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Fazenda Futuro vai atravessar fronteiras

“Aqui, no futuro, não adianta falar em desenvolvimento sustentável matando boi e usando mais recursos naturais”. Foi assim, em tom provocativo, que a Fazenda Futuro transmitiu, em agosto, as boas-vindas à gigante Marfrig, que acabara de se tornar concorrente no negócio de hambúrguer feito de planta.

Em longo anúncio publicado nos grandes jornais, a foodtech liderada pelo carioca Marcos Leta dava estocadas na ambição da rival brasileira de ser a maior do planeta na fabricação de hambúrgueres. “O mundo não pertence só aos gigantes, mas aos transformadores”, dizia o texto.

Ironicamente, a rede comercial que dá vazão às exportações brasileiras de carne sustentará a projeto da Fazenda Futuro de se estabelecer globalmente. Se o plano desenhado por Leta prosperar, o Brasil passará a ser conhecido como um grande fornecedor de proteínas vegetais que imitam a carne.

“Qual foi a sorte? Como nascemos no Brasil e não na Tailândia, os grandes compradores de carne do mundo inteiro estão aqui”, afirmou Leta, em entrevista concedida ao Valor em um espaço compartilhado mantido pela Fazenda Futuro na capital paulista.

Com seu hambúrguer à base de plantas desde maio em lanchonetes e varejistas- o Futuro Burger é campeão de vendas no Pão de Açúcar -, a foodtech atraiu a atenção de importadores que experimentaram o produto, abrindo o canal que viabilizou a entrada da novata brasileira no mercado da Europa.

Nesta semana, a Fazenda Futuro fez a primeira entrega do produto na Holanda. Na sequência, virão Inglaterra e Alemanha. A ideia é que, em dois anos, as exportações à Europa rendam € 40 milhões (o equivalente a R$ 180 milhões). Leta guarda o faturamento no Brasil a sete chaves, mas estima-se que a foodtech faça atualmente 60 toneladas de hambúrguer por mês. Tomando como base o preço do produto nas gôndolas – R$ 17,99 por uma caixa com dois hambúrgueres de 115 gramas -, o faturamento anual da Fazenda Futuro poderia se aproximar de R$ 50 milhões.

Para sustentar os planos de expansão, a Fazenda Futuro recebeu em julho um aporte de capital de US$ 8,5 milhões. O investimento, liderado pela gestora brasileira de venture capital Monashees, avaliou a companhia em US$ 100 milhões. O controle da foodtech permanece com Leta e o seu parceiro Alfredo Strechinsky – juntos, os dois criaram a sucos Do Bem, que foi vendida em abril de 2016 para a Ambev.

Os recursos viabilizarão a ampliação da capacidade da fábrica de Volta Redonda (RJ), de 113 toneladas para 550 toneladas mensais – a produção efetiva só vai se aproximar da plena capacidade ao longo de 2020. “O plano é chegar a 1,5 mil toneladas por mês”, afirmou Leta, sem especificar prazos.

Para atingir esse plano, o mercado externo não será suficiente. É preciso ampliar a presença no mercado doméstico, que movimenta R$ 20 bilhões anuais em hambúrguer. Pelas projeções da Futuro, o produto vegetal terá mercado potencial de R$ 1,2 bilhão em 2023.

Mas aumentar a fatia nessa frente está longe de ser trivial. No Brasil, o mercado de proteínas vegetais é um jogo cada vez mais renhido. Além da Marfrig, que concentra a atuação no food service – a empresa fornece ao Burger King -, a Seara lançou recentemente uma ampla linha de produtos vegetais, com quibe, empanados “sabor frango” e hambúrguer, é claro. A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, também prepara a entrada no mercado de proteínas vegetais.

A concorrência dos frigoríficos, que faturam dezenas de bilhões e têm bala na agulha para investir, não assusta o fundador da Fazenda Futuro. Na avaliação dele, o consumidor de carnes à base de plantas não deve aceitar a presença dos frigoríficos tão facilmente. Na visão dele, não é apenas um mercado.

“O propósito do plant based surgiu para combater um sistema de produção de carne que você desmata, gasta muito recurso e tem sacrifício animal. Quem empurra esse segmento são os jovens, de 18 a 34 anos, e essa galera compra a experiência inteira. Não quer financiar um frigorífico porque no final do dia vai continuar matando boi”, argumentou.

De espírito combativo quando o assunto é a indústria tradicional, o empresário tergiversa quando perguntado sobre a possibilidade de vender a Fazenda Futuro para um gigante da carne. “Diria que é muito mais um projeto de vida do que um projeto de construção de uma marca”, disse, ressaltando sua crença de que o Brasil pode se tornar um “player global de plant based”.

Quando o futuro chegar, acredita o empreendedor, não só produtos mais simples como hambúrguer e almôndega serão feitos a partir vegetais como ervilha, soja e grão de bico. “Vai ter tecnologia para chegar em um pedaço de carne, um bife”, projetou Leta. As informações são do Valor Econômico.

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