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19 de abril de 2021
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Entre produtores, desmate zero ainda é tema controverso

No Brasil, muitos agricultores e pecuaristas resistem às metas ambientais estabelecidas pelas indústrias. Os argumentos são diferentes entre si, mas a mensagem geral das lideranças é clara: os produtores querem exercer o direito de abrir áreas estabelecido pelo Código Florestal. 

“[As empresas] estão criminalizando nossa produção. Se não quiserem, que comprem de outros”, diz Bartolomeu Braz, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil). Amado de Oliveira, consultor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), faz coro. “Não apoiamos desmatamento ilegal, mas é fundamental que proprietário rural possa exercer aquilo a que tem direito”.

Mesmo iniciativas da indústria, já em curso, para rastrear a origem da soja não são bem-vindas. “Isso é totalmente desnecessário. Já existe CAR [Cadastro Ambiental Rural], monitoramento por satélite”, reclama Braz. “Ninguém quer encheção de saco ou complicação a mais”. 

Na cadeia da carne, a rastreabilidade é um dos temas dos diálogos coordenados pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Fazem parte dessa frente iniciativas como o programa de qualidade com gestão de protocolos de rastreabilidade desenvolvido com as associações de criadores. 

“Temos a lei de rastreabilidade mais avançada do planeta. Falta a cadeia se apropriar da maneira correta. Os protocolos permitem ao Brasil atender qualquer requisito”, afirma Paulo Vicente Costa, coordenador dos Protocolos de Rastreabilidade da entidade. Ele defende, no entanto, que o monitoramento possa ser atrelado aos protocolos, desde que com adesão voluntária do produtor e sem custos adicionais e sem invadir a privacidade dos produtores, como blindagem aos dados da Guia de Trânsito Animal (GTA). 

A preocupação com a privacidade dos dados dos produtores vem sendo incorporada pelas empresas. A JBS, por exemplo, anunciou um sistema próprio com blockchain para monitorar seus fornecedores, enquanto Minerva e Marfrig anunciaram o uso da ferramenta Visipec, que reúne num algoritmo dados de bases públicas. 

Os pecuaristas querem também remuneração por seus esforços. “Pague por aquilo que o produtor está investindo, remunere mais esse fator de produção”, defendeu Oliveira, da Acrimat. 

Em outra crítica, Bartolomeu Braz, da Aprosoja, diz ainda que a indústria lucra com as restrições e não repassa os ganhos aos produtores. “Não pagam pelas nossas reservas. Se é propriedade privada, por que somos obrigados a dar áreas a mais na Amazônia ou Cerrado?”, questiona.

A maior parte das tradings, porém, vem anunciando planos de incentivo para os produtores não desmatarem. Algumas oferecem linhas de financiamento para que os produtores não desmatem, como a Bunge, que tem parceira com o Santander e a ONG The Nature Conservancy, e a Louis Dreyfus Company, com uma linha própria. 

Já outras possuem programas mais amplos. A Cargill, por exemplo, criou recentemente o Land Innovation Fund, e a ADM, por sua vez, contrata a consultoria Produzindo Certo, que oferece aos produtores apoio técnico e possui parceiros financeiros para auxiliá-los. 

Na cadeia de carne, os três maiores frigoríficos, JBS, Minerva e Marfrig, anunciaram recursos para financiar seus planos e preveem de alguma forma apoio financeiro aos produtores.

Fonte: Valor Econômico.

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