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Entrevista com Prof. Dr. Iveraldo Dutra sobre vacinas e as vacinações no controle das clostridioses (Parte 3)

Entrevista concedida pelo Prof. Dr. Iveraldo Dutra à Vallée S.A, enfocando o estágio atual do conhecimento técnico e científico sobre as vacinas e as vacinações no controle das clostridioses. A entrevista foi dividida em 5 partes.

O Prof. Dr. Iveraldo Dutra é Professor Titular da Disciplina de Enfermidades Infecciosas dos Animais, Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista, Araçatuba, SP.

Todas as vacinas do mercado protegem da mesma forma contra essas doenças?

Iveraldo Dutra: Diversos estudos realizados com vacinas similares contra clostridioses no país revelam que existem diferenças qualitativas e quantitativas significativas entre os produtos comercializados. Esses fatores são decisivos para a proteção efetiva dos animais e devem ser considerados na elaboração dos programas de vacinação. Atender as exigências mínimas oficiais é a condição para estar no mercado; ter produtos diferenciados e que atendam às necessidades do campo é uma questão de competência tecnológica, investimento em inovação e compromisso com a realidade brasileira.

A vacinação produzida com cepas homólogas (da região) protegem melhor contra o desafio de campo do que cepas heterólogas ao ambiente?

Iveraldo Dutra: Este é o exemplo mais claro do que foi dito acima sobre as diferenças entre as vacinas aparentemente similares contra as clostridioses. Na proteção contra o carbúnculo sintomático isto é decisivo e tem alguns episódios registrados na literatura que ilustram bem esta questão. Na década de 1970, na Austrália, as autoridades sanitárias e pesquisadores verificaram que as falhas na imunização contra o carbúnculo sintomático eram decorrentes do emprego de cepas vacinais de Clostridium chauvoei heterólogas (cepas com variações significativas na sua composição antigênica e consequentemente na proteção vacinal) às de campo. Este fato só foi devidamente caracterizado após a mortalidade de milhares de animais comprovadamente vacinados, seguido da exigência oficial dos laboratórios empregarem cepas regionais homólogas (cepas de campo) na fabricação das vacinas clostridiais, o que efetivamente solucionou o problema.

Cabe ressaltar que, dentre todos os fatores relevantes na produção de imunidade contra o C. chauvoei, o mais importante é a proteção desencadeada pelas vacinas compostas por cepas homólogas às do ambiente. Dessa forma, a vacinação com o emprego de cepas homólogas protege melhor contra o desafio homólogo do que contra o desafio heterólogo, pois algumas cepas induzem uma imunidade com maior espectro de proteção que outras; na prática este fator pode ser decisivo em situação de desafio ambiental intenso. Nesse contexto, presume-se que o ideal seja a introdução de cepas de campo regionais na fabricação dos produtos comerciais. Numa análise técnica e crítica, as mudanças substanciais e complexas nas formulações das vacinas devem obedecer a critérios objetivos resultantes de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e vigilância epidemiológica. Com isto, deve-se assegurar que a imunogenicidade do C. chauvoei nos produtos polivalentes complexos seja suficiente não somente para a aprovação nos testes oficiais, mas também que correspondam às exigências do campo.

No caso de vacas vacinadas, esta imunidade é transferida ao bezerro pelo colostro?

Iveraldo Dutra: Esta é uma informação técnica de grande valor aos pecuaristas e técnicos do setor. Se o propósito do programa sanitário for a redução de mortalidade pelas clostridioses que potencialmente são problemáticas nas primeiras fases de vida dos animais, então a qualidade do colostro deve ser considerada. A racionalidade técnica enuncia que o colostro é uma excelente vacina e podemos melhorar significativamente o seu valor biológico (qualitativo e quantitativo) quando as vacas estão vacinadas.

Uma das aplicações práticas resultantes dessa informação refere-se ao carbúnculo sintomático. A doença pode acometer animais com idade abaixo dos seis meses e esta incidência raramente é diagnosticada no campo devido às suas características epidemiológicas. A ocorrência do carbúnculo sintomático nessa faixa etária estaria associada a falhas na imunização passiva natural, desafio ambiental com cepa de campo heteróloga aos anticorpos maternos ou falhas em programas de imunização ativa, neste caso devido principalmente à vacinação dos bezerros com idade abaixo dos quatro meses. Concretamente estas situações estão presentes no nosso meio e contribuem para os coeficientes de mortalidades normalmente considerados como aceitáveis pelos proprietários rurais.

Para se considerar uma vaca como vacinada ela deve ter recebido uma dose de vacina há quanto tempo? A vaca deve receber reforço vacinal?

Iveraldo Dutra: Efetivamente deve-se considerar que a magnitude satisfatória da resposta imune (vacinal) protetora dos animais contra as diversas clostridioses dura 12 meses. Em síntese é o período normalmente aceito para se efetivar o booster (reforço) anual que se deve considerar. No conceito clássico aceita-se que animais primo-vacinados devem receber reforço vacinal 30 dias após e revacinação anual. Isto continua valendo e é o que deve ser preconizado de uma maneira geral.

Um conceito que deve ser trabalhado no meio técnico é o de que vacinação de rebanho difere de vacinação de indivíduo. O mesmo vale para a imunização. Assim, planejar e executar ações sanitárias em populações animais deve ser objeto de outra abordagem. Se individualizarmos o status imune provável dos animais para cada clostridiose em fazendas certamente não construiremos soluções.

Outra questão é a de que embora existam soluções integradas (vacinas) para o controle das principais clostridioses, elas continuam sendo doenças distintas, com quadros epidemiológicos próprios. Assim, se consideramos o carbúnculo sintomático como referência uma vaca vacinada seria aquela que recebeu pelo menos uma dose da vacina quando ainda era bezerra. Nesse sentido, mesmo vacas não vacinadas há pelo menos três anos ainda têm quantidades significativas de anticorpos colostrais. Obviamente existem diversos aspectos a serem elucidados sobre a questão da imunidade protetora e a sua duração para cada clostridiose, no entanto existem procedimentos gerais que vão se consolidando. A questão do reforço vacinal aos 30 dias após a primo-vacinação é uma das medidas mais negligenciadas por dificuldades operacionais, principalmente na pecuária extensiva. Ao mesmo tempo, inexistem estudos longitudinais associando os perfis sorológicos dos animais com a cinética imune ao longo de sucessivas vacinações anuais e os riscos de mortalidade. De fato, em algumas clostridioses, como por exemplo o botulismo, a vacinação sucessiva anual, sem o reforço vacinal inicial após 30 dias, tem contribuído significativamente no controle da doença. Um estudo epidemiológico realizado no Brasil na década de 1990 evidenciou que uma única dose de vacina antibotulínica bivalente controlou satisfatoriamente a mortalidade pela doença em animais primo-vacinados.

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