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Especialistas duvidam da valorização da carne com fim da vacinação contra aftosa

O caso do Paraná, que teve sua última vacinação contra a febre aftosa este ano, reacende a discussão sobre o tema e pode servir de parâmetros para outros estados. O ponto central a dividir opiniões é sobre se pode haver ganho ou não sobre a carne bovina em relação ao risco de parar a imunização, frente a controles que no Brasil são sempre permeáveis com a penúria dos estados.

Além das fronteiras internacionais porosas, após casos da enfermidade na Venezuela e Colômbia, como lembra Sebastião Guedes, vice-presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC).

“Lamentável o Brasil seguir com a crença de que para exportar carne há que ser livre de febre aftosa sem vacinação . A vacina é um seguro muito barato”, diz taxativamente Ênio Marques, por  duas vezes secretário de Defesa Agropecuária e um dos principais especialistas em questões sanitárias do Brasil.

Em linha com igual duvida também exposta ao Money Times ontem (23) por Afrânio Brandão, vice-presidente da Sociedade Rural do Pará (SRP), o Brasil se depara com exemplos que derrubam a tese de que regiões livres da doença com vacinação – e não reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, da sigla em inglês) – têm janelas fechadas no exterios. O Uruguai também vacina seu rebanho e abriu o mercado japonês, um dos países mais exigentes.

O Paraná, agora isolado, sem receber animais de estados com vacinação, e se juntando a Santa Catarina, há 10 anos com esse status, apressa correntes do Rio Grande do Sul a pedirem adiantamento dos prazos dentro do Plano Estratégico de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA). Aliás, como consegui u o Paraná, que não estava no calendário neste ano – Acre, Rondônia, Mato Grosso e Amazonas estavam na frente, mas tiveram a decisão dilatada justamente em razão de riscos analisados pelo governo e os próprios agentes locais.

Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), outro que adverte para os riscos, chama a atenção da solução que estão tentando achar para o setor no Paraná. O estado tem déficit de 30% entre a carne que consome e o rebanho em torno de 9 milhões de toneladas, portanto a Instrução Normativa 44, que estaria sendo revisada, poderá permitir que os frigoríficos locais tragam gado em caminhões lacrados.

“Gaiola” plastificada

“Acho um erro, pois o boi entra lacrado mas a carne será distribuída com que controle?”, pergunta o também pecuarista, ex-secretário de Produção Agropecuária e negociador internacional contra barreiras impostas ao Brasil, tanto como representante do governo quanto de entidades privadas.

A única forma de circulação de animais de outros estados diretos para as plantas será em caminhões “gaiolas” envolvidas por um plástico (impensável transportar bois em baús fechados). Ou seja, a segurança é precária em termos de blindagem em caso de algum animal doente estiver no meio de algum lote.

Outro ponto que interessa ao Paraná, mas que também pode ser estendido a outros estados, como do Nordeste, Espírito Santo e Rio, é sobre o desenvolvimento genético. Estados do Centro-Oeste, São Paulo, Minas e Pará possuem base em qualidade e volume, mas outros não. Mesmo o Rio Grande do Sul perdeu muito de seu tradicional rebanho com o avanço da soja.

Livre da aftosa sem vacinação, os produtores não poderão importar animais de outros estados para desenvolverem seus rebanhos, o que poderá resultar em atraso, como ressaltou Afrânio Brandão, da Sociedade Rural do Paraná.

Poderá haver flexibilização na entrada de sêmen e embrião, mas sob condições especiais, prova de essencialidade e quarentana, ou seja, um trabalhão e tanto, além de tornar a operação mais custosa, concorda Marques, atualmente consultor.

“Hoje temos uma vacina mais moderna, que além de garantir a imunização também praticamente elimina o risco de problemas na aplicação”, avalia Sebastião Guedes, vice do CNPC e presidente da Câmara Setorial da Pecuária de Corte.

Ele completa sobre o risco do fim da vacinação em larga escala: “Os estados tem suas defesas sanitárias em estado sofrível. E defesas estaduais são as que iniciam o combate a possíveis  reintroduções (da aftosa). Além disso, não temos banco de reserva de vacinas e nem de antígenos”.

Fonte: Money Times.

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