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Estratégias Antiluteolíticas para a Melhora da Sobrevivência Embrionária em Bovinos – Parte 2 /3

Baseando-se nos conceitos expostos no radar anterior (parte 1 de 3), pode-se propor uma série de estratégias de manejo visando-se tanto a diminuição da capacidade luteolítica da unidade maternal quanto o aumento do estímulo antiluteolítico promovido pelo concepto. Tais estratégias podem envolver manipulações nas funções folicular, luteínica, uterina, do concepto e manipulações do ambiente. No presente radar (parte 2 de 3) especificamente revisaremos estratégias antiluteolíticas baseadas no aumento da taxa de secreção e das concentrações plasmáticas de progesterona (P4) durante o período crítico.

Estratégia 1: aumento da taxa de secreção de P4

Em protocolos para a sincronização do ciclo estral que utilizam uma injeção de GnRH para a sincronização da ovulação (e.g., OvSynch; Pursley et al. 1995), observou-se que o pico de LH tem duração inferior (3 a 5 horas) comparada à duração do pico pré-ovulatório endógeno (10 horas; Chenault et al., 1975 e Chenault et al., 1990). Uma exposição prolongada das células do folículo pré-ovulatório ao LH pode ser importante para uma diferenciação ótima do corpo lúteo (CL; Ambrose et al., 1998). Espera-se que um CL melhor diferenciado apresente taxas de secreção de P4 mais elevadas, o que seria favorável à manutenção da prenhez, conforme explicitado no radar anterior. Desta forma, manipulações farmacológicas que resultem na formação de um CL de melhor qualidade devem ser buscadas. Com esse raciocínio, Ambrose e co-autores (1998) submeteram vacas secas a um protocolo de inseminação artificial por tempo fixo no qual um implante de Deslorelina (700 µg), um agonista sintético do GnRH, de liberação prolongada, foi utilizado para sincronizar as ovulações. Estes autores observaram uma maior taxa de aumento da P4 plasmática entre os dia 0 (dia do estro) e dia 15 para vacas tratadas com Deslorelina comparado com vacas que receberam uma injeção de Buserelina (agonista do GnRH; 8 µg) ou controle (nenhum tratamento). A fertilidade resultante dos tratamentos com Deslorelina e Buserelina foi comparada entre os tratamentos. O grupo tratado com Deslorelina apresentou maiores concentrações plasmáticas de P4 na fase luteínica e reverteu na prenhez de 5 em 8 vacas comparado com tratmento com Buserelina (1 prenhez em 8 vacas). Estes resultados suportam a noção de que a melhora da função luteínica aumenta a sobrevivência embrionária.

Estratégia 2: aumento das concentrações plasmáticas de P4 por manipulação da função folicular

Uma outra maneira de aumentar-se as concentrações plasmáticas de P4 no período crítico seria pela estimulação do crescimento dos folículos pré-ovulatórios antes da inseminação artificial. Por exemplo, seria interessante que se conseguisse a formação de um folículo ovulatório de maior tamanho possível, para que esse se desenvolvesse em um CL com máxima capacidade esteroidogênica.

Isso seria esperado tendo em vista que a capacidade esteroidogênica do CL está correlacionada positivamente com o número de células luteínicas, as quais se diferenciam a partir das células do folículo ovulatório. Alternativamente, poderia-se estimular o crescimento e a ovulação de múltiplos folículos, formando múltiplos CLs o que também deveria acarretar em uma maior liberação de P4. Tais efeitos foram alcançados em novilhas receptoras de embrião mestiças tratadas com gonadotropina coriônica eqüina (eCG) conforme descrito por Baruselli et al. (2000). Aqueles pesquisadores sincronizaram as receptoras usando CIDR associado com injeções estratégicas de benzoato de estradiol, P4 e prostaglandina (PGF).

Um dia após a emergência da onda folicular metade das novilhas foi tratada com eCG e ao outra metade serviu como controle. Inovulações foram realizadas 8 dias após a indução das ovulações. Comparado com os animais do grupo controle, os animais tratados apresentaram um maior número de folículos com mais de 8 mm (0,6 vs. 2), maior número de CLs (0,5 vs. 2,6), maior concentração de P4 (1,35 vs. 4,17 ng/ml) e maiores taxas de concepção (10 vs. 42%).

Concluiu-se que a ovulação de folículos previamente estimulados por eCG causou uma maior produção de P4 que, por sua vez, favoreceu as taxas de prenhez de novilhas receptoras de embrião. Contudo, recomenda-se cautela no uso de tais estratégias. A formação de folículos persistentes visando a produção de um CL de tamanho maior deve ser evitada em protocolos de inseminação artificial, já que tais folículos persistentes estão associados a uma queda na fertilidade (Savio et al., 1993; Binelli et al., 1999).

Estratégia 3: aumento das concentrações plasmáticas de P4 por manipulação da função luteínica

Vários autores sugeriram que a suplementação de P4 durante a fase luteínica do ciclo estral poderia aumentar as taxas de prenhez em bovinos (Macmillan et al., 1991; Sianagama e Rajamahendran, 1992; Schmitt et al., 1996; Santos et al., 2002). Com o objetivo de aumentar a produção de P4 endógena, Schmitt e outros (1996) induziram a ovulação do folículo dominante da primeira onda e a formação de um CL acessório com injeções de gonadotropina coriônica humana (hCG) no dia 5 após o estro. O hCG de fato causou a formação de um CL acessório em 93% das vacas tratadas e aumentou as concentrações de P4 durante o restante da fase luteínica, comparado com animais do grupo controle. Contudo, não houve diferenças nas taxas de concepção. Tal observação pode ser explicada pelo fato de que os animais usados no experimento eram novilhas, que normalmente são mais férteis que vacas em lactação.

Em contraste, Sianangama e Rajamahendran (1992) administraram hCG em vacas leiteiras. Comparado com vacas controle (40%), hCG aumentou as taxas de prenhez para 47, 62 e 55% respectivamente quando injetado no dia 0, 7 ou 14 do ciclo estral. Recentemente, Santos et al. (2002) injetaram hCG em vacas leiteiras de alta produção durante a lactação. Comparado com o grupo controle as vacas injetadas com hCG apresentaram concentração plasmática de P4 em média 5 ng/ml mais elevadas e maiores taxas de concepção 9 dias após a inseminação (31,9 vs. 38,4%).

Em sumário, diversas linhas de evidência têm demonstrado que a suplementação de P4 no período crítico favorece as taxas de prenhez. Tal suplementação pode ser alcançada utilizando-se manipulações estratégicas das funções folicular e luteínica. No próximo radar exploraremos estratégias que se baseiam na redução do estradiol circulante durante o período crítico e na redução da capacidade de produção de PGF pelo útero.

Lista de referencias

Ambrose JD, Pires MFA, Moreira F, Diaz T, Binelli M, Thatcher WW 1998. Influence of Deslorelin (GnRH-agonist) implant on plasma progesterone, first wave dominant follicle and pregnancy in dairy cattle. Theriogenology 50:1157-1170.

Baruselli PS, Marques MO, Madureira EH, Costa Neto WP, Grandinetti RR, Bó G. 2000. Increased pregnancy rates in embryo recipients treated with CIDR-B devices. Theriogenology 55:355 (abstr).

Binelli M, Hampton J, Buhi WC, Thatcher WW. 1999. Persistent dominant follicle alters pattern of oviductal secretory proteins from cows at estrus. Biol Reprod 61:127-134.

Chenault JR, Kratzer DD, Rzepkowski RA, Goodwin MC. 1990. LH and FSH responses of Holstein heifers to fertirelin acetate, gonadorelin and buserelin. Theriogenology 34:81-98.

Chenault JR, Thatcher WW, Kalra PS, Abrams RM, Wilcox CJ. Transitory changes in plasma progestins, estradiol, and luteinizing hormone approaching ovulation in the bovine. J Dairy Sci 58:709-717.

Macmillan KL, Taufa VK, Day AM, Peterson AJ. 1991. Effect of supplemental progesterone on pregnancy rates in cattle. J Reprod Fertil 43 (suppl.): 304 (abstr.).

Pursley JR, Mee MO, Wiltbank MC. 1995. Synchronization of ovulation in dairy cow using PGF2 and GnRH. Theriogenology 44:915-923.

Santos JEP, Thatcher WW, Pool L, Overton MW. Effect of human chorionic gonadotropin on luteal function and reproductive performance of high producing lactating Holstein dairy cows. J. Anim. Sci. 2002; in press.

Savio JD, Thatcher WW, Morris GR, Entwhistle K, Drost M, Mattiacci MR. 1993. Effects of induction of low progesterone concentrations with a progesterone-releasing intravaginal device in follicular turnover and fertility in cattle. J Reprod Fertil 98:77-84.

Schmitt E J-P, Diaz T, Barros CM, de la Sota RL, Drost M, Fredriksson EW, Staples CR, Thorner R, Thatcher WW. 1996. Differential response of the luteal phase and fertility in cattle following ovulation of the first-wave follicle with human chorionic gonadotropin or an agonist of gonadotropin-releasing hormone. J Anim Sci 74:1074-1083.

Sianangama PC, Rajamahendram R. 1992. Effect of human chorionic-gonadotropin administered at specific times following breeding on milk progesterone and pregnancy in cows. Theriogenology 38:85-96.

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