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Expectativa de uma ‘agroinflação’ moderada em 2018

Depois de terem colaborado decisivamente para os baixos índices inflacionários no país em 2017, os alimentos voltarão a pesar um pouco mais no bolso dos consumidores brasileiros em 2018. Segundo economistas e analistas do setor, as recentes valorizações da soja e do milho tendem a puxar para cima os preços das carnes, principalmente no segundo semestre, e produtos básicos como arroz e feijão, além de hortifrútis, também deverão voltar a subir após as baixas observadas no ano passado.

Não são esperadas, contudo, disparadas capazes de impulsionar a “agroinflação” aos picos de 2015. A LCA Consultores espera que, no IPCA, o subgrupo alimentação no domicílio registre variação positiva de cerca de 2%, ante queda de 4,85% no ano passado. O subgrupo mede as oscilações dos preços nos supermercados e, em março, teve participação de 16% no IPCA. A LCA estima que o feijão, por exemplo, subirá 3%, depois de um recuo de 40% em 2017. Para tubérculos e frutas, a consultoria prevê aumento de 12%.

“Vamos ter inflação, mas bem abaixo que em outros anos. Não vejo como um movimento necessariamente ruim”, afirmou Fábio Romão, economista da LCA. Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, projeções de mercado indicam que o IPCA deverá fechar 2018 com alta de 3,48%, maior que a do ano passado (2,95%) mas ainda abaixo da
meta.

Dentre as pressões que virão do campo, talvez a principal preocupação seja o milho, cujas cotações estão em ascensão desde o início do ano em virtude da quebra da safra da Argentina, que elevou a demanda externa pelo produto brasileiro, da própria redução do plantio no Brasil nesta temporada depois dos baixos preços praticados em 2017, quando foi colhida uma supersafra do cereal.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), as exportações brasileiras de milho somaram 605,3 mil toneladas em março, 2,5 vezes mais que em março do ano passado. No primeiro trimestre, alcançaram 3 milhões de toneladas, um aumento de 38,6% em relação aos três primeiros meses de 2017.

Essa maior demanda tem enxugado os estoques mais rapidamente do que se previa. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2017/18 começou com 17,7 milhões de toneladas de milho estocadas, quase três vezes mais que no início de 2016/17. Em dezembro, a estatal previa que o volume aumentaria para 23,5 milhões de toneladas ao término da temporada, mas essa estimativa já foi ajustada para 15,8 milhões.

Com a demanda aquecida, os preços no mercado interno subiram 19,5% nos três primeiros meses de 2018, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, a alta é de 34%. Essa escalada deverá perder força com a entrada no mercado da produção de milho safrinha, a partir de maio, mas não no ritmo habitual. Isso também porque o atraso do plantio de soja deslocou o plantio de milho para depois da “janela” climática considerada ideal, o que deverá reduzir a produtividade média das plantações.

Nessa mesma equação, outro fator que limita uma queda acentuada dos preços é a perspectiva de recuo da área plantada do cereal nos Estados Unidos em 2018/19, o que deve reduzir a oferta daquele país. Assim, a Tendências Consultoria calcula que a alta do milho no mercado brasileiro chegará a 19% em 2018. Em 2017, houve baixa de 11,5%, conforme o indicador Esalq/BM&FBovespa.

A soja também está em alta no país. A quebra da safra da Argentina e a guerra comercial entre os EUA e a China valorizaram os prêmios para exportação do grão brasileiro e encareceram o farelo, outro insumo usado em rações para animais. O indicador Esalq/BM&FBovespa para a soja negociada no porto de Paranaguá (PR) mostrou um aumento de 10% no primeiro trimestre do ano e de 8,2% na comparação com o mesmo período de 2017.

Contudo, os saltos dos preços dos grãos deverão chegar de maneira moderada ao IPCA de 2018. Isso porque os frigoríficos estão com dificuldades para repassar incremento de custos para os produtos finais. A Operação Trapaça (ver página B11) voltou a deprimir a demanda externa por carne de frango e tem sobrado produto no mercado interno. “Já houve uma escalada forte de custos e não houve repasse. O cenário econômico e a grande oferta tem dificultado repasses”, afirmou André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Em março, Gilberto Tomazoni, CEO global de operações da JBS, confirmou em teleconferência que a empresa não estava conseguindo repassar o aumento de custos para os produtos da marca Seara – área de aves e processados da companhia. “Por conta só do aumento dos custos dos grãos, para repassar esses custos, teríamos que promover um aumento de 5,5% nos preços dos produtos”, disse ele na ocasião.
Mesmo que a lenta recuperação da economia brasileira esteja dificultando a alta de preços no varejo, a LCA Consultores estima inflação de 1% para as carnes em 2018, ante a deflação de 2,5% em 2017. O item tem participação de 2,6% no IPCA inflação. “Se a gente pegar a base, é uma alta bem relevante”, afirmou o economista Márcio Milan, da Tendências.

André Braz, do Ibre/FGV, lembra que “havia muita gordura a ser queimada nos preços em 2017”. De acordo com ele, os preços dos produtos agrícolas estavam muito elevados em decorrência da quebra da safra 2015/16, por isso houve uma queda mais expressiva em 2017. “Agora, não há muito o que devolver e é saudável que haja inflação neste ano”, afirmou. O economista calcula que os preços das carnes subirão 0,5% em 2018.

Na mesma linha, Mauricio Oreng, economista-chefe do Rabobank, acredita que 2018 é um ano de normalização. “A supersafra de 2017 gerou a deflação. Neste ano, a previsão não é de um desenvolvimento tão impressionante”, disse. O Rabobank projeta inflação de 3,2% em 2018, com aumento da alimentação em domicílio da ordem de 2%.

Fonte: Valor Econômico.

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