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Fertilizante nitrogenado. 2. Possíveis efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente

A aplicação indiscriminada de formas reativas de N no solo e na água pode trazer vários prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente.

O nitrato é um composto inorgânico que possui um átomo de nitrogênio (N) e três átomos de oxigênio (O), e é formado a partir da ação de microrganismos sobre fertilizantes nitrogenados, restos de plantas, esterco e outros resíduos orgânicos. Normalmente, o nitrato é absorvido pelas plantas, mas em algumas situações ele pode ser carregado pela chuva ou água de irrigação para o lençol freático e para fontes de águas superficiais (ex: rios, lagoas). Nos mananciais de água em áreas rurais ele é proveniente, principalmente, dos fertilizantes nitrogenados e da estocagem e distribuição de esterco.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o nível de nitrato na água utilizada para o consumo humano não deve ser superior a 10 mg/l de nitrogênio na forma de nitrato (ou 45 mg/l de nitrato). O consumo, mesmo por curtos períodos de tempo, de água com níveis de nitrato acima do estabelecido pode causar sérios problemas de saúde, principalmente em crianças abaixo de seis meses de idade. Mulheres grávidas, idosos e pessoas com sistema imunológico debilitado também são mais sensíveis.

A methemoglobinemia é o principal problema de saúde provocado por elevados níveis de nitrato na água de consumo humano. O sangue possui um composto chamado hemoglobina que carrega o oxigênio para as células. O nitrato, após ingerido pelo recém nascido, pode ser reduzido a nitrito (outro composto nitrogenado inorgânico). Na presença do nitrito a hemoglobina pode ser convertida em methemoglobina, que não é capaz de carregar o oxigênio, reduzindo o seu suprimento para tecidos vitais como o cérebro.

Crianças com níveis de methemoglobina entre 1 e 10% não apresentam muitos sintomas da doença. Com níveis acima de 10% surgem sintomas de cianose (coloração azulada na pele) e as crianças podem apresentar problemas digestivos e respiratórios. Os efeitos observados com níveis entre 20 e 30% são resultantes da reduzida capacidade de transporte de oxigênio e são chamados de anoxia. Níveis de methemoglobina por volta de 50 a 70% podem causar danos cerebrais e até a morte da criança.

Em adultos, estudos têm mostrado que níveis de N na forma de nitrato acima de 100 a 200 mg/l de água podem favorecer o surgimento de alguns tipos de câncer. Este efeito, no entanto, depende de vários outros fatores.

O nitrato também pode ser prejudicial à produção pecuária. Os ruminantes são especialmente susceptíveis, pois as bactérias do rúmen são capazes de converter o nitrato em nitrito. Apesar de não haver nenhuma forma de regulamentação para os animais, estes não deveriam consumir água com mais de 100 mg/l de N na forma de nitrato (animais adultos podem tolerar níveis de até 200 mg/l de N na forma de nitrato).

Os fertilizantes nitrogenados que escapam para lagos e baías também podem causar eutroficação da água (processo de enriquecimento da água em nutrientes). Como resultado, há um rápido aumento na população de algas e cianobactérias. A morte e decomposição destes microrganismos levam a uma redução nos níveis de O2, o que pode levar à morte de peixes e crustáceos. A decomposição destas espécies, por sua vez, irá reduzir ainda mais os níveis de O2, levando a mais mortes.

A aplicação de compostos nitrogenados no solo também contribui para o processo de acidificação. A Tabela 1 mostra o potencial acidificante de alguns fertilizantes nitrogenados utilizados para a produção agropecuária.

Tabela 1: Potencial de acidificação de alguns fertilizantes nitrogenados

Tabela 1

1Quilos de calcário/tonelada de adubo: sinal negativo (-) indica a quantidade de calcário necessária para neutralizar 1 tonelada de adubo; sinal positivo (+) indica a quantidade de calcário equivalente a 1 tonelada de adubo.

Fonte: Malavolta (1989)

Em locais onde não se pratica a calagem, a acidificação do solo pode reduzir a disponibilidade de alguns nutrientes (ex: fósforo e micronutrientes) e liberar elementos tóxicos (ex: alumínio), reduzindo a produtividade da cultura.

O excesso de fertilizantes nitrogenados pode também aumentar a quantidade dos óxidos nítrico e nitroso na atmosfera. O óxido nítrico pode provocar chuva ácida e o óxido nitroso participa de dois processos muito agressivos ao ambiente. A reação do óxido nitroso com o O2 contribui para a destruição da camada de ozônio na estratosfera (camada da atmosfera que filtra os raios ultravioletas prejudiciais à saúde humana) e aumenta o efeito estufa (aquecimento global). A vida média do óxido nitroso na atmosfera é superior a 100 anos e cada molécula absorve mais de 200 vezes a radiação que uma única molécula de CO2, sendo esse gás responsável por 2 a 3% do aquecimento global decorrente do efeito estufa.

Como pode ser observado, o uso do nitrogênio na produção agropecuária, apesar de essencial, deve ser feito com critério. No próximo artigo serão discutidas alternativas para se reduzir o impacto do uso de fertilizantes nitrogenados sobre o ambiente.

1 Colaborou

Patricia Menezes Santos, Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP

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