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Estação de monta em gado de corte. Porque utilizar

O objetivo principal da estação de monta é aumentar a eficiência reprodutiva. O segredo desta condição está na palavra SINCRONISMO. O que a estação de monta pretende é sincronizar o período de maior requerimento nutricional das vacas, que é o período de lactação, com a época do ano de maior disponibilidade de forragens, ou seja, a época das chuvas. Com isto pode-se conseguir melhores índices reprodutivos, pois é na fase de lactação que deve haver fornecimento de nutrientes de forma suficiente para outra atividade, a reprodutiva.

Os outros objetivos são secundários. Quem trabalha com estação de monta e não consegue performance reprodutiva do plantel superior ao esquema de monta de “ano inteiro”, está atuando de forma não adequada. As principais vantagens da utilização desta forma de manejo são:
– Possibilidade de adequar o período dos nascimentos para privilegiar a fertilidade futura das fêmeas (principal vantagem).
– Aumentar a pressão de seleção sobre as fêmeas. Aquelas com problemas de precocidade e fertilidade têm menores chances de se manter no plantel. Os animais que não ficam gestantes no prazo definido devem ser eliminados.
– Possibilita melhor seleção por se trabalhar com lotes mais homogêneos, expostos à mesma situação ambiental, numa mesma condição produtiva e/ou reprodutiva.
– Concentra as atividades de manejo num período definido de tempo, e pode-se com isto melhor utilizar a mão-de-obra da propriedade, de acordo com o período em questão.

A tabela 1 mostra a performance reprodutiva de vacas que pariram em épocas diferentes do ano, em ambiente tropical. As fêmeas que pariram na época das secas, além de pior desempenho reprodutivo, desmamaram bezerros de pior qualidade. Estes resultados comprovam a melhoria que pode ser obtida com a implantação da estação de monta.

Tabela 1: Desempenho reprodutivo e produtivo de vacas de corte, a campo, parindo em diferentes períodos do ano.


Pode-se notar que as fêmeas que pariram no período do início da época das águas (16/09 a 16/11) apresentaram melhores resultados quanto a todos os índices reprodutivos. As vacas pariram com maior peso, tiveram melhor período de serviços, um maior número de vacas gestantes, além de desmamarem melhores bezerros.

Para que se trabalhe em regime de estação, as atividades devem ser concentradas ao máximo possível nas condições da propriedade. Nas condições do Brasil este período varia entre 90 e 150 dias. É muito difícil se conseguir uma boa taxa de gestação com períodos inferiores e em períodos superiores as atividades não estarão tão concentradas e a premissa básica de sincronismo não seria possível para todos os animais, considerando o período de lactação das vacas.

Para se conseguir um bom desempenho ao se programar e manter a estação de monta deve-se cuidar dos principais eventos:

1- Atender aos requerimentos nutricionais das vacas. Principalmente os animais com bezerros ao pé. Durante o período de lactação o animal ingere cerca de 70% dos nutrientes consumidos durante o ano. Para que consiga desmamar um bezerro de qualidade e principalmente ficar gestante novamente dentro dos limites estabelecidos (estação) para parir em períodos adequados no próximo ano a nutrição é o aspecto mais importante. As vacas devem parir em boa condição corporal para que manifestem cio rápido após o parto.

2- Garantir boa fertilidade. Isto está relacionado também aos touros e/ou sêmen. Pode-se colocar toda a estação a perder quando não se faz exame andrológico prévio dos touros ou análise do sêmen a ser utilizado. A qualidade da nutrição pós-parto está diretamente relacionada à fertilidade das fêmeas. Além de maior demanda nutricional devido à lactação existe a demanda para os eventos reprodutivos. Em fêmeas com sangue de raças taurinas deve-se considerar os efeitos do ambiente. Nestas raças a possibilidade de estresse térmico neste período é possível, e pode influenciar negativamente a taxa de gestação.

3- Permitir a produção de bezerros de qualidade. Em períodos de muita chuva cuidados adicionais devem ser tomados com os bezerros, principalmente relacionados à ingestão de quantidades adequadas de colostro. Não é incomum o aparecimento de diarréia e outros problemas sanitários em bezerros que nascem em períodos de muita precipitação pluviométrica. Além disto, a boa nutrição das matrizes deve permitir a produção adequada de leite. Quando os animais iniciarem a ingestão de forragens, o pasto deve fornecer alimento em quantidade e qualidade. A adoção de técnica de “creep feeding” pode auxiliar e muito no desenvolvimento dos bezerros e no aspecto reprodutivo das vacas.

4- Adequação do período do ano e duração. A programação deve ser feita para que as parições ocorram a partir do inicio do aumento da disponibilidade de forragens na região em questão. Em boa parte do território nacional isto coincide com o início do período chuvoso. A duração da estação deve ser suficiente para que pelo menos 90% das vacas sejam servidas por um touro ou sêmen, ou seja, tenham tempo de manifestar pelo menos um cio após o parto.

5- Cobrir o maior número de vacas no início da estação. Isto é importante, pois estas vacas vão parir no início da estação de parição e terão conseqüentemente mais tempo para ficarem gestantes na estação de cobertura seguinte. Quanto mais tarde uma vaca fica gestante, mais ao final da estação de parição ela vai parir e menos tempo terá para ficar gestante, tendo maior risco de ser eliminada.

Os procedimentos para estabelecer ou adequar a estação de monta são simples, porém demorados. Quando existe escrituração zootécnica confiável, tudo fica mais fácil, pois basta observar o comportamento de parição, ou seja, qual o período de maior concentração de partos. Existem normalmente períodos de maior concentração de partos. Os animais tendem a ficar gestantes no período de maior disponibilidade de forragens e quando alcançam uma boa condição corporal. Isto geralmente ocorre dois três meses após o aumento na disponibilidade de nutrientes nas pastagens. Assim a maior parte da parição seguinte será no início da época de maior disponibilidade de forragens.

Deve-se remover inicialmente os touros, ou não inseminar as vacas evitando a parição no ano seguinte, nos piores períodos, que normalmente coincide com o meio da estação seca. Inicialmente a cobertura das vacas pode ser suspensa por três meses e nos anos seguintes, suspender por mais dois meses, anualmente, até que se chegue na duração e períodos adequados.

As novilhas merecem atenção especial nesta programação. Não enquanto novilhas, mas quando se tornam primíparas. Categoria esta, como já dito, a mais problemática. Como as primíparas geralmente necessitam de um tempo maior para retornarem à atividade reprodutiva pós-parto, geralmente a estação de cobertura destas é antecipada em um mês. Assim vão parir em média um mês antes das vacas, tendo este tempo a mais para ficarem gestantes. Um problema descrito para esta programação das novilhas é que ao antecipar a cobertura, algumas podem parir muito cedo, ainda num período com baixa disponibilidade de forragens, prejudicando ainda mais seu desempenho. Duas são as alternativas para se evitar este problema. Iniciar a estação das novilhas junto com as vacas e terminar um mês antes, ou fazer uma estação da mesma duração, antecipada em um mês e programar uma possível suplementação para os animais que porventura parirem em períodos onde a pastagem ainda não está adequada.

Considerações finais

O importante é ter em mente que não existem soluções mágicas. O somatório das atividades de manejo e de alguns procedimentos técnicos levará a pequenos avanços que quando agregados poderão levar a ganhos consideráveis de produtividade. Neste mesmo raciocínio deverá se atentar para a não padronização de soluções, para todas as situações. Existe uma gama de condições de criação no Brasil que definitivamente não permite o uso de fórmulas pré-fabricadas. O bom senso e conhecimento técnico são os principais ingredientes para se construir uma receita de sucesso.

Todo procedimento, antes de implantado, deve passar por um estudo detalhado da relação custo-benefício, considerando todos os aspectos possíveis e as condições da propriedade onde será utilizado. Copiar a receita pelos bons resultados obtidos pelo vizinho é o principal erro. A propriedade é outra, os animais não são os mesmos, mudam os funcionários e principalmente o proprietário.

Bibliografia consultada

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HADLEY, M.E. Endocrinology. 2nd Edition, Prentice Hall, New Jersey, 549p, 1988.

HAFEZ, E.S.E. Reprodução dos Animais Domésticos. 6a edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 762 p, 1996.

1 Comment

  1. JOÃO ERNANI BARBOZA DUARTE disse:

    Nas codições do RS se verica que quanto mais cedo o entoure e/ou IA melhores os resultados

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