Ativos x Passivos
7 de fevereiro de 2002
Fechamento – 12:20 – 13/02/02
13 de fevereiro de 2002

Estratégias Antiluteolíticas para a Melhora da Sobrevivência Embrionária em Bovinos – Parte 3 / 3

Baseados nos conceitos expostos no radar inicial desta série (parte 1 de 3), abordaremos neste último radar (parte 3 de 3) estratégias fundamentadas na redução do estradiol circulante durante o período crítico, redução da capacidade de produção de PGF pelo útero e estímulo à capacidade antiluteolítica do conceptus.

Estratégia 4: redução das concentrações plasmáticas de estradiol por manipulação da função folicular

A presente estratégia visa reduzir o tamanho ou eliminar o folículo dominante presente por volta do “período crítico”. Conforme mencionado em radar prévio, o estradiol pode estar diretamente envolvido com o processo de luteólise, e sua eliminação (ou redução) retardaria o processo luteolítico. De fato, a irradiação dos folículos ovarianos retarda a luteólise e prolonga o ciclo estral (Hughes et al., 1987). É importante relembrar que se atrasando a ocorrência da luteólise aumenta-se a chance de crescimento do concepto e consequentemente sua capacidade de produzir interferon-tau (IFN) e de bloquear a luteólise. No campo, o hormônio liberador de gonadotropinas (GnRH) e seus agonistas têm sido usados para causar a ovulação ou a luteinização de folículos. Peters (1986) sumarizou diversos trabalhos que analisaram os efeitos de injeções de GnRH 11, 12 ou 13 dias após a inseminação artificial nas taxas de prenhez. Com tais injeções, esperava-se ovular um folículo dominante que estivesse presente, reduzindo a probabilidade de que concentrações elevadas de estradiol fossem encontradas na circulação durante o período crítico. Tais trabalhos apresentaram mudanças nas taxas de prenhez desde uma redução de –3,9% até aumentos de 12% em comparação aos respectivos grupos controle.

Ambrose et al. (1998), em experimento descrito no radar anterior (parte 2 de 3) obtiveram redução no crescimento folicular durante o período crítico utilizando implantes de GnRH. Naquele estudo, o tratamento com implantes de deslorelina retardou o aparecimento de folículos classe III (> 9mm) para 14.2 dias, comparado com as vacas controle (4.6 dias). Conforme mencionado, o tratamento com deslorelina reverteu na prenhez de 5 em 8 vacas comparado com tratamento com Buserelina (1 prenhez em 8 vacas). Conjuntamente com os dados apresentados no radar anterior, esses resultados suportam a noção de que a melhora da função luteínica e o retardamento no aparecimento de folículos dominantes melhoram a sobrevivência embrionária.

Estratégia 5: manipulações da função uterina para reduzir a produção de PGF

O bloqueio dos picos luteolíticos de prostaglandina F2a (PGF) é o principal objetivo das manipulações da função uterina. Esse bloqueio pode ser obtido de duas maneiras: (1) reduzindo-se o estímulo para a produção de PGF e (2) reduzindo-se a quantidade ou a atividade enzimática das enzimas envolvidas na produção de PGF.

Conforme mencionado acima, o estímulo para o início da secreção pulsátil de PGF não foi estabelecido conclusivamente para o gado bovino. Dois hormônios que possivelmente cumprem tal função são a ocitocina e o estradiol. Quanto a ocitocina, Kotwica e outros (1997) usaram um antagonista da ocitocina, que se acopla aos receptores endometriais impedindo o acoplamento da ocitocina endógena. Foi verificado que tal tratamento não impediu a luteólise e nem causou extensão do ciclo estral. Dessa forma, estratégias visando o bloqueio de receptores para ocitocina não devem resultar em bloqueio efetivo da luteólise nem contribuir para redução da mortalidade embrionária. A redução das concentrações plasmáticas de estradiol durante o período crítico foi comentada na estratégia 4 acima.

O ácido linolêico foi identificado como um inibidor da síntese de PGF pela inibição da atividade da enzima ciclooxigenase 2 (COX-2). Portanto, uma possível estratégia para se reduzir a produção de PGF é a administração, através da dieta, de compostos ricos em ácido linolêico. Wilkins e outros (1996) alimentaram vacas de corte com uma dieta de caroço de algodão descascado, tratado com formol. Tal dieta era rica em ácido linolêico protegido, que escapa a bio-hidrogenação no rúmen. Vacas controle receberam farinha de caroço de algodão peletizada. As taxas de concepção no primeiro (61 vs. 46%) e segundo (71 vs. 56%) ciclos estrais foram maiores para as vacas que receberam a dieta rica em ácido linolêico.

Dois outros lipídios com atividade inibidora da enzima COX-2 são os ácidos eicosapentanóico (20:5n-3) e docosahexanóico (22:6n-3). Ambos são encontrados em concentrações elevadas na farinha do peixe manhaden. Thatcher e outros (1997) administraram farinha de manhaden por 25 dias e mediram as concentrações plasmáticas de um pico de 12 ceto 13,14 diidro PGF (PGFM – um metabólito da PGF facilmente mensurável na circulação sanguínea) induzido pela administração de estradiol seguido de ocitocina no 15o dia de um ciclo estral sincronizado em vacas holandesas secas. A farinha de peixe do manhaden inibiu significativamente o pico de PGFM causado pelo estradiol e pela ocitocina em comparação com a dieta controle, que não continha a farinha de peixe. Tais observações apontam para a possibilidade de controlar eventos reprodutivos através de manipulações da dieta. Por exemplo, controlando os ingredientes da dieta se pode manipular o “pool” de lipídios do útero tornando-o menos luteolítico.

Estratégia 6: incrementar a capacidade anti-luteolítica do conceptus

Uma possível prática objetivando-se reparar as deficiências de produção de IFN por embriões subdesenvolvidos seria a suplementação com IFN exógeno durante o “período crítico”. Contudo, experimentos para se avaliar os resultados da administração de IFN na fertilidade não foram realizados em bovinos, dada a limitação na disponibilidade da quantidade de IFN recombinante necessária para se realizar um experimento em grande escala.

Uma das circunstâncias onde o retardamento no desenvolvimento do concepto é mais evidente é quando a vaca se encontra em estresse térmico (Thatcher et Hansen, 1992). Conforme exposto acima, o embrião sub-desenvolvido é menos capaz de bloquear a luteólise. Assim, estratégias de manejo para amenizar os efeitos do estresse térmico em vacas devem ser empregadas. Tais estratégias incluem o uso de sombreamento, ventiladores, aspersores, lagoas ou outras que objetivem a redução da temperatura corporal das vacas.

Em sumário, a questão da mortalidade embrionária associada ao período crítico em bovinos é complexa e multifatorial. Portanto, não há solução simples para o problema. Nessa série de radares procuramos estudar sistematicamente a seqüência de eventos fisiológicos que influenciam a biologia do período crítico. Em seguida, baseados em tais estudos, propusemos possíveis estratégias para manipularmos o período crítico visando diminuir a mortalidade embrionária. A inclusão do uso racional das estratégias propostas no programa de manejo reprodutivo da fazenda, levando-se em consideração as condições locais e os recursos disponíveis, deverá aumentar as taxas de prenhez. Maiores detalhes sobre o assunto desta série de radares podem ser encontrados em Binelli et al., 2001.

Lista de referências

Ambrose JD, Pires MFA, Moreira F, Diaz T, Binelli M, Thatcher WW 1998. Influence of Deslorelin (GnRH-agonist) implant on plasma progesterone, first wave dominant follicle and pregnancy in dairy cattle. Theriogenology 50:1157-1170.

Binelli M, Thatcher WW, Mattos R, Baruselli PS., 2001. Antiluteolytic strategies to improve fertility in cattle. Theriogenology 56:1451-1463.

Hughes TL, Villa-Godoy A, Kesner, JS, Fogwell, RL. 1987. Destruction of bovine ovarian follicles: effects on the pulsatile release of luteinizing hormone and prostaglandin F2-induced luteal regression. Biol Reprod 36:523-529.

Kotwica J, Skarzynski D, Bogacki M, Melin P, Starostka B. 1997. The use of an oxytocin antagonist to study the function of ovarian oxytocin during luteolysis in cattle. Theriogenology 48:1287-1299.

Peters AR. Embryo mortality in the cow. Anim Breed Abstr 1996; 64:587-598.

Thatcher WW, Binelli M, Burke J, Staples CR, Ambrose JD, Coelho S. 1997. Antiluteolytic signals between the conceptus and endometrium. Theriogenology 47:131-140.
Thatcher WW, Hansen PJ. Systems to alter embryo survival. 1992. In: Van Horn HH, Wilcox CJ (eds.), Large dairy herd management. Champaign: Am Dairy Sci Assoc; 164-175.

Wilkins JF, Hoffman WD, Larsson SK, Hamilton BA, Hennessy DW, Hillard MA. Protected lipid/protein supplement improves synchrony of oestrus and conception rate in beef cows. 1996. 13th Intern Congr Anim Reprod, Sydney, Australia 3:p19-29.

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