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Estratégias para aliviar o estresse durante o manejo dentro do sistema de produção de bovinos de corte

Por Rodrigo S. Marques , Bruno Cappellozza e Reinaldo F. Cooke

Rodrigo Marques é zootecnista e mestre pela Esalq/USP. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Science na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA

Bruno Capellozza é zootecnista e mestre Oregon State University. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Science na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA.

Reinaldo Cooke é professor e pesquisador na Oregon State University – Eastern Oregon Agricultural Research Center, Burns, OR

Devido ao aumento da população mundial nas próximas décadas e consequentemente aumento na demanda de alimentos, muitas pesquisas estão sendo direcionadas para aumentar a produtividade do sistema de produção de bovinos sem causar danos ao meio ambiente e minimizar as situações de estresse dos animais.

Particularmente, os rebanhos bovinos são inevitavelmente expostos a diversos estressores (psicológicos, fisiológicos e físicos) durante sua vida produtiva (Carroll e Forsberg, 2007) e muitos destes estão diretamente associados com os procedimentos de manejo atualmente praticados dentro da cadeia de produção dos bovinos de corte e leite.

Muitas vezes, os animais são expostos a vários estressores em um curto espaço de tempo (Araújo et al., 2010), tais como o desmame, formação de novos lotes e mistura com outros animais, e exposição a novos ambientes (estresse psicológico), ferimentos, estresse térmico, fadiga, restrições alimentar e hídrica durante o transporte (estresse físico), assim como uma perturbação nas funções endócrina ou neuroendócrina como resultado dos outros tipos de estresse (estresse fisiológico).

Perturbações internas ou externas ao organismo do animal, resultam em uma alteração no metabolismo hepático, promovendo síntese e liberação das proteínas de fase aguda em resposta ao desafio. As principais proteínas estudadas em bovinos que são sintetizadas e liberadas em resposta à um processo inflamatório são haptoglobina e ceruloplasmina, estas são negativamente correlacionadas com ganho de peso (Arthington et al., 2005), consumo de matéria seca (Araujo et al., 2010; Cooke et al., 2011) e subsequentemente queda no desempenho de animais submetidos a manejos estressantes.

Todos os estressores citados acima são diretamente relacionados com perdas econômicas gigantescas na indústria de carne. Essas perdas econômicas incluem, além das taxas de mortalidade dos animais, os custos associados com desperdício de alimentos, compra de medicamentos e redução no desempenho dos animais doentes (Loerch e Fluharty, 1999). Portanto, utilizar estratégias de manejo e nutricionais que previnam as doenças estimuladas pelo estresse devido aos inevitáveis procedimentos de manejo irão beneficiar o bem estar e a produtividade animal promovendo maior rentabilidade do sistema de produção de bovinos de corte.

Neste artigo iremos discutir algumas estratégias de manejo que podem minimizar as situações de estresse durante o transporte e a fase inicial do confinamento, podendo ser utilizadas como ferramentas dentro do sistema de produção de bovinos de corte resultando em melhor desempenho, saúde animal e maior retorno econômico para a indústria de carne.

Desmama Precoce: no sistema de produção de bovinos de corte, a desmama das crias ocorre ao redor dos 6-8 meses de idade. Esse procedimento é considerado estressante tanto para a vaca quanto para o bezerro. Pesquisas conduzidas anteriormente indicam que desmama precoce pode reduzir os sintomas de estresse (proteínas resposta da fase aguda) durante os procedimentos de manejo, tais como transporte, formação de lotes e entrada no confinamento, resultando em melhor desempenho e saúde animal.

Segundo Arthington et al. (2005), bezerros desmamados precocemente (89 dias de idade), suplementados a uma taxa de 1% do peso corporal e submetidos ao transporte rodoviário por 24 horas e entrada no confinamento logo após a desmama natural (300 dias de idade), foram mais tolerantes aos estressores relacionados com o transporte e entrada no confinamento e apresentaram melhor eficiência alimentar (0.15 vs. 0.08) e GPD (0.87 vs. 0.40 kg/dia) comparados com animais que foram submetidos a desmama natural.

Restrição de água e alimentos: Durante muitos processos de manejo dentro do sistema de produção de bovinos de corte, produtores adotam o jejum alimentar e hídrico, especialmente antes do transporte. Marques et al. (2012) reportaram que restrição alimentar e hídrica durante o transporte é o maior contribuinte para estimular uma resposta ao estresse (proteínas de fase aguda e cortisol – Figura 1) e reduzir o desempenho (Tabela 1) de animais durante a fase inicial de confinamento quando transportados por longas distâncias. Além disso, restrição alimentar estimula a mobilização de gordura corporal (Cooke et al., 2007), a qual desencadeia uma resposta ao estresse em bovinos (Cooke et al., 2012), estimula um desequilíbrio no ecossistema ruminal, causando morte microbiana (Meiske et al., 1958) e resultando em liberação de endotoxinas que também estimulam uma resposta ao estresse (Carroll et al., 2009).

Dados da literatura mostram que animais que sofreram restrição de água e alimentos tiveram menor consumo de matéria seca, menor ganho de peso e menor eficiência alimentar durante o período inicial (28 dias) de confinamento comparado com o grupo que não sofreu nenhum tipo de restrição. Levando em consideração os dados mencionados acima, alimentação adequada dos animais antes do transporte pode ser uma ferramenta simples e prática para evitar os problemas relacionados com o estresse e consequentemente melhorar a performance dos animais no período inicial de confinamento.

Captura de Tela 2013-11-08 às 16.30.05

Figura 1. – Concentração plasmática de cortisol (Gráfico 1) e haptoglobina (Gráfico 2) em animais submetidos ao transporte por 24h por 1200 km (TRANS, n = 15), animais não transportados mas com restrição de água e alimentos por 24h (REST, n = 15) ou animais não transportados e com livre acesso a água e alimentos (CON, n = 15). Letras indicam as seguintes comparações entre tratamentos a = TRANS vs. CON (P = 0.02), b = REST vs. CON (P ≤ 0.05), e c = TRANS vs. REST (P ≤ 0.04) (Marques et al. 2012).

Outra discussão pertinente nos sistemas de produção de bovinos é a necessidade ou não de paradas para descanso dos animais durante longo transporte rodoviário. Cooke et al. (2013) reportaram que o transporte de animais por 1230 km acompanhado de paradas para descanso e alimentação a cada 430 km (2 paradas durante o percurso), preveniu o aumento de cortisol circulante (principal indicador de estresse em bovinos) e aliviou a magnitude da resposta ao estresse causada pelo transporte, no entanto não aumentou o desempenho na fase inicial de confinamento de bovinos transportados. Paradas para descanso durante longos períodos de transporte, expõem os animais à estressores durante o manejo de descarregamento e carregamento do caminhão, os quais são conhecidos por estimular a resposta ao estresse (Carroll e Forsberg, 2007).

Tabela 1. Desempenho dos animais no período inicial de confinamento submetidos ao transporte por 24h por 1200 km (TRANS, n = 15), animais não transportados mas com restrição de água e alimentos por 24h (REST, n = 15) ou animais não transportados e acesso a água e alimentos (CON, n =15) (Marques et al. 2012).

Captura de Tela 2013-11-08 às 16.32.47

Administração de anti-inflamatórios: Uma alternativa para aliviar o estresse de animais transportados e entrando no confinamento é administração de anti-inflamatórios. Segundo Cooke et al. (2013) aplicação de flunixin melgumine (banamine – nome comercial) previne o aumento de cortisol sanguíneo e alivia a resposta das proteínas de fase aguda estimuladas pelo transporte, no entanto não aumentou o desempenho dos animais no período inicial do confinamento.

As ferramentas de manejo mencionadas acima podem não só diminuir a magnitude do estresse dos animais dentro do sistema de produção como também podem melhorar o desempenho, a saúde animal e a rentabilidade da indústria de carne bovina.

Literatura

Araújo, D. B., R. F. Cooke, G. R. Hansen, C. R. Staples, and J. D. Arthington. 2010. Effects of rumen-protected polyunsaturated fatty acid supplementation on performance and physiological responses of growing cattle following transportation and feedlot entry. J. Anim. Sci. 87:4125-4132.

Arthington, J. D., J. W. Spears, and D. C. Miller. 2005. The effect of early weaning on feedlot performance and measures of stress in beef calves. J. Anim. Sci. 83:933-939.

Carroll, J. A., and N. E. Forsberg. 2007. Influence of stress and nutrition on cattle immunity. Vet. Clin. Food. Anim. 23:105-149.

Carroll, J. A., R. R. Reuter, C. C. Chase Jr., S. W. Coleman, D. G. Riley, D. E. Spiers, J. D. Arthington, and M. L. Galyean. 2009. Profile of the bovine acute-phase response following an intravenous lipopolysaccharide challenge. Innate Immun. 15:81-89.

Cooke, R. F., B. I. Cappellozza, T. A. Guarnieri Filho,and D. W. Bohnert. 2013. Effects of flunixin meglumine administration on physiological and performance responses of transported feeder cattle. J. Anim. Sci. 91:5500-5506.

Cooke, R. F., D. W. Bohnert, P. Moriel, B. W. Hess, and R. R. Mills. 2011. Effects of polyunsaturated fatty acid supplementation on ruminal in situ forage degradability, performance, and physiological responses of feeder cattle. J. Anim. Sci. 89:3677-3689.

Cooke, R. F., J. A. Carroll, J. Dailey, B. I. Cappellozza, and D. W. Bohnert. 2012. Bovine acute-phase response following different doses of corticotrophin-release hormone challenge. J. Anim. Sci. 90:2337-2344.

Cooke, R. F., N. Silva del Rio, D. Z. Caraviello, S. J. Bertics, M. H. Ramos, and R. R. Grummer. 2007. Supplemental choline for prevention and alleviation of fatty liver in dairy cattle. J. Dairy Sci. 90:2413–2418.

Loerch, S. C., and F. L. Fluharty. 1999. Physiological changes and digestive capabilities of newly received feedlot cattle. J. Anim. Sci. 77:1113-1119.

Marques, R. S., R. F. Cooke, C. L. Francisco, and D. W. Bohnert. 2012. Effects of 24-h transport or 24-h feed and water deprivation on physiologic and performance responses of feeder cattle. J. Anim. Sci. 90:5040–5046.

Meiske, J. C., R. L. Salsbury, J. A. Hoefer, and R. W. Luecke. 1958. The effect of starvation and subsequent re-feeding on some activities of rumen microorganisms in vitro. J. Anim. Sci. 17:774-781.

Por Rodrigo S. Marques , Bruno Cappellozza e Reinaldo F. Cooke

 

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