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12 de julho de 2011
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ESSENTIAL na alimentação de ruminantes: melhorando a digestibilidade de nutrientes em dietas alto grão

Em sistemas de produção de bovinos, os gastos com alimentação representam 60 a 70% do investimento. No entanto, é necessário que esses alimentos possuam níveis adequados de nutrientes para explorar melhor a capacidade do animal e alcançar sua lucratividade.

Milene Puntel Osmari¹, Antonio Ferriani Branco²
¹ Zootecnista, Msc. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UEM, Maringá, Paraná.
² PhD. Prof. Departamento de Zootecnia – UEM, Maringá, Paraná.

Em sistemas de produção de bovinos, os gastos com alimentação representam 60 a 70% do investimento. No entanto, é necessário que esses alimentos possuam níveis adequados de nutrientes para explorar melhor a capacidade do animal e alcançar sua lucratividade. Para assegurar que o alimento ingerido possa realmente ser utilizado com a máxima eficiência pelos animais, muitas vezes faz-se necessário o uso de aditivos, com a finalidade de garantir um melhor balanceamento dos nutrientes dos alimentos (Coneglian, 2009).

O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, no entanto, para que os produtos destinados ao consumo humano possam atingir uma grande parcela de consumidores, é necessário que ultrapassem barreiras sanitárias impostas por alguns países importadores.

Dentre algumas barreiras impostas, estão a restrição do uso de alguns aditivos na alimentação animal, como os ionóforos (monensina sódica e lasalocida). Estes por sua vez, por serem produtos classificados como antibióticos, são utilizados na alimentação animal com o intuito de melhorar a digestão e absorção de nutrientes, através da seleção de bactérias ruminais. No entanto, a utilização de antibióticos na alimentação animal tem enfrentado uma resistência social por causa do aparecimento de resíduos e estirpes de bactérias resistentes (Martins et al., 2006).

Desta forma, aditivos alternativos têm sido pesquisados, visando a melhora na digestibilidade de nutrientes, e com isso a maximização da produção animal, sem o possível prejuízo àqueles que usariam os produtos animais como fonte de alimento.

Desenvolvolveu-se o Essential (Oligobasics®), produto composto de óleo de mamona e caju, classificado como aditivo aromatizante, destinado a fabricantes de alimentos para aves e ruminantes com o objetivo de auxiliar na melhora de desempenho dos animais (Oligobasics®).

O óleo da mamona (Ricinus communis L.) é extraído por prensagem e é o mais importante constituinte da semente de mamona, o qual tem sido destinado principalmente, à produção de biodiesel (biodieselbr.com, 2011). No entanto, o óleo da mamona ou de rícino, destaca-se economicamente pela versatilidade química no ramo industrial (Messetti et al., 2010), sendo composto basicamente de ácido ricinolélico (89,5%). Devido a estabilidade à temperaturas superiores àquelas usadas na extrusão (200ºC) (Chowderry & Mukheiji, 1956), permite ser classificado como um óleo fixo, pois mesmo em temperaturas elevadas, não sofre perdas por volatilização.

O ácido ricinoléico apresenta destacáveis efeitos analgésicos e antiinflamatórios, e possui ação bactericida e citolítica, dissolvendo a quitina, constituinte da membrana celular de microrganismos. Ainda, estudos preliminares apontam efeitos anticancerígenos atribuídos ao óleo de mamona (Lara et al., 2009).

A ação bactericida se dá principalmente contra bactérias Gram-positivas, as quais são produtoras de ácido acético, butírico, láctico e hidrogênio (Morais et al., 2006) e estão presentes em maiores proporções no rúmen de animais alimentados com dietas alto grão.

Quando usado em baixas quantidades podem ser consideradas como gorduras alimentares, mas quando consumido em dosagens superiores a 0,7 g/kg de peso vivo, pode causar diarréia. No entanto, o produto Essential possui as concentrações de óleo de rícino dentro do considerado seguro pelo INCHEM.

O óleo da castanha de caju é extraído a partir das castanhas e apresenta o cardol (15-18%) e o cardanol (75-80%) como seus princípios ativos mais importantes.

Em revisão, Coneglian (2009) comenta que o cardol possuem ação antimicrobiana por ser composto fenólico, a qual também confere ao óleo características antioxidantes.

O óleo da castanha do caju pode ser matéria prima para síntese da lasiodiplodina, substância já conhecida por atuar contra a leucemia, além do desenvolvimento de filtro solar e de um análogo do ácido salicílico, substância da qual é feita a aspirina (Vieira et al. (2011); pode ser utilizado como antioxidante de biocombustíveis como a mamona (Silva et al. (2011), favorecendo a estabilidade do combustível; pode agir como inseticida de contato para alguns tipos de lagartas (Vieira et al. (2011) e ainda, apresenta potencial atividade antimicrobiana sobre Staphylococcus sp, devido a presença de seus compostos fenólicos (Santos et al., 2008).

Na alimentação animal, a associação entre o óleo de mamona e caju tem sido utilizada como um substituto natural aos ionóforos, com funcionalidades análogas a esses produtos, com a vantagem de serem naturais.

Durante a digestão, as macromoléculas dos nutrientes são convertidas à compostos mais simples que podem serem absorvidas pelo trato gastrintestinal. Neste processo, a proporção de um alimento ou nutriente que não é excretada nas fezes é considerada como absorvido pelo animal. Assim, os coeficientes de digestibilidade servem para caracterizar o alimento indicando que quantidade percentual de cada nutriente tem condição de ser utilizado pelo animal (Van Soest, 1994). Desta forma, quanto maior a digestibilidade do nutriente, melhor sua absorção.

Coneglian (2009) comparando o fornecimento de monensina sódica e níveis crescentes de Essential (Oligobasics®) na dieta de bovinos (1, 2, 4 e 8g/dia) consumindo dietas alto grão, não verificou variação no consumo de matéria seca, no entanto, a utilização de 2 e 4g/dia do produto a base de extratos vegetais, melhorou a digestibilidade desse nutriente (Figura 1), apresentando valores próximos aos verificados para a monensina.

Segundo a pesquisa, a melhora na digestibilidade da matéria seca associada a adição dos extratos funcionais se dá pelo possível aumento na secreção da saliva, do suco gástrico, do suco pancreático, sais biliares e também enzimas do intestino delgado (Sambaiah & Srinivasan, 1991; Platel & Srinivasan, 1996).

A digestibilidade aparente da matéria orgânica e da proteína bruta foram influenciados pela inclusão dos aditivos. Os maiores valores de digestibilidade foram alcançados pelos tratamentos que apresentaram monensina e óleos funcionais ao nível de 2 e 4g/dia (Figura 1) (Coneglian, 2009).

Figura 1 – Digestibilidade da matéria seca (DIGMS, %), da matéria orgânica (DIGMO, %) e da proteína bruta (DIGPB, %) da dieta de bovinos alimentados com monensina sódica e níveis crescentes de Essential (ES1: 1g/dia de Essential na dieta; ES2: 2g/dia; ES4: 4g/dia e ES8: 8g/dia). Fonte: Adaptado de Coneglian (2009).

Branco & Coneglian (Essential: Manual Técnico Ruminantes) também verificaram que a utilização de doses crescentes de Essential em ensaios de digestibilidade in vitro melhoraram a digestibilidade da matéria seca do feno e de milho.

O consumo de fibra não foi influenciado pelos aditivos, no entanto, a inclusão de 2g/dia de monensina, 2 e 4g/dia de Essential afetou positivamente a digestibilidade da fibra, provavelmente porque estes tratamentos conseguiram manter o pH ruminal mais elevado. No entanto, Coneglian (2009), baseado em literatura, comenta que o efeito dos compostos de óleos funcionais sobre a atividade microbiana no rúmen pode variar dependendo da dose e do tipo de óleo funcional, apesar desta afirmação ainda ser inconclusiva. Desta forma, o mesmo pode ter acontecido para os níveis 1 e 8 g/dia de óleo funcional Essential (Figura 2).

A digestibilidade do extrato etéreo foi afetada positivamente por todos os tratamentos, exceto para o tratamento com o maior nível do óleo funcional (8g/dia) (Figura 2). A mesma resposta foi verificada para a digestbilidade dos carboidratos não fibrosos, que apresentou valor médio de 75,7%, sendo condizente com a literatura (Coneglian, 2009).

Os nutrientes digestíveis totais (NDT) obtiveram o mesmo comportamento da maioria das variáveis já mencionadas (Figura 2), sendo que os maiores valores foram apresentados para o tratamento com monensina e 2 e 4g/dia do produto Essential.

Figura 2 – Digestibilidade da fibra em detergente neutro (DIGFDN, %), do extrato etéreo (DIGEE, %) e dos carboidratos não-fibrosos (DIGCNF, %) e nutrientes digestíveis totais (NDT, %) da dieta de bovinos alimentados com monensina sódica e níveis crescentes de Essential (ES1: 1g/dia de Essential na dieta; ES2: 2g/dia; ES4: 4g/dia e ES8: 8g/dia). Fonte: Adaptado de Coneglian (2009).

A administração de óleos funcionais na dieta de ruminantes pode reduzir as concentrações de metano e de lactato, embora em doses mais elevadas também podem reduzir a digestão dos nutrientes e produção total dos ácidos graxos de cadeia curta, indicando a inibição do metabolismo microbiano (Coneglian, 2009).

Conclusões
O uso de óleos funcionais em dietas alto grão para bovinos em crescimento, utilizando o produto natural Essential (Oligobasics®), conferem efeitos semelhantes a monensina quanto a digestibilidade aparente dos nutrientes.
Os melhores valores foram encontrados quando se administrou 4g/dia de óleos funcionais.
Por ser um produto natural, é difícil o desenvolvimento de resistências ao Essential pelos animais que o consomem, com a vantagem de, se deixarem resíduos na carcaça, estes serem semelhantes aos encontrados em outros alimentos como centeio, trigo ou cevada.

Referências bibliográficas
Biodieselbr – Tudo sobre a mamona.
http://www.biodieselbr.com/plantas/mamona/especial.htm. Acesso em 02/Julho de 2011, às 19:35 hr.

Chowderry, D.K. & Mukheiji, B.K. Studies on Dehydrated Castor Oil – Part II. Journal Chemic, v.22, n.4, p.199-203, 1956.

Coneglian, S.M. Uso de óleos essenciais de mamona e caju em dietas de bovinos. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2009. 100p. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual de Maringá, 2009.

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Lara, R.; Jacob, R.; Lenardão, E.J. et al. Síntese de cetonas e do aldeído contendo a estrutura básica do ácido ricinoléico. In: XVII Encontro de Química da Região Sul, Rio Grande – RS, 2009.

Martins, J.A.S.; Berchielli, T.T.; Reis, R.A. Aditivos. Nutrição de Ruminantes. Eds. Telma Teresinha Berchielli, Alexandre Vaz Pires, Simone Gisele de Oliveira. Jaboticabal: Funep, 2006. 583p.

Messetti, M.A.; Santos, A.M.; Angelis, D.F. et al. Estudo do derivado do óleo de ricinus communis L. (mamona) como agente biocida e redutor da viscosidade produzida por Leuconostoc mesenteroides em indústrias sucroalcooleiras. Arquivos do Instituto Bológico, v.77, n.2, p.301-308, 2010.

Platel, K. & Srinivasan, K. Influence of dietary spices or their active principles on digestive enzymes of small intestinal mucosa in rats. International Journal Food Sciences and Nutrition, v.47, p.55-59, 1996.

Sambaiah, K. & Srinivasan, K. Secretion and composition of bile in rats fed diets containing spices. Journal of Food Science and Technology, v.28, p.35-38, 1991.

Santos, S.C.C.; Silva, A.C.; Lima,G.T. et al. Estudo da eficácia da ação bactericida do líquido da castanha do caju (Anacardium occidentale) -LCC adicionado a sabões sobre Staphylococcus sp. Anais: VIII Jornada de Iniciação Científica do CEULP/ULBRA. Centro Universitário Luterano de Palmas, 2008.

Silva, M.C.D.; Conceição, M.M.; Fernandes Jr., V.J. et al. Avaliação do efeito antioxidante do líquido da castanha de caju (LCC) em óleo e biodiesel de mamona. Acesso: www.biodiesel.com.br/docs/congresso2006/armazenamento/avaliacaoefeito6.pdf em 29/Junho/2011 às 11:14 hr.

Van Soest, P.J. Nutritional Ecology of the Ruminant. Ithaca: Comstock Publ. Assoc., p.476, 1994.

Vieira, L.; Oliveira, J.E.M.; Vacari, A.M. et al. Efeito do óleo de castanha de caju na mortalidade do curequerê-do-algodoeiro, Alabama argillacea Hüebner, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae). Acesso: www.cnpq.embrapa.br/produtos/algodao/publicacoes/…/065.pdf. em 29/Junho/2011 às 10:56 hr.

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