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Estratégias do BNDES voltam a ser criticadas

O leitor do BeefPoint, Luiz Augusto Ribeiro do Valle, nos indicou o seguinte artigo de Míriam Leitão e Alvaro Gribel, a respeito da estratégia de injeção de recursos públicos em determinadas empresas adotada pelo BNDES, especificamente em relação ao financiamento dos frigoríficos. "O cemitério dos ex-campeões nacionais ou a ala das empresas moribundas estão cheios dessa suposta boa intenção de que se investe agora o BNDES. O banco derrama dinheiro público em determinados setores e empresas. Essa ideia velha, e já comprovadamente errada, é a de que se o Estado der muitos empréstimos subsidiados e incentivos fiscais a determinadas empresas escolhidas, elas serão fortes e vão liderar o desenvolvimento nacional".

O leitor do BeefPoint, Luiz Augusto Ribeiro do Valle, nos indicou o seguinte artigo de Míriam Leitão e Alvaro Gribel, a respeito da estratégia de injeção de recursos públicos em determinadas empresas adotada pelo BNDES, especificamente em relação ao financiamento dos frigoríficos. Confira.

“O governo Lula resolveu repetir erros velhíssimos como a ideia de que o Estado deve decidir que empresas e setores precisam ser grandes. A notícia de que R$ 18,5 bi foram dados ao setor frigorífico ou a reportagem da “Época” sobre os benefícios fiscais direcionados a algumas obras recriam instrumentos que criaram no passado inúmeras distorções, prejuízos e estão na raiz do processo inflacionário.

O cemitério dos ex-campeões nacionais ou a ala das empresas moribundas estão cheios dessa suposta boa intenção de que se investe agora o BNDES. O banco derrama dinheiro público em determinados setores e empresas. Essa ideia velha, e já comprovadamente errada, é a de que se o Estado der muitos empréstimos subsidiados e incentivos fiscais a determinadas empresas escolhidas, elas serão fortes e vão liderar o desenvolvimento nacional.

O economista Marcelo de Paiva Abreu lembra a lista de empresas mortas ou moribundas criadas exatamente neste tipo de proposta. A Coalbra faria álcool de madeira. A Caraiba Metais acabou tendo que ser estatizada. A Cobrasma seria a grande líder brasileira. Enfim, inúmeras.

– Em 1975, o BNDES criou três empresas com o objetivo específico de comprar ações de empresas privadas: a Embramec, Fibase e Ibrasa. A Embramec, por exemplo, tinha o objetivo de fortalecer as empresas de bens de capital comprando ações, a Fibase fazia o mesmo com o setor de insumos básicos. Tudo isso provocou um enorme prejuízo ao país, já queimamos os dedos. Houve também incentivos para o setor bélico, com a Engesa. Fizemos até um tanque, o Osório, que pelos planos seria o grande tanque do Oriente Médio e que foi um grande fracasso. Pode-se argumentar que a Embraer foi um sucesso, mas antes ela fracassou e teve que receber novas injeções de recursos públicos – lembra Marcelo.

O “Estadão” fez a conta completa do que temos dado aqui na coluna com espanto: até agora, o BNDES já concentrou R$ 18,5 bilhões em empréstimos e participações societárias no setor de frigoríficos. E mais: escolhe alguns e recusa outros. O mais beneficiado é o JBS/Friboi. Do Independência, como já disse, o banco comprou ações, deu empréstimo numa operação total de R$ 450 milhões, e logo depois ele faliu.

Na reportagem da última edição da “Época” – cuja leitura recomendo – a jornalista Isabel Clemente analisou 324 obras do PAC que estão recebendo benefícios fiscais do Reidi (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura). As obras enquadradas não pagam PIS/Cofins. Foram encontradas várias irregularidades. A ideia era atrair capital privado para investimento em infraestrutura, mas foi concedido até para obras que já estavam em andamento, como a Usina de Estreito. O benefício tem que ser suspenso dez dias após o fim do projeto, mas a revista encontrou várias obras encerradas há muito tempo que continuam enquadradas no benefício fiscal. Tem que ser para o projeto em si e está sendo dado até para atividades de manutenção como troca de poste. O ministro Márcio Zimmermann admitiu o erro em um desses casos, e uma semana depois mudou de ideia. Enfim, a reportagem não deixa dúvidas de que está sendo recriado no Brasil o velho balcão de favores criado no governo militar e contra o qual se lutou tanto durante anos.

Nesse balcão, algumas empresas, por razões sempre obscuras, conseguiam, de burocratas, vantagens fiscais que suas concorrentes não conseguiam. Criou-se uma enorme rede de burocracia, relações promíscuas, favores escusos, distorção. É um risco e um retrocesso retomar esse caminho que só serviu no passado para criar empresas dependentes químicas do Estado, burocratas com poderes indevidos, privilégios que concentraram renda e muita corrupção. Por que errar erro tão velho e tão comprovadamente distorsivo?

Quando os privilegiados quebravam, a dívida era estatizada e muitos deles continuavam ricos. Foi assim que o Brasil foi alimentando o processo inflacionário. Não é a única causa, mas certamente está na raiz do processo que inchou de forma descontrolada os gastos públicos e concentrou renda.

– Não é o caso de ser purista. Há momentos e situações que podem haver subsídios, como, por exemplo, o incentivo ao investimento na inovação tecnológica. A concessão generalizada e sem critério, em vez de estimular, inibe o desenvolvimento tecnológico. Se os benefícios vão ser distribuídos indiscriminadamente, para que fazer o esforço de inovação? – pergunta Marcelo de Paiva Abreu.

Os benefícios fiscais do Reidi são perigosos porque são nebulosos em si e, além disso, são distribuídos de forma obscura.

– São criticáveis em princípio e ainda têm problemas de implementação. Nós estamos ressuscitando instrumentos que deram errado sem ao menos fazer um estudo dos nossos erros – disse o economista.

Há outro efeito que já vimos acontecer, empresas super protegidas e aduladas por recursos públicos não se firmam, pelo contrário, passam a depender eternamente dos mesmos favores.

– O risco é de criar uma indústria eternamente infantil – disse.

Com incentivos fiscais e dinheiro barato está se fazendo também uma grande cooptação do setor empresarial. Quem não é beneficiado, tem esperança de ser. Mas o processo é insustentável a longo prazo. Isso já vimos e nos custou muito caro.”

O artigo é de Míriam Leitão e Alvaro Gribel, publicado na coluna de Míriam Leitão do jornal O Globo.

0 Comments

  1. Luiz Sérgio Dias da Silva disse:

    Mirian Leitão e Alvaro Gribel têm toda razão.
    No que tange a industria frigorifica, a conta é simples:
    18,5 bilhoes pelo custo de 100 milhões por planta industrial, representariam a capacidade de se construir APENAS 185 novos frigorificos. A construção de um novo frigorifico não custa a metade disso.
    Mais ainda, a capacidade já instalada é muito maior do que a capacidade da pecuária em gerar animais para abate. Se sobram plantas,preços delas caem. Por isso, há varias plantas paradas e outras em fase de paralização.

    Não se estimulou a concorrencia e competencia. Fez-se sim, um balcão de favores.

    Faço das palavras dos articulistas as minhas palavras:

    “- O risco é de criar uma indústria eternamente infantil – disse.

    Com incentivos fiscais e dinheiro barato está se fazendo também uma grande cooptação do setor empresarial. Quem não é beneficiado, tem esperança de ser. Mas o processo é insustentável a longo prazo. Isso já vimos e nos custou muito caro.”

    Aqueles que tinham esperanças de serem beneficiados já estão quebrando. Basta um olhar mais detalhista para detectar os problemas reais.

    Eu torço para que não aconteça más, o Independencia, provavelmente, vai parar nas mãos de um grande Grupo se as coisas permanecerem como estão. Muito provavelmente, num desses grupos que ja se apresentaram no balcão de negocios de BNDES com a senha do protecionismo e já tem dinheiro da instituição em seu capital ou debitos.

  2. ubirajara simini disse:

    Voltamos ´a idade da pedra, se o governo Lula destinar este dinheiro ou parte dele para a cadeia produtiva, os efeitos da concentração de monopolio, hoje fortemente instalada no Brasil, seriam menos maléficos para todo o setor, se fala tanto em preservação ambiental, investindo na melhoria do setor produtivo, aumentariamos a produção sem aumentar o desmatamento, estão colocano o dinheiro no lado contrário da cadeia, isto mostra claramente que não há critério para este dinheiro.

  3. Evándro d. Sàmtos. disse:

    Bom….

    Pelo menos chegou a grande mídia esta situação.Vamos aguardar e ver no que dá…

    Talvez uma pizza ou um churrasquinho que com certeza será amplamente noticiado pela revista Caras.Como sinto falta da revista Bundas!!!

    Vamos votar em quem,Dilminha paz e amor,mãe do PAC,do trem bala,mãe do tchok?

    Este governo é mesmo muito curioso,o Lula não sabe de nada.Quando não é bom para ele,parece o Ricupero “O que é bom eu promovo,o que não é eu jogo para de baixo do tapete”,lembram disso?

    Como disse,o Lula não sabe nem que o filho dele,que antes dele (Lula) ser eleito,lá no primeiro mandato,era um subalterno numa empresa qualquer,parece que fazia programas para computadores,ai o Lulinha se elegeu,o cara (filho do Lulinha,paz e amor) comprou uma fazenda de porteira fechada no interior de São Paulo,mas tudo bem,terra em São Paulo é barato mesmo,quase de graça,qualquer um pode comprar.

    Depois o cidadão,filho do Lulinha paz e amor,virou sócio de outra mega empresa na área de computação.

    O Zé Dirceu,o Genuíno,e toda cambada que faziam parte do mensalão,são todos santos,só gente boa!

    Tenho certeza absoluta que eles não estão por traz destes pequenos empréstimos,de ninharias,poucos bilhões apenas,que vai para alguns poucos frigoríficos.

    Tenho absoluta certeza também que não tem,não existe,político neste país ganhando com este trem da alegria.

    O PT,baluarte da razão,baluarte honestidade,baluarte da ética,e ai vai….”Nunca antes neste país….”

    Rsrsrs,somos verdadeiros idiotas.

    O que se poderia esperar de um partido que nasceu de um sindicato?

    De dez entre dez sindicatos que existem neste país,quantos se prestam a fazer aquilo para que foram criados para fazer?

    Dimilnha paz e amor?!

    A pensar que a bolsa despencava e o dólar subia as estratosferas,quando o Data Folha informava que o Lula estava na frente….

    Os empresários em sua imensa maioria acreditavam que o país sofreria um choque de idéias comunas,rsrs,ta ai,os caras vão sair deste governo bilherdários,mas o Lula não sabe de nada.Continua pobrezinho de maré – maré.

    E o cassado foi o Color.Diga-se de passagem por muito menos.

    Ciranda,cirandinha vamos todos cirandar,vamos dar a meia volta,volta e meia vamos dar.

    Agradeçamos a São Lula,e outros santos de hierarquia menor,mas de apetite tão grande quanto ou ainda maior.

    O Lula não sabe de nada.E ta falado.

    Saudações,

    EVÁNDRO D. SÀMTOS.

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