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4 de dezembro de 2013
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4 de dezembro de 2013

Estratégias nutricionais para aliviar o estresse durante o manejo do sistema de produção de bovinos

Por Rodrigo S. Marques , Bruno Cappellozza e Reinaldo F. Cooke

A busca pela eficiência dos sistemas de produção de bovinos de corte passa pela manutenção da saúde dos animais. Bovinos de corte são expostos a diversas situações de estresse ou estressores em um curto espaço de tempo que podem trazer prejuízos a sua futura produtividade. Diversos são esses estressores, incluindo desmame, transporte e entrada no confinamento, quebra da hierarquia social devido à mistura com animais de outras propriedades, vacinação, castração, entre outros.

Todos esses estressores/situações estressantes estimulam uma resposta imune no organismo dos animais, inciando uma cascata de eventos com o intuito de “limpar” essa ameaça. Além disso, os impactos do estresse não se limitam apenas a uma situação em particular, podendo também abrir espaço para ocorrência de novas doenças e, consequentemente maiores problemas monetários para os produtores.

Animais que chegam estressados ao confinamento tem maiores chances de se tornarem mórbidos, resultando em diminuição na ingestão de matéria seca (IMS), ganho de peso diário (GPD), e com grandes chances de morrerem nas primeiras semanas. Por isso, é importante e necessário o desenvolvimento de estratégias nutricionais e de manejo que previnam ou pelo menos aliviem os danos causados pelo estresse durante atividades de rotina nas operações de bovinos de corte.

O objetivo deste artigo é fornecer algumas alternativas nutricionais para aliviar o estresse resultante do manejo em bovinos de corte, com a finalidade de manter um desempenho e saúde animal adequados, assim como a rentabilidade do sistema. Entretanto, é importante ter em mente que nem sempre uma alternativa que funciona bem em uma propriedade vai funcionar igualmente para todas as outras, indicando que os produtores devem reconhecer que essas estratégias existem, mas devem ser adaptadas da melhor maneira para cada propriedade. Mais informações sobre o sistema imune e algumas das respostas observadas, assim como estratégias de manejo que podem ser utilizadas para aliviar os efeitos do estresse durante o manejo dos animais podem ser encontradas no seguinte link .

Nutrição x Sistema Imune

O sistema imune de todos os seres vivos se interrelaciona com outros sistemas do organismo (endócrino e neural, por exemplo) para manter a homeostase, e consequentemente, adequado desempenho reprodutivo, crescimento e lactação do rebanho. Animais em deficiência nutricional são mais susceptíveis a doenças, assim como apresentam maiores dificuldades em “limparem” desafios imunológicos, sendo estes patogênicos ou não, tais como estresse.

Não existe, ou pelo menos nao foi reportado, se um nutriente é mais importante que o outro para os ruminantes, sendo que cada nutriente pode afetar diferentes funções do sistema imunológico (Carroll and Forsberg, 2007), e interagirem entre si para garantir uma adequada função immune.

Como exemplo, minerais e vitaminas apresentam funções de transporte de moléculas, composições enzimáticas e reconhecimento de patógenos, energia funciona como combustível para síntese e função das células do sistema imune, enquanto que proteínas servem de componentes estruturais das células, formação dos anticorpos, entre outros.

Proteína Metabolizável (PM)

Proteínas são necessárias para formação de anticorpos (imunogloblinas), composição do colostro para o bezerro recém-nascido e também para a síntese das proteínas de fase aguda. Após algum tipo de estresse (físico, psicológico ou fisiológico), o sistema imune inato é ativado, e proteínas de fase aguda são produzidas e liberadas pelos hepatócitos, sendo os aminoácidos seus principais substratos. Uma das características do estresse é o aumento nas concentrações plasmáticas de cortisol, estimulando a quebra de tecido corporal (muscular e adiposo) para suprir o aumento na demanda energética do animal.

Baseado nessa teoria, recentemente, Moriel e Arthington (2013) avaliaram o efeito do fornecimento de proteína metabolizável acima dos valores recomendados pelo NRC (85 vs. 100 vs. 115 %) para novilhos de corte submetidos à vacinação contra Mannheimia haemolytica. Esses autores observaram que oferecimento de 115 % dos requerimentos de PM, teve efeito positivo no sistema imune inato dos animais, possivelmente evitando um aumento na mobilização de tecido muscular para produção das proteínas de fase aguda, pois mais aminoácidos estavam disponíveis na circulação.

Ácidos graxos poliinsaturados (AGPI)

Dietas de bovinos de corte geralmente possuem baixos teores de gordura na sua composição, a fim de evitar quedas no consumo de matéria seca (MS) e distúrbios ruminais, tais como digetibilidade da fibra e morte bacteriana (Jenkins, 1993).

Entretanto, um crescente interesse na utilização de gordura nas dietas de ruminantes tem sido observado, pois alterando o perfil de ácidos graxos dos animais através da nutrição é um mecanismo de alterar a composição nutricional dos produtos oriundos destes animais, beneficiando, assim, a saúde dos seres humanos que consomem esse produto (Hess et al., 2008).

Ácidos graxos poliinsaturados contém 2 ou mais duplas ligações entre átomos de carbono, e podem ser classificados, principalmente como ômega-3 (linolênico e seus derivativos) e ômega-6 (linoléico e seus derivativos), de acordo com o número e a posição da primeira dupla ligação na cadeia.

Além disso, esses ácidos graxos são chamados de ácido graxos essenciais (AGE), pelo fato de que o ruminante não é capaz de produzir estes por conta própria, devendo ser obtidos a partir da dieta. Exemplos de fontes alimentares de ômega-3 incluem óleos de peixe, forragens e linhaça, enquanto que ômega-6 são encontrados no milho e farelo de soja. Além de alterar o perfil metabólico dos animais, o fornecimento de AGPI tem por finalidade aumentar a densidade energética da dieta, e também modular a resposta imune durante o manejo dos animais. Acidos graxos ômega-6 armazenados nas membranas celulares (ácido araquidônico) estimulam a produção de produtos pró-inflamatórios, tais como prostaglandinas (PG2). Esses produtos têm por característica estimular a resposta da fase aguda e outras respostas inflamatórias, tais como febre e a síntese e liberação de citocinas pro-inflamatórias. Ao contrário, ácidos graxos ômega-3 e seus derivativos têm propriedades antiinflamatórias.

Recentemente, nosso grupo de pesquisa (Cooke et al., 2011) demonstrou que o fornecimento de uma fonte de gordura protegida ruminal (Megalac) 28 dias antes do transporte e entrada no confinamento aliviou a resposta da fase aguda em novilhos de corte, sem efeitos negativos na degradabilidade ruminal da forragem, aumentando assim o desempenho no pré-transporte e marmoreio de carcaça ao abate quando comparados com animais recebendo uma dieta controle a base de milho e soja.

Em outro estudo, Cappellozza et al. (2012) suplementaram farelo de camelina (29 % ácido linoléico e 24 % ácido linolênico) durante o período de precondicionamento para novilhos de corte por 28 dias antes do transporte, como uma alternativa a tradicional dieta de milho-soja. Novilhos que receberam a dieta contendo farelo de camelina apresentaram maiores concentrações de ácidos graxos ômega-3, ômega-6, total AGPI, ácidos graxos totais, menores concentrações de proteínas de fase aguda e tenderam a apresentar melhor eficiência alimentar nos 28 dias após o transporte e entrada no confinamento.

Entretanto, apesar dos resultados positivos associados a suplementação com AGPI, os requerimentos dos ruminantes para esses nutrientes ainda não foram determinados, impedindo assim o esclarecimento do exato(s) mecanismo(s) pelo qual AGPI beneficia o sistema immune dos animais.

Estratégias e riscos do oferecimento de milho logo após transporte e entrada no confinamento

O oferecimento de milho para os animais ao chegarem ao confinamento após o transporte é uma prática comum e desejável nos sistemas de produção de bovinos de corte. Entretanto, como reportado por Marques et al. (2012), o maior causador da ativação de uma resposta imune durante o transporte é a falta de água e alimento.

Endotoxinas são moléculas que compõem a estrutura das bactérias e liberadas durante a morte bacteriana, apresentando uma fonte de risco e podendo estimular uma resposta imune no organismo do animal (Carroll et al., 2009). O desequilíbrio bacteriano ruminal na entrada do confinamento, associado com o oferecimento de milho, podem desequilibrar ainda mais esse ambiente, causando maiores liberações de endotoxinas e consequentemente, estimulando respostas imunológicas.

Uma alternativa para diminuir esse desequilíbrio e a consequente piora na saúde e desempenho é realizar o precondicionamento antes do transporte e entrada no confinamento. O objetivo desse programa é adaptar o animal e o rúmen a uma dieta contendo milho, reduzindo assim os danos usualmente observados como resultado do estresse e da mudança repentina de uma dieta a base de forragem para uma a base de grãos.

Conclusões

Estratégias nutricionais para aliviar o estresse causado pelas situações de manejo estão disponíveis e podem ser uma ferramenta viável dentro das operações de bovinos de corte, com o intuito de melhorar o desempenho, saúde, qualidade do produto final e rentabilidade do sistema em geral.

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Estratégias para aliviar o estresse durante o manejo dentro do sistema de produção de bovinos de corte

Por Rodrigo S. Marques , Bruno Cappellozza e Reinaldo F. Cooke

Rodrigo Marques é zootecnista e mestre pela Esalq/USP. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Science na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA

Bruno Capellozza é zootecnista e mestre Oregon State University. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Science na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA.

Reinaldo Cooke é professor e pesquisador na Oregon State University – Eastern Oregon Agricultural Research Center, Burns, OR.

Literatura citada

Cappellozza, B. I., R. F. Cooke, D. W. Bohnert, G. Cherian, and J. A. Carroll. 2012. Effects of camelina meal supplementation on ruminal forage degradability, performance, and physiological responses of beef cattle. J. Anim. Sci. 90:4042-4054.

Carroll, J. A., and N. E. Forsberg. 2007. Influence of stress and nutrition on cattle immunity. Vet. Clin. Food Anim. 23:105-149.

Carroll, J. A., R. R. Reuter, C. C. Chase Jr., S. W. Coleman, D. G. Riley, D. E. Spiers, J. D. Arthington, and M. L. Galyean. 2009. Profile of the bovine acute-phase response following an intravenous lipopolysaccharide challenge. Innate Immun. 15:81-89.

Cooke, R. F., D. W. Bohnert, P. Moriel, B. W. Hess, and R. R. Mills. 2011. Effects of polyunsaturated fatty acid supplementation on ruminal in situ forage degradability, performance, and physiological responses of feeder cattle. J. Anim. Sci. 89:3677-3689.

Hess, B. W., G. E. Moss, and D. C. Rule. 2008. A decade of developments in the area of fat supplementation research with beef cattle and sheep. J. Anim. Sci. 86:E188-E204.

Jenkins, T. C. 1993. Symposium: Advances in ruminant lipid metabolism. J. Dairy Sci. 76:3851-3863.

Marques, R. S., R. F. Cooke, C. L. Francisco, and D. W. Bohnert. 2012. Effects of 24-h transport or 24-h feed and water deprivation on physiologic and performance responses of feeder cattle. J. Anim. Sci. 90:5040–5046.

Moriel, P., and J. D. Arthington. 2013. Metabolizable protein supply modulated the acute-phase response
following vaccination of beef steers. J. Anim. Sci. 91:5838-5847.

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