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Estrangeiros aumentam investimentos no campo

Nos últimos sete anos o agronegócio brasileiro tem passado por um profundo processo de "estrangeirização". Um estudo inédito do Banco Central revela que de 2002 a 2008, as atividades ligadas ao campo receberam US$ 46,9 bilhões em investimentos diretos estrangeiros (IED). A maior parte do investimento foi empregada na ampliação das operações da agroindústria fornecedora de insumos agropecuários.

Nos últimos sete anos o agronegócio brasileiro tem passado por um profundo processo de “estrangeirização”. Um estudo inédito do Banco Central revela que de 2002 a 2008, as atividades ligadas ao campo receberam US$ 46,9 bilhões em investimentos diretos estrangeiros (IED). O valor equivale a 29,5% do IED total líquido ingressado no país no período, e a maior parte foi empregada na ampliação das operações da agroindústria fornecedora de insumos agropecuários.

O movimento de “internacionalização” das cadeias produtivas nacionais tem respaldo no avanço da concentração da posse da terra em mãos de poucos brasileiros e a atração cada vez maior de estrangeiros para esse tipo de investimento. Nos 11 Estados responsáveis por 90% desses registros, há 1.396 municípios com comunicado oficial de terras compradas por estrangeiros, segundo cadastro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – 124 desses municípios têm metade das áreas de médias e grandes propriedades em nome de estrangeiros. No total, há 3,6 milhões de hectares em mãos estrangeiras nas regiões Sul e Centro-Oeste, além de São Paulo, Minas, Bahia, Pará, Tocantins e Amazonas.

O capital internacional tem buscado, no Brasil, o alto potencial das terras locais para produzir commodities e matérias-primas para biocombustíveis. Mas o dinheiro estrangeiro também mira a valorização dessas terras. As recentes incorporações das usinas da Santelisa Vale pela francesa Louis Dreyfus e do grupo Moema pela americana Bunge reforçam a tendência de consolidação da presença estrangeira. No ano passado o agronegócio recebeu 20% de todos os IEDs no Brasil. Em 2009, o BC projeta US$ 25 bilhões de investimentos estrangeiros no país – e o campo deverá absorver entre US$ 5 bilhões e US$ 7,5 bilhões do total.

O Incra, responsável pelo controle das informações da posse da terra no país, está preocupado com o avanço estrangeiro. “A terra é um meio de produção finito. Há uma forte disputa pela terra, que foi acirrada pelas crises mundiais de energia e de alimentos”, avalia o presidente do Incra, Rolf Hackbart. O estudo do BC aponta que o movimento de “internacionalização” ajudou a elevar a produção doméstica no curto prazo, mas aumentou a concentração agroindustrial e reduziu o valor da produção agrícola no período. Segundo Rolf, a solução seria aprovar regras mais duras de controle sobre a posse dessas terras. “Não é xenofobia, mas a defesa da nossa soberania sobre o uso dessas terras”, afirma ele.

Desde 1997, o Palácio do Planalto avalia alterar as regras para restringir o capital estrangeiro na compra de terras. A Advocacia-Geral da União (AGU) deve apresentar nova norma para equiparar empresas nacionais com capital estrangeiro às companhias controladas por acionistas não-residentes no país ou com sede no exterior.

O estudo do Banco Central alerta, ainda, que o processo de concentração da produção e das exportações do agronegócio tem contribuído para elevar as diferenças regionais na geração de riqueza. Além disso, o BC afirma que a indústria de insumos tem pressionado para baixo os preços ao produtor. Quanto maior o IED na agroindústria, menor o valor da produção agropecuária. A cada aumento de 1% no IED no segmento, haveria redução de 0,22% na produção, diz o estudo. Isso porque a concentração agroindustrial, via fusões ou aquisições, eleva o poder das empresas e reduz os ganhos dos produtores.

Na análise do setor, o BC constata que os IEDs direcionam aportes para um grupo reduzido de produtos, como algodão, carnes, soja, óleo, etanol, açúcar e sucos de frutas, cuja participação no comércio internacional é relevante. Fatores como abundância de terras, competitividade e produtividade do agronegócio nacional têm atraído cada vez mais investimentos estrangeiros ao país.

O desempenho das exportações é um impacto positivo desse movimento. O BC calcula que a cada 1% de aumento nas exportações do setor, a produção agrícola cresceria 0,35%. A cada dólar investido na agropecuária, a produção aumenta R$ 18,90. E a cada dólar exportado, esse valor quase dobra para R$ 1,80. De acordo com o estudo, “isso fortalece a dependência dos produtores brasileiros da produção de commodities para exportação e as estratégias das empresas globais”.

A reportagem é de Mauro Zanatta, para o jornal Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.

0 Comments

  1. jose carlos targa disse:

    A princípio internacionalizaram a Amazônia através de ONGs, agora querem internacionalizar o restante do País com dinheiro. E se não houver medidas urgentes e eficaz, vamos amargar mais essa derrota pelo imperialismo, e vamos voltar ao passado, ou seja ser colonizados.

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