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Estagnação em medidas contra desmate

As empresas brasileiras e internacionais que atuam nas principais cadeias de commodities agrícolas responsáveis por desmatamento não apresentaram evolução em suas políticas de sustentabilidade no ano passado, de acordo com dados do ranking Forest500, realizado pela organização internacional Global Canopy e divulgado ontem. 

A organização atribui notas a 350 companhias globais da indústria da cadeia de commodities e 150 grupos do setor financeiro, de acordo com os compromissos que adotam contra o desmatamento, com as medidas que implementam e com o nível de transparência de suas ações. O foco do relatório são empresas que atuam nas cadeias de óleo de palma, soja, carne, papel, madeira e couro. A medida já tem sido utilizado como métrica para alguns investidores.

Das 26 companhias brasileiras avaliadas, 17 tiveram suas notas reduzidas ligeiramente, enquanto sete continuaram sem pontuar, como em anos anteriores, e apenas duas melhoraram suas notas. A empresa brasileira com melhor colocação continuou sendo a Amaggi, que pontuou 64%, contra 67% no ano passado. 

A diretora de ESG, Comunicação e Compliance da Amaggi, Juliana Lopes, disse que o resultado da empresa no ranking Forest500 “mostra que estamos no caminho correto de implementação robusta dos nossos compromissos, mas não sem considerar desafios importantes que ainda temos a enfrentar”. Ela acrescentou que a companhia quer “influenciar positivamente nossos parceiros para uma agricultura cada vez mais regenerativa e de baixo carbono”. 

Globalmente, o quadro geral pintado pelo Forest500 também indica uma estagnação do setor privado com relação ao desmatamento, evidenciando um descompasso com o avanço de legislações em alguns países desenvolvidos que buscam travar importações de commodities associadas à devastação ambiental. 

Dos 500 grupos empresariais avaliados globalmente, 210 ainda não tinham apresentado até o ano passado compromissos para acabar com o desmatamento – apenas cinco empresas a menos do que em 2020. Considerando as 350 empresas do setor produtivo – que recebem US$ 5,5 trilhões em financiamentos do setor financeiro -, 117 ainda não têm compromisso para nenhuma das commodities avaliadas. 

“As descobertas foram realmente decepcionantes. É um cenário realmente negativo”, avaliou Emma Thomson, pesquisadora da Global Canopy, no webinar de discussão dos resultados. 

A Global Canopy alertou, em relatório, que as companhias sem compromissos e políticas “enfrentarão dificuldades” para atender às exigências de due diligence de suas cadeias previstas nas legislações em andamento, como a que está em discussão no momento na União Europeia.

Tampouco aumentou de forma significativa a quantidade de empresas com compromissos específicos com relação às commodities às quais estão expostas: no ano passado, era o caso de 99 das 500 companhias avaliadas; um ano antes, eram 89. 

Há ainda o problema da implementação. Das que têm ao menos um compromisso contra desmatamento, um terço não monitora suas operações ou fornecedores. 

A transparência com relação à implementação dos compromissos também estancou de um ano a outro: 165 grupos, dos 500 avaliados no relatório, publicaram em 2021 relatórios de monitoramento de suas cadeias, quase o mesmo número de 2020 (166). 

No quesito compromissos e políticas sociais, apenas 24 dos 500 grupos pontuaram nos indicadores avaliados para ao menos uma commodity. Em 2020, somente dez empresas tinham alguma pontuação neste quesito. 

Os compromissos ambientais são mais comuns entre as empresas de óleo de palma. Em soja, 40% tem compromissos contra desmatamento, e em carne, 30%. 

A Global Canopy espera que haja um avanço das políticas corporativas antidesmatamento neste ano, já que há novas lei sendo aprovadas para exigir das empresas a due dilligence de suas cadeias. “Com as legislações, haverá pressão adicional”, afirmou Sarah Draper, gerente de desempenho corporativo da ONG. 

A imposição de uma regulação sobre o tema para a indústria de commodities começa a receber apoio do setor financeiro. Sebastien Soleille, líder global de transição energética e meio ambiente do BNP Paribas, defendeu, durante apresentação dos resultados do Forest500, que é preciso adotar “políticas globais e ações mandatórias” para cortar o desmatamento nas cadeias. Vemund Olsen, analista sênior de sustentabilidade da gestora de ativos norueguesa Storebrand, disse que as regulações são um “ponto chave” por também pressionarem instituições financeiras. 

A eurodeputada alemã Delara Burkhardt (SPD), que acompanha a discussão da regulação no Parlamento Europeu, afirmou que a legislação pretende definir qual conceito de desmatamento será utilizado, evitando brechas, e garantirá “nível mínimo comum” para os diferentes setores.

Fonte: Valor Econômico.

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