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EUA: governo dá maus conselhos sobre alimentação

Por Nina Teicholz, autora do livro “The Big Fat Surprise: Why Butter, Meat and Cheese Belong in a Healthy Diet”, para o The New York Times.

Por duas gerações, os americanos consumiram menos ovos e outros produtos de origem animal porque os membros do governo disseram a eles que a gordura e o colesterol eram ruins para sua saúde. Agora, ambos os dogmas foram desmascarados um em seguida do outro.

Primeiro, no outono passado, especialistas do comitê que desenvolve as diretrizes dietéticas dos Estados Unidos reconheceram que abandonaram a dieta com baixo teor de gordura. Na quinta-feira, o relatório desse comitê foi divulgado, com uma mudança ainda maior: retirou-se a carapuça que servia há muito tempo ao colesterol, dizendo que “não há relação apreciável” entre o colesterol dietético e o colesterol sanguíneo.

Os americanos, como se vê, vêm evitando desnecessariamente gema de ovo, fígado e mariscos há décadas. As novas diretrizes, a primeira a ser lançada em cinco anos, influenciará tudo, desde lanches escolares até aconselhamento dietético por médicos.

Como os especialistas erraram tanto? Certamente, a indústria alimentícia tem turvado a água através de seu lobby. Mas o problema primário é que a política de nutrição têm se baseado há muito tempo em um tipo muito fraco de ciência: estudos epidemiológicos ou “observacionais” em que os pesquisadores acompanharam grandes grupos de pessoas por muitos anos.

Porém, mesmo os estudos epidemiológicos mais rigorosos sofrem de uma limitação fundamental. Na melhor das hipóteses, eles podem mostrar somente uma associação, não uma causa. Os dados epidemiológicos podem ser usados para sugerir hipóteses, mas não para prová-las.

Ao invés de aceitar que essa evidência era inadequada para dar um bom conselho, cientistas exageraram na significância de seus estudos.

Grande parte dos dados epidemiológicos que apoiam o conselho dietético do governo vem de estudos feitos pela Escola de Saúde Pública de Harvard. Em 2011, diretores do Instituto Nacional de Ciências Estatísticas analisaram muitas das mais importantes descobertas e descobriram que essas não podiam ser reproduzidas em estudos clínicos.

Não surpreende, então, que as diretrizes nutricionais de longa data estejam agora sendo mudadas.

Em 2013, o conselho do governo de reduzir a ingestão de sal (que continua no relatório atual) foi contradito por um estudo oficial do Instituto de Medicina. Várias meta-análises recentes levantaram sérias dúvidas se as gorduras saturadas estão relacionadas a doenças cardíacas, conforme as diretrizes dietéticas continuam afirmando.

A ciência incerta não deveria mais guiar nossa política nutricional. De fato, cortar gordura e colesterol, como os americanos têm feito de forma consciente, pode até ter piorado nossa saúde. Ao tirar de nossos pratos carnes vermelhas, ovos e queijos (gordura e proteína), consumimos mais grãos, massa e vegetais ricos em amido (carboidratos).

Durante os últimos 50 anos, cortamos a ingestão de gordura em 25% e aumentamos a de carboidrato em mais de 30%, de acordo com a nova análise de dados do governo. Além disso, ciência recente vem mostrando cada vez mais que uma dieta rica em carboidratos presentes no açúcar e nos grãos refinados aumenta o risco de obesidade, diabetes e doenças cardíacas – muito mais do que uma dieta rica em gordura e colesterol.

Não é que as autoridades de saúde não foram avisadas. “Elas não estavam agindo com base em evidências científicas, mas com base em ideais plausíveis, mas não testadas”, disse o especialista da Universidade Rockefeller, Edward H. Ahrens Jr., que é um crítico proeminente da crescente doutrina de gorduras e colesterol da dieta, advertida na década de 80.

Diante da pressão urgente de oferecer uma solução para o aumento das doenças cardíacas, entretanto, ele tornou-se a Cassandra [personagem da mitologia grega que fazia previsões sobre o futuro, mas que foi desacreditada pelo povo] de sua época.

Hoje, estamos correndo o risco de cometer os mesmos erros. O novo relatório do comitê também aconselhou a eliminação de “carne vermelha magra” da lista de alimentos saudáveis recomendados, bem como cortou carnes vermelhas e processadas. Menos opções de proteínas provavelmente encorajarão os americanos a comerem ainda mais carboidratos. Isso também terá implicações políticas: a carne pode ser limitada em lanches escolares e outros programas federais de alimentação.

É possível que a dieta em sua maioria sem carne seja saudável para todos os americanos – mas, novamente, isso pode não acontecer. Nós simplesmente não sabemos. Não há estudos clínicos rigorosos sobre essa dieta e, apesar de existirem dados epidemiológicos para adultos vegetarianos, não há nada sobre crianças.

Desde que as primeiras diretrizes nutricionais que mandavam restringir a gordura saturada e o colesterol foram divulgadas pela Associação Americana do Coração em 1961, os americanos estão sujeitos a um vasto e descontrolado experimento dietético com consequências desastrosas. Temos que começar a olhar de forma mais cética para os estudos epidemiológicos e repensar a política de nutrição a partir do zero.

Até lá, seria interessante voltar ao que funcionou melhor para as gerações anteriores: uma dieta que incluía menos grãos, menos açúcar e mais alimentos de origem animal, como carnes, lácteos integrais e ovos. Esse seria um começo decente.

Por Nina Teicholz, autora do livro “The Big Fat Surprise: Why Butter, Meat and Cheese Belong in a Healthy Diet”, para o The New York Times.

Veja matéria sobre o livro: Novo livro de dieta promove consumo de carnes vermelhas.

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