Exportações de carne bovina do Mercosul aumentaram em 9,3%
22 de setembro de 2016
Pobre Juan convida para lançamento inédito dos cortes da raça Senepol
22 de setembro de 2016

EUA: Por que a carne produzida a pasto está na moda

As pessoas estão cada vez mais querendo saber se a vaca que originou seu bife comeu pasto nos Estados Unidos. A carne produzida a pasto, que antes era um nicho de luxo, agora é vendida em eventos esportivos, centros de convenção e em quase todos os Wal-Mart dos Estados Unidos.

Carne rotulada como produzida a pasto conota muito mais do que os gados criados a pasto, disseram donos de restaurantes e supermercados. Muitos consumidores percebem a carne produzida a pasto – grass-fed – como sendo mais saudável, uma alternativa de maior qualidade à carne convencional e estão dispostas a pagar mais por ela, não importando se a rotulagem – e o sabor – podem ser inconsistentes.

Carne grass-fed refere-se a animais criados no pasto, consumindo pasto ou forragem, como feno, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Os métodos convencionais de criação de gado dos Estados Unidos envolve alimentá-los com grãos, como milho e soja, para construir gordura. O uso de antibióticos, hormônios de crescimento, pesticidas e confinamento pode variar de fazenda para fazenda, bem como o sabor e a maciez da carne.

“Quando os consumidores veem ‘grass-fed’ no cardápio, sabem que estamos fornecendo ingredientes de qualidade”, disse o presidente de esportes e entretenimento da Aramark, companha de foodservice, Carl Mittleman. No últimos cinco anos, a Aramark começou a servir carne produzida a pasto em locais como Fenway Park, em Boston, e Anaheim Convention Center, em Anaheim, Califórnia. “As pessoas estão dispostas a pagar um preço premium pela melhor qualidade”.

As vendas de carne produzida a pasto compreenderam apenas 1,4% do mercado de US$ 18 bilhões de carne bovina fresca dos Estados Unidos em 2015, mas sua taxa de crescimento ultrapassou de longe a carne bovina convencional nos últimos anos, de acordo com a firma de pesquisa de mercado, Nielsen. No ano passado, as vendas de carne produzida a pasto aumentaram quase 40% com relação ao ano anterior, enquanto as vendas de carne convencional cresceram em 6,5% no mesmo período.

As pessoas frequentemente precisam pagar 30% a 80% mais por quilo de carne produzida a pasto do que pela carne convencional, mas ultimamente, os preços têm moderado e a disponibilidade de carne produzida a pasto tem melhorado, à medida que mais produtores entram no mercado premium.

Anna Tang disse que ostenta na carne moída produzida a pasto quando a encontra em um cardápio ou quando faz molho para espaguete em sua casa. “Não me importo de pagar um pouco a mais, porque isso significa mais para minha saúde”, disse ela, que trabalha nas admissões para a Universidade Pittsburgh. A carne produzida a pasto é mais magra e normalmente, livre de antibióticos.

grassfed-1Foto: J. SCOTT APPLEWHITE/AP

A Wal-Mart Stores Inc. vende embalagens de 0,45 quilos de carne moída rotulada como ‘orgânica’ e ‘grass-fed’ por US$ 5,98 em quase 4.600 lojas dos Estados Unidos, após começar a vender o produto em apenas alguns locais há dois anos, disse o porta-voz da companhia, John Forrest Ales. O Wal-Mart vende outros cortes produzidos a pasto, mas os estoca a maioria das lojas com carne moída, porque é mais barata e têm mais chances de fazer parte de dietas tradicionais.

Nem toda carne produzida a pasto é orgânica, mas a medida é parte de um esforço mais amplo do Wal-Mart para vender mais produtos orgânicos e premium para alcançar compradores jovens e de maior renda. A carne bovina estrelou um anúncio em vídeo online do Wal-Mart no começo desse ano, que mostrava hambúrgueres grelhados em uma grelha com o slogan: “Alguém está agora oferecendo carne moída orgânica. Alguém adivinha quem?”.

grassfed-2O M&T Bank Stadium, em Baltimore, vende hambúrguer com carne a pasto com bacon, cebolas grelhadas e queijo americano. Foto: Aramark.

“Não é um grande mercado, mas acho que temos que tentar”, disse a vice-presidente do Sam’s Club, cadeia de armazéns que pertence ao Wal-Mart, Missy Craig. O Sam’s Club em Jackson, Michigan, nesse verão, começou a oferecer uma pequena vitrine com carne moída orgânica produzida a pasto, o que Craig disse que lembrou os compradores que podem vir para a cadeia e encontrar itens inesperados. O Sam’s Club começou a vender carne a pasto em 200 lojas na primavera passada e, até o final do ano, venderá em cerca de dois terços de suas 654 lojas, disse um porta-voz da companhia.

Nem todos os varejistas do país entraram nessa onda. O Costco Wholesale Corp., segundo maior varejista dos Estados Unidos depois do Wal-Mart, não vende carne produzida a pasto, embora venda carne moída orgânica em todas as lojas do país. A definição de carne a pasto ainda é muito ambígua, o sabor é inconsistente e os consumidores do Costco gravitam mais para o rótulo ‘orgânico’ atualmente, disse Jeff Lyons, vice-presidente sênior de alimentos frescos do Costco.

O Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do USDA revisa todas as declarações em rótulos de carnes vermelhas e de aves, incluindo grass-fed. O órgão revisa documentos, ao invés de enviar inspetores para fazendas como fazem com os produtos certificados como orgânicos pelo USDA.

Alguns produtores de carne bovina a pasto dizem que as diretrizes do USDA não são suficientes. “Quando os consumidores veem grass-fed no rótulo, têm essa visão em mente, de que a carne veio de um local não tão longe, de animais criados a pasto e que não receberam antibióticos e hormônios e, em muitos casos, isso não é verdade”, disse a porta-voz da Associação Americana de Gado Criado a Pasto, Marilyn Noble. O grupo comercial tem seu próprio programa de certificação que define os animais criados a pasto como aqueles que não consome nada além de pasto e forragem, sem confinamento, antibióticos ou hormônios de crescimento, e que são nascidos e criados apenas nos Estados Unidos.

Orientações ruins também significam que os consumidores se arriscam comprando carne bovina produzida a pasto com sabor péssimo, disse o diretor de compras de carnes vermelhas e brancas do Fresh Direct, localizado em Long Island City, Nova York, Stefan Oellinger. A loja online já trabalhou com fornecedores de carne produzida a pasto para desenvolver m nível consistente de sabor, maciez e nível de gordura.

grassfed-3Sanduíche original de filé mignon, do Pat LaFrieda, vendido em Citi Field, Nova York. É feito com carne 100% Angus, produzida a pasto. Foto: Mark S. Levine.

Os clientes do Fresh Direct de carne bovina produzida a pasto aumentaram em 74% desde 2013 e, agora, cerca de um terço de todos os clientes de carne bovina compram o produto produzido a pasto.

O diretor executivo do restaurante, Gramercy Tavern, em Nova York, Michael Anthony, visita as fazendas que fornecem sua carne para garantir que elas entenderam seus métodos. “Tenho uma posição muito difícil para o restaurante de que se não puder encontrar uma fonte confiável da carne bovina, e conheço os produtores com base em seu primeiro nome, então, não servirei o produto”.

Anthony prefere carne bovina de animais criados a pasto e terminados com grãos para seu restaurante, incluindo os 30 hambúrgueres que o Gramercy Tavern faz todos os dias para os clientes que pedem esse item fora do cardápio. Ele gosta de carne terminada com grãos, o que significa que os animais recebem grãos em seu estágio final de vida, porque esse processo adiciona uma gordura mais saborosa do que a carne magra totalmente produzida a pasto.

O diretor executivo do Red, churrascaria em Miami Beach, Peter Vauthy, evita servir carne produzida a pasto, já que não gosta de sua textura, sabor e falta de marmoreio comparado com a carne produzida com grãos, que ele prefere servir. “Exige muita mastigação e não é ta macia quanto maus convidados gostariam que fosse”.

A carne produzida a pasto custa mais nos Estados Unidos em parte porque o animal demora mais tempo para alcançar o peso de abate, cerca de 24 a 36 meses, comparado com 14 a 18 meses da carne criada da forma convencional no país, disse Dana Ehrlich, diretora executiva da Verde Farms, de Woburn, companhia que importa carne produzida a pasto do Uruguai, da Austrália e da Nova Zelândia, entre outros países. A companhia disse que vendeu 4,5 milhões e quilos de carne produzida a pasto no ano passado, bem mais que os 108.000 quilos vendidos em 2008. As vendas alcançaram US$ 50 milhões no ano passado, mais que os US$ 665.000 em 2008.

O Whole Foods Market Inc. lançou diretrizes adicionais para sua carne bovina produzida a pasto, incluindo que não tivesse antibióticos ou hormônios de crescimento, e que a carne fosse criada em pasto por pelo menos dois terços da vida do animal.

Theo Weening, coordenador global de carnes, Whole Foods, espera que a demanda por carne bovina produzida a pasto cresça além dos apetites humanos. “Quando um cliente gosta de carne produzida a pasto e têm um cachorro, ele quer dar ao cachorro a carne produzida a pasto também”.

O artigo é de Ellen Byron e Sarah Nassauer, para o The Wall Street Journal, traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint.

4 Comments

  1. José Ultímio Junqueira Junior disse:

    Se a moda se espalhar pelo mundo “vai dar bom pro Brasil !”

  2. Rafael Gomes disse:

    A suplementação protéica-energética à pasto mantem a classificação como “grass fed”?

  3. celso de almeida gaudencio disse:

    Sem dúvida, a concepção de sistema misto lavoura pasto é o único meio para produção renovável com ganhos em produtividade e ambiental, por meio da melhoria física, química e biológica do solo. No sistema misto, a produção de forragem é aumentada. Mas, o efeito maior se constata nos cultivos anuais. Nestes sistemas, somente sem citar outros benefícios, é pelo aumento do material orgânico, elevação da capacidade de troca catiônica e pela reciclagem de nutrientes no solo, que por si só apresentam efeitos imensuráveis sobre a melhoria da capacidade produtiva. O desafio da pesquisa é conceber modelos de longa duração de sistemas mistos lavoura-pastagem, associado ou não ao reflorestamento, tornando o ambiente produtivo evoluído biologicamente para um novo e diferenciado ecossistema rural.
    Inferir que na biologia nada se sustenta, mas tudo evolui e se renova. Conceituar assim para não passar vergonha.

  4. Atílio Ibargoyen disse:

    Os bovinos são classificados biologicamente como “ruminantes”. Estes animais ao exercerem a sua “biologia natural” comendo exclusivamente pastos (gramíneas e leguminosas) estarão produzindo um alimento (carne) de alta qualidade nutritiva e seguro.

plugins premium WordPress