô nada até hoje e não vai diantá nada daqui p’ra frente.

Mandá plantá arve p’ra imatá as mata antiga, isso é conversa di moço da cidade. Arve é muito bonito, dá sombra e corta o vento. Tirando os mato diminui a geada, isso todo mundo sabe. Agora, dizê que arve muda o calor, o frio e a chuva, tô p’ra vê. Num credito não. A bem dizê, ela dá só um frescorzinho na sombra, bem debaxo das foia.

Lá no Gronômico di Campinas tem medidô di chuva do tempo dum tar dotô Darfe. Dissero qui as chuva d’agora tem sempre otra iguar otros ano p’atrás. Meus avô mi contaro que no ano di 29 choveu p’ra daná. Inundô tudo o varjão do Tietê da Ponti Grande inté a Freguezia. Um marzão qui só vendo. Será qui era curpa das arve qui tiraro p’ra prantá café?

Bom mesmo era os governo comprá toda as mata qui sobrô e conservá elas p’ros bicho vivê e p’ras criançada passeá e conhecê como era a terra deles nos tempo dos índio e da bicharada. Podia até dar uns prêmio p’ra quem conservá uns capão ou intão uma gorgetinha p’ra formá uns bosque p’ra boniteza dos sitio e fazenda. Um disconto quarquer que animasse a gente p’ra comprá as muda e matá as formiga. Uái, num dão mesada p’ra gente ficá discançando?

No tempo das carpidera puxada com égua, a gente tinha que limpá bem a terra p’ra facilitá o serviço. Aí as água carregava tudo e era uma baita d’erosão. Agora nóis dexa o cisco cobrindo a terra e segura o mato com remédio. Bastante cisco segura as água que corre devagarinho e tem mais tempo de filtrá. Num tem mais enxurrada lavando terra p’ra baixo. U’a beleza esse tar di prantio direto. Dá inté gosto di prantá.

Si a gente pudé segurá as enxurrada, fazendo a chuva todinha filtrá na terra, já tá demais de bão. Vai garantí os óio dágua. Si num filtrá que nem nas mata, as nascenti seca tudo, mesmo cum arvoredo em vorta.

Ond’é que já se viu os carriadô, os caminho e as estrada municipar despejá tanta enxurrada com lama, areia, terra e tudo nos riberão, entupindo os corgo e os brejo. Fico maginando: isso sim, atrapaia o tar di ambienti.

Porquê tazaná a vida da gente cum tanta cumpricação de papelada, registro, licença p’ra tudo? P’raque tanta meaça di murta, di cadeia, di tomá o chão da gente?

Vai acabá nois companhando os sem terra que vive num bem bão, tem presente di mesada, comida di cesta, visita di padre, agrado dos politico pedindo voto e barulhera das TV fazendo eles ficá importante. Será que temo que fazê compania p’reles?

Fico maginando: quem é qui vai intão prantá p’ra mandá comida p’resse povão das cidade? Cês pensa qui o CEASA fica sortido si nois fiquemo em casa comendo co a borsa de familha?”

Adaptado de carta ao Secretário Xico Graziano em 6/11/09

0 Comments

  1. BELCHIOR CRISTINO DE SOUZA disse:

    Que leleza de artigo! em uma forma de brincadeira mas de uma de uma ideologia cientifica profunda.
    tem que encontrar um a maneira de fazer o melhor para o meio ambiente e o futuro da humanidade, mas sem crucificar o produtor como se fosse o unico culpado.
    mas acho que tem razão, tem de culpar alguem, as industrias os governos nao aceita, vai dar problema na economia, os governos vao perder voto, e o produtor ja esta com o lombo grosso de apanhar não vai sentir, nem reclamar, ele cai, recarrega as forças e continua a caminhar, sem problema!

  2. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Caro Roberval:
    Obrigado por achar muito bom meu arrazoado em linguagem dos que labutam no campo e ainda não têm a malicia dos urbanoides. Com relação a Bonito, o mais grave é terem elegido vereadores despreparados. Não havia melhores candidatos? Agora resta a tarefa ingente de educar as autoridades que legislam mal por desconhecerem a matéria. Que tal os proprietários se unirem para pagar um líder confiável que acompanhe os vereadores em visitas às fazendas para conhecerem a realidade? Uns vão aprender e mudar, outros vão persistir no erro na esperança de que a posição renda votos. Para os últimos só resta uma solução: não reelegê-los! Grande abraço. Fernando Cardoso

  3. José Otávio Silveira de Silveira disse:

    Que que é isso, minha gente?
    Estamos voltando à idade média?
    Transformando a ignorância e crendice em ciência?
    Não é à tôa que somos perseguidos e chacotados.
    Que tristeza…

  4. Krijn Wielemaker disse:

    Dr Fernando.

    Sera que e nosso socio(governo)40% de nosso produçao e dele sem risco! vai obrigar nos plantar arveres onde tinha so campo de barbe de bode e hoje produs com plantio direto,gessagen,interligado lavoura com pecuaria , soja milho e carne,
    Serhor me faz bem com teus artigos,continua,muito obrigado!

  5. Artur Queiroz de Sousa disse:

    Gostei muito do artigo. É isso mesmo, que a história da agricultura nos permite contar.Me lembro muito bem quando tinha terminado o Técnico Agrícola em Jaboticabal, 1973, passado recente, e via a abertura da Transamazonica, sendo loteada. lotes de 100ha as margens da rodovia, depois 500 ha, depois 1500 ha, depois 5.000 ha, e maiores de 5000 ha. Também quando fazia Zootecnia em Lavras, assistia a abertura das áreas de cerrado. Projetos como PROTERRA, POLOCENTRO, CONDEPE, FCO, fizeram o Brasil ampliar suas fronteiras, crescer e o conhecimento dos solos sob vegetação de cerrado, permitiu a migração deste antes colonos do café, pequenos propretários do sul e sudeste, desbravasse esses solos ácidos, e tornassem em cultura produtiva. Eu fico imaginando que o “pum” das minhas vacas são muito poluidores, até mais que as bombas no Iraque, Afaganistão, mais que os venenos não degradados que a Europa nos enviou naquela época, bem como o lixo que dispacharam a pouco tempo.
    Parece-me que o que mais incomoda, é o desenvolvimento da nossa agricultura e pecuária. Deve incomodar mesmo os Irlandeses, com uma merreca de bovinos contra nossa carne, uma produção subsidiada como dos Europeus e Americanos.
    Falta ética, falta conhecimento, poder político aos produtores, para não deixar que essa corja cheia de más intenções e objetivos escusos, venham não nos permitir desenvolver. O que precisamos é conhecimento, assitência técnica, e educação ao homem do campo, e renda a atividade agricola, e não mais pesadelos, e permitir essa gente “ecoterrorista”, palpitar sem conhecimento técnico.

  6. Renato H. Fernandes disse:

    Dr. Fernando,

    Na semana do final de um campeonato de futebol tão empolgante, seu artigo põe às claras as bases das leis ambientais brasileiras: Puro chute!

    Parabéns e um abraço,

    Renato Fernandes

  7. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Prezados amigos que comentaram “Fico Maginando”:

    José Otávio de Silveira-Santana do Livramento/RS
    Nem tanto assim. Aqui no ESP havia gente simples, acaboclada, que falava como escrito. Reproduzi seu linguajar para tratar com humor os temas da moda. Se tem críticas a estes, queira contra-argumentar que terei prazer em esclarecer. Agora, junte-se a mim ao respeitar os caipiras incorruptos. Cordial abraço. F.Cardoso
    PS – Para me conhecer melhor, visite http://www.agrisus.org.br

    Keijn Wielemaker-Maracajú/MS
    Lembro-me da visita que lhe fiz anos atrás quando V. me levou ao galpão para mostrar a grande novidade: os discos desencontrados para o Plantio Direto. Caramba! faz tempo! Anos depois, em 2004, nos vimos na fazenda do Ake durante o tour em companhia do Dr. Norman Borlaug. Voltei a Maracajú em Dezembro de 2008, mas não nos cruzamos. Obrigado pelas gentis palavras. São um estímulo para um agrônomo sênior da ESALQ-1936. Grande abraço, F.Cardoso (ex Manah)

    Artur Queiroz de Sousa – Varginha/MG
    Muito obrigado por haver gostado do artigo “Fico Maginando”. Concordo com seu desabafo esperando que muitos o leiam e conheçam, pelo menos um pouco, o que se passou na fase das aberturas da mata para plantar café. Nos dias que correm a mídia está concentrada nos argumentos dos urbanoides que nada entendem das atividades rurais de hoje e muito menos do que fizeram os pioneiros de ontem. Dizia o insigne Norman Borlaug: “nós temos a obrigação ética de esclarecer a opinião pública mistificada pela turba anti-tecnologia”. É o que procuro fazer, com o pensamento em nosso país. Grande abraço. F.Cardoso

  8. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Belchior de Souza-Nova Xavantina/MT-
    Prezado Belchior:
    Fico desvanecido com suas amáveis palavras. Muito obrigado.
    De pleno acordo com nossas obrigações para com o ambiente.
    No âmbito do produtor, ele deve se preocupar com o solo, a agua e a atmosfera. Daí a adoção do Plantio Direto:
    -defende o solo da erosão gerando fertilidade;
    -favorece as nascentes ao aumentar a infiltração enriquecendo o lençol freático, bem como ao evitar o escorrimento de lama assoreando baixadas e córregos;
    -segura a poeira mantendo o ar limpo de argilas, defensivos indesejados e ovos de nematoides.
    Que mais pode-se exigir? Que ele deixe de queimar umas folhas secas para facilitar seu trabalho? Só porque recicla carbono absorvido pouco tempo antes? São teorias de urbanoides.
    Grande abraço. F.Cardoso

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