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Está na hora de pararmos de gritar contra as recomendações dietéticas? – Jude Capper

Por Jude Capper, professora adjunta de Ciências Animais do Departamento de Ciências Animais da Universidade do Estado de Washington

A recente divulgação de um relatório científico do comitê conselheiro das recomendações dietéticas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) certamente levaram a um tumulto na mídia no final de abril. Há muito senso comum nutricional no relatório – coma mais frutas, vegetais e lácteos e reduza carboidratos e bebidas/petiscos adoçados e tenha um consumo moderado de álcool. No entanto, há um problema – pela perspectiva de saúde e de sustentabilidade, os americanos devem aparentemente consumir menos alimentos à base de animais.

Quando o relatório foi divulgado, minhas notificações no Twitter, Facebook e caixa de entrada de e-mails explodiram. Memes como o abaixo, que apareceu em toda esquina (virtual) e o relatório foram mencionados em todas as newsletter online, seja de mídias agrícolas, seja de mídias tradicionais. Foi essa cobertura da imprensa, mais do que o teor do relatório que realmente me preocupou.

meme

Estamos dizendo que as pessoas precisam comer menos carne. Precisamos começar a pensar sobre o que é sustentável… Outros países começaram a fazer isso – incluindo a sustentabilidade em suas recomendações. Nós deveríamos fazer isso também”. (Miriam Nelson, professora da Tufts University).

As pessoas não prestam muita atenção ao relatório do governo sobre nutrição. Apesar do fato de seis atualizações das recomendações terem sido feitas desde sua introdução em 1980, todos estamos comendo muitos Twinkies na frente da TV e comendo refeições super-dimensionadas no carro, ao invés de comer brócolis, lentilha e quinoa.

As pessoas, no entanto, prestam atenção a manchetes como “Menos carne, mais vegetais: grandes indústrias de alimento estão pirando por causa de novas recomendações dietéticas ‘sem sentido’” e outras manchetes desse tipo. A mensagem da mídia é que grandes produtores de alimentos ruins ficaram horrorizados com a divulgação dessa ciência ruim do governo que os impede de continuar buscando manter as pessoas não saudáveis, viciadas em cheeseburgers triplos regados a refrigerantes de 500 calorias e que farão de tudo para evitar isso.

Isso me faz questionar – a que ponto precisamos de uma mudança tranquila e furtiva ao invés de fortes protestos que atraem a atenção das pessoas que, se não fosse isso, nunca teriam lido sobre as recomendações? A que ponto a indústria protestando não parece uma versão moderna de “A senhora protesta demais”? [citando Shakespeare]

Ao invés de postar no Facebook ou no Twitter que o relatório não tem sentido porque o comitê de nutricionistas se aventurou no abismo que é a sustentabilidade; por que, ao invés disso, não exaltamos as virtudes de produzir carne magra, de alta qualidade, nutritiva, segura e acessível, e visamos alcançar as pessoas que não vieram as manchetes hiperbólicas ou leram as recomendações simplesmente porque viram falando muito sobre elas no Twitter? A velha ditado do showbiz que diz que não há coisa pior do que má publicidade certamente se aplica aqui – a extensão das notícias sobre a reação da indústria contra o relatório fez com que elas provavelmente tenham sido notadas por muito mais pessoas do que poderia se tivesse sido de outra forma.

O impacto das recomendações dietéticas sobre os programas de compras é bem maior do que sobre as pessoas e dá origem à preocupação. Mundialmente, uma em cada sete crianças não tem alimento suficiente e os lanches escolares são frequentemente a única fonte garantida de proteína de alta qualidade disponível para crianças de famílias carentes. Posso ser muito cética, mas suspeito que se o consumo de carne nas escolas for reduzido, provavelmente não será substituído por uma alternativa vegetariana nutricionalmente completa, visual e gastronomicamente atraente.

A sustentabilidade não significa só carbono, na verdade, e ambientalmente ela se estende bem além da terra, da água e do uso de energia avaliados pelo comitê conselheiro das recomendações dietéticas em questões bem maiores. Essas incluem o fato de que não podemos produzir cultivos de alimentos humanos em todos os tipos de terra; qualidade da água vs. quantidade; necessidade de proteger a biodiversidade da vida silvestre em ambientes marginais e pastagens; uso de estercos animais vs. fertilizantes inorgânicos; custos ambientais de substitutos para subprodutos animais na manufatura e outras indústrias; e muitas outras questões. Simplesmente dizer que uma dieta X à base de carne tem uma pegada de carbono ou uso da terra maior do que uma dieta Y à base de vegetais não é justificativa suficiente para 316 milhões de pessoas reduzirem seu consumo de um alimento específico. De fato, apesar das conclusões do comitê, dados da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos atribuíram somente 2,1% das pegadas nacionais de carbono à produção de carne, sugerindo que mesmo se todos reduzissem seu consumo de carne bovina, de cordeiro e suína, isso teria um efeito desprezível sobre as emissões de carbono.

Todos nós podemos reduzir nosso impacto ambiental individual? Absolutamente. No entanto, como indicado com relação às mudanças dietéticas no relatório de aconselhamento, isso deve ser feito com consideração por nossos requerimentos individuais biológicos, médicos e culturais. Como humanos, temos requerimentos biológicos e médicos para proteína dietética e alguns até argumentariam que grelhar meio quilo de carne é um evento cultural. Tenho toda a simpatia pelo comitê* do USDA, que tem essa Hercúlea tarefa para cumprir, mas nesse caso, eles somente conseguiram cortar uma cabeça da Hidra – e cresceram outras 50 no lugar.

* Muitas pessoas já comentaram sobre a adequação (ou não) do comitê avaliar a sustentabilidade da dieta, mas para ser justa com eles, parece que eles foram além das emissões de fases de efeito estufa para a terra, água e uso de energia. Eles são especialistas em nutrição, não especialistas em sustentabilidade, mas seria difícil (impossível) encontrar um comitê que envolvesse pessoas que fossem especialistas em nutrição, sustentabilidade, economia, política, comportamento e todas as outras facetas do relatório. No entanto, as recomendações de sustentabilidade parecem ser baseadas em um número pequeno de trabalhos, muitos deles baseados em informações dietéticas de outras regiões (Alemanha, Reino Unido, Itália), que também terão níveis diferentes de produção animal e agrícola. Como alguém que nasceu e foi criada no Reino Unido antes de me mudar para os Estados Unidos, acho difícil acreditar que a dieta média americana usa substancialmente mais terra (por exemplo) do que uma pessoa média do Reino Unido, como citado no relatório.

Por Jude Capper, professora adjunta de Ciências Animais do Departamento de Ciências Animais da Universidade do Estado de Washington, publicado em seu blog http://bovidiva.com.

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