Por Antonio Roque Dechen, presidente da Fundação Agrisus, professor do departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, parte do Conselho Científico de Agricultura Sustentável – CCAS
Hoje, 19 de setembro de 2014, completa 100 anos o Engenheiro Agrônomo Fernando Penteado Cardoso. Desde a infância destacou-se pela habilidade intelectual e pelo desempenho escolar: foi sempre o primeiro aluno em todos os cursos. Matriculou-se na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) em janeiro de 1933 e em 25 de janeiro de 1934 era aluno da ESALQ quando a Universidade de São Paulo foi fundada. Formou-se em Engenheiro Agrônomo em 1936, como primeiro aluno da turma, com uma das melhores médias conquistadas até hoje.
No começo de sua vida profissional, em 1936, os tempos eram difíceis, a agricultura precária, porém ele sempre continuou estudioso e atento aos problemas, que aumentaram com o início da segunda guerra mundial: grandes dificuldades que, para serem superadas, exigiram esforço e dedicação e, principalmente, uma visão diferenciada.
Empreendedor nato, em tempo de grande crise, vendo a necessidade de fertilizantes para o desenvolvimento da agricultura, sempre com o foco na fertilidade e na conservação do solo, foi um dos pioneiros em trabalhos práticos em conservação do solo.
As terras esgotadas após anos de cultivo, exigiam especial empenho quanto à reposição de nutrientes. A guerra cortara importações, restringindo os adubos ao farelo de algodão, aos ossos e resíduos animais e às cinzas, tanto de café como das tortas oleaginosas, após a extração do óleo comestível. Com especial empenho e com suprimento de cinzas ricas em fósforo, potássio e micronutrientes, começou a formular um produto excepcional para a penúria dos tempos de guerra.
Durante cinco anos foram utilizados antigos armazéns desativados em Descalvado (SP), moendo, misturando com rôdo e enxada, peneirando em telas inclinadas, ensacando a pá, pesando, costurando, empilhando e carregando a mão e braços numa operação primitiva, porém acompanhada por controle analítico para assegurar qualidade e respeitar as garantias anunciadas. Este foi o embrião da Manah, empresa que se tornaria emblemática, marca reconhecida como “Notória”. “Adubando Dá” tornou-se um slogam gravado no subconsciente de milhões de brasileiros.
O crescimento populacional e a necessidade de maior produção de alimentos aumentaram os desafios para os profissionais das ciências agrárias. Nos anos 70 assistimos à Revolução Verde de Norman Borlaug, com a obtenção de variedades capazes de responder à adubação. Particular amigo do Dr. Fernando, Borlaug acompanhou-o em diversas viagens pelo Brasil, para verificar a segunda Revolução Verde, com a conquista do Cerrado, uma das últimas fronteiras agrícolas, graças à transferência dos resultados de pesquisa, e estabeleceu com sucesso a integração lavoura X pecuária, e a Terceira Revolução: a adoção do sistema de plantio direto, ao qual Fernando Penteado Cardoso refere-se como: “agricultura com água e ar limpos”.
Em sua trajetória profissonal, Cardoso exerceu inúmeras atividades, como funcionário da Secretaria da Secretaria da Agricultura do ESP, de 1937 a 1941, administrador rural, Secretário da Agricultura em 1964, presidente do IPT, membro do Conselho Assessor da Embrapa, além de várias atividades classistas. Ainda hoje é membro do Conselho Superior do Agronegócio da FIESP.
Com a venda do Grupo Manah no ano 2000, seria normal pensar em aposentadoria, porém não para ele. Aos 86 anos, surge uma nova tarefa, uma nova missão, um sonho. Como continuar o trabalho em prol da conservação do solo, da fertilidade e sustentabilidade da produção agrícola? Nasce aí, por dotação orçamentária de sua família, a Fundação Agrisus, única entidade privada de financiamento à pesquisa agronômica no país.
Nessa época eu era o diretor presidente da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz – FEALQ. No dia 24 de abril de 2001, recebi uma ligação do Dr. Fernando informando que a Agrisus estava registrada e oficialmente já existia: os projetos aprovados seriam gerenciados pela FEALQ. Naquela data, a comunidade foi informada de que a Fundação Agrisus, em conjunto com a FEALQ, iriam somar esforços na formação de profissionais capazes de gerar sólida tecnologia e de promover uma agricultura progressista, econômica e estável, em benefício das gerações futuras. Hoje, a semente plantada da Fundação Agrisus está consolidada: foram aprovados 691 projetos no período e temos 51 projetos em andamento.
Esta é uma parte da extensa saga de Fernando Penteado Cardoso, uma profissão de fé pela agronomia e pela sustentabilidade uma vida de dedicação e sucesso, cujo histórico nos permite concluir que, trabalhando dá.
Por Antonio Roque Dechen, presidente da Fundação Agrisus, professor do departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, parte do Conselho Científico de Agricultura Sustentável – CCAS
2 Comments
Uma justa homenagem, ao maior exemplo da agricultura e pecuária brasileira. Com certeza uma grande inspiração para todos os brasileiros
Parabéns pelos 100 anos e pelos feitos realizados pelo nosso pais
Parabéns ao nosso grande colega e inspirador ,tive o prazer de ser colega de turma de seu filho e é este exemplo de cidadão que nos honra como profissionais da agronomia .Eng Agr Marcus R.Castellani Esalq 72