Atacado – 11-09-2013
12 de setembro de 2013
Confira as fotos da entrega do Prêmio BeefPoint Confinamento e seus vencedores
13 de setembro de 2013

Entenda como os filhos de produtores rurais americanos criam raízes na agropecuária

Antes de crescer para se tornarem produtores rurais, um número surpreendente de crianças rurais da América aprendem a construir foguetes. Todo ano, os céus das áreas rurais desse país ficam cheios de mini-mísseis construídos por crianças. Os maiores voam centenas de metros, levando altímetros e paraquedas. Os campos de beisebol são locais populares de lançamento, bem como os campos de cultivo de alfafa: esse último tende a ser maior e, comparado com outras colheitas, a alfafa tolera um pouco de pisoteio. Isso explica muito sobre as fazendas americanas.

Uma organização de jovens está por trás de milhares desses lançamentos de foguetes rurais: a 4-H club, sigla que deriva de um juramento envolvendo cabeça, coração, mãos e saúde. Entre as pessoas da cidade, a 4-H não é muito bem conhecida. Porém, sua existência e sua história revelam muita coisa sobre as diferentes visões da América sobre produção rural e de alimentos. Para muitos, esse nome evoca uma única imagem: um filho de um fazendeiro, vestindo jeans e botas de cowboy, levando seus animais para eventos. Muitos membros do clube realmente criam e exibem animais, isso é verdade: um dos pontos turísticos do verão americano é assistir uma criança de 11 anos em uma feira estadual guiando um novilho de meia tonelada a juízes do 4-H.

Porém, a 4-H nasceu para disseminar ciência e formar caráter. Cerca de dois milhões de crianças participam, dos clubes e acampamentos do grupo, enquanto milhões mais seguem os programas 4-H nas escolas. Um grande impulso está em andamento para alcançar mais crianças urbanas, com esquemas como incubadoras de ovos na sala de aula de forma que crianças de oito anos aprendam que a “o frango não vem do McDonald’s”. Em Estados rurais como o Nebraska, a organização alcança uma criança em cada três. Os clubes e acampamentos 4-H formam a ala jovem de uma parceria entre o governo e as universidades públicas financiadas por presentes da terra federal, que remonta à guerra civil e é configurado para transmitir novas tecnologias para todas as regiões na união.

Visitando a Nebraska State Fair recentemente, a equipe do blog Lexington, do The Economist, visitou o pavilhão dos projetos 4-H. Algumas coisas podem ser encontradas em feiras em muitos países: potes de geleia, legumes e madeira premiados. Porém, havia uma ênfase notável em ciência e negócios também. Junto com longas prateleiras de modelos de foguetes, as exposições incluíam uma exibição de uma dissecação do olho de um porco e uma análise estatística sobre doenças de frangos. Cole Urmacher, de 11 anos, membro da quarta geração do 4-H, fez uma demonstração de robótica. Becca Laub, de 16 anos, falou sobre seus planos para uma empresa de tomate e criação de peixes e sua ambição de estudar engenharia. As pessoas acham que os produtores rurais não têm educação, ela zombou. Seu pai tem graduação em economia e usa isso para avaliar as tendências de mercado. Além disso, graças às engenhocas de posicionamento global, um dos tratores da família pode se dirigir sozinho, o que é muito legal.

Os rivais em outras terras têm teorias desdenhosas sobre por que a América, um país rico, é tão bom na produção de alimentos baratos. Eles pintam os produtores rurais americanos como peões de corporações agrícolas gigantes, intimidados pelas forças de mercado para produzir alimentos geneticamente modificados. O Lexington não esqueceu a cara de um ministro da agricultura francês, entrevistado durante uma postagem anterior para a Europa, quando zombou da produção agrícola “asséptica” da América.

Os americanos têm pensado de forma diferente sobre a agricultura há muito tempo – e não por acidente. Estabelecidas em uma onda de migração, cujo pico foi nos anos de 1880, os campos de Nebraska foram divididas por alemães, tchecos, dinamarqueses, suecos e até mesmo luxemburgueses pioneiros. Desde o início o plano era converter os colonos do Velho Mundo para formas científicas do Novo Mundo. À medida que o sistema se desenvolveu, o Congresso enviou agentes regionais de universidades para ensinar aos homens e suas esposas sobre agricultura moderna e habilidades como tomates em conserva. Nos anos de 1920, trens educacionais percorreram os campos, puxando vagões com animais e cultivos de demonstração. Em cada parada, centenas se reuniriam para palestras públicas. Os mais velhos resistiram às ideias modernas de plantas milho híbrido comprado de comerciantes ao invés de suas sementes de milho de suas próprias colheitas. Surgiu o movimento 4-H, que deu aos jovens sementes híbridas para plantar, e então esperou pelo choque de ver como o milho das crianças ultrapassou o de seus pais. Mais tarde, os mais jovens promoveram essas inovações, como computadores.

Como a América não era um país novo, argumentou Greg Ibach, chefe de agricultura do governo do Estado de Nebraska, uma preocupação primária era alimentar uma crescente população e transportar alimentos em grandes distâncias.

Nebraska, um grande produtor de carne bovina e milho, sente-se otimista de várias maneiras. Fala-se muito da classe média da China que está demandando carne e de uma população global de rápido crescimento. No ano passado, produtores rurais graduados na Universidade de Nebraska em Lincoln podiam escolher dentre várias ofertas de emprego. A América está “completamente estabelecida” para suprir a crescente demanda global , contanto que possa continuar usando culturas geneticamente modificadas e outras tecnologias, disse Will Miller, um estudante da UNL que criou novilhas suficientes como membro da 4-H para pagar seu caminho até a universidade.

Nem todos os jovens agricultores estão interessados em biotecnologia. A 4-H oferece projetos orgânicos também. Porém, muitos são empreendedores. A América planta ciência e capitalismo em suas crianças rurais. Assim eles mantêm raízes profundas.

Comentário BeefPoint: traduzimos e adaptamos esse artigo da revista The Economist com o objetivo de aumentar a vontade de nós, produtores brasileiros, criarmos maneiras e projetos de incentivar a criação de novos talentos e lideranças no agro brasileiro.

Fonte: The Economist, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

10 Comments

  1. Kenio de Gouvêa Cabral disse:

    Esse texto faz entender a mentalidade dos EUA e por que estão na vanguarda em quase todos os setores. Pobre de nós brasileiros e a maioria dos países latino americanos, enfurnados com governos de verve comunista e afeitos a distribuição da miséria.

  2. William Sousa disse:

    Incrível o poder e capacidade que os Norte-Americanos tem em relacionar tudo com Dinheiro. Isso sim é o máximo de capitalismo que podemos ver, porém eles estão “lembrando” de colocar um pouco de Sentimento (Paixão no que se faz), o que pode produzir pessoas mais racionais e preocupadas com a cadeia num todo.

  3. Carlos Antonio Lopes disse:

    A matéria é interessante e oportuna para uma velha reflexão: o conceito temporal de qualidade vida. Sabemos que o êxodo ou o desmembramento familiar rural no Brasil é fruto de uma ilusão urbana imediatista. Por isso, não somente a diferença conceitual de qualidade de vida com o EUA é abissal como, também, a política indutora do intraempreendedorismo. O mais interessante é que por aqui, razões de ordem sanitária, por exemplo, impedem que se possa produzir alimentos em programas como o Junior Achievement.
    Carlos A Lopes

  4. Eduardo Borba disse:

    Miguel, isso é tudo que nós brasileiros também precisamos. Evidentemente que com algumas adaptações. Antigamente as pessoas aprendiam a trabalhar com cavalos e gado e também na agricultura, desde pequenos iam com os pais, avô, tio etc…, para o curral. As experiências vividas ali ficavam impregnadas nelas. Não era só uma coisa de informação intelectual. Mas sim uma coisa de estar no “ser”. Hoje a legislação não permite que as crianças entrem no curral. isso significa que depois que a criança vivenciou a cena urbana, namorou entre outras coisas, ela não vai querer ir para o curral nunca mais. Quando a criança está na fase pré adolescente ela quer um herói. Ele quer um mestre. Na adolescencia ela só quer se afirmar como adulto e faz um monte de besteiras. Por isso o ideal é que elas conseguissem praticar essa atividade dos 9 aos 13 anos. A matéria fala de filhos de fazendeiros e ou rancheiros. Eu estou falando deles também, mas muito mais, filhos daqueles que estão envolvidos no dia a dia da pecuaria e da agricultura brasileira.
    Parabéns. Muito legal mesmo.

  5. Antonio Silvio Abeid Moura disse:

    Excelente artigo, por isso eles são o que são e nós somos o que somos. Exemplo prático: Sou de São Paulo com fazenda em Aparecida do Taboado- MS. À nossa volta só eucalipto, restam duas fazendas com 2 mil ha cada, a nossa e de outro proprietário de São Paulo. Estou tentando praticar com ele o que fiz com os outros antes de arrendarem para o eucalipto. Praticar a troca de informações, empréstimo de equipamentos, ajuda mútua mas vejo que parte muito mais de nós. Não conseguimos nos encontrar pessoalmente nem aqui nem lá.
    Esse é o retrato do Brasil, classe média desunida onde um pensa em fazer melhor negócio que o vizinho. Produtores individualistas, que pensam em comprar o meu bezerro mais barato e vencer a briga com o frigorífico sozinho( loucura!!!!!). Precisamos de problemas com índios para nos unirmos em algum momento? Será isso?
    O beefpoint poderia dispor, virtualmente, de uma página de contatos para os produtores do Brasil todo. Seria um grande começo, obrigado.

  6. Elias disse:

    Porque no Brasil os filhos de produtores rurais com 16 anos não podem fazer os cursos de qualificação do Senar. O Sesi oferece curso para menores de 18 anos, ou seja idade minima de 16, já para o Senar isto não é permitido, dizem que é determinação do ministério do trabalho.
    Analisando a situação, chego a conclusão que o jovem não ter incentivo para ficar na propriedade. Isto tem que ser mudado.

  7. Hernandes Medrado Filho disse:

    Excelente artigo.É hora de Políticas Públicas exclusivas para juventude Rural no Brasil e em especial no Nordeste onde ainda é muito expressivo o número de crianças no meio rural.Vamos parar de acusar e fazer alguma coisa dentro do nosso raio de ação.

  8. William Ortiz disse:

    Interessante ! Não somente o 4-H, mas também existe o FFA ( Future Farmers of America ) e CFFA ( Collegiate Future Farmers of America ) onde as crianças, jovens e universitários estão envolvidos e tomam gosto pela coisa.

  9. Carlos Magno Marcelino dos Santos disse:

    É muito bacana o formato de divulgação e aproximação da população com agronegócio. Creio que aqui em nosso país poderíamos fazer alguns eventos dentro de empresas rurais (modelo) com o devido respaldo e cuidado onde visitantes conheceriam os quais procedimentos (manejos) fazem parte na agropecuária.

  10. dinah Lunardelli salomon disse:

    Meus parabéns aos EUA pela objetividade e eficiência em levar ao conhecimento dos povos, como se faz para uma agricultura sadia e próspera.citando o 4-h,,FFA e CFFA..Tenho um genro agrônomo Francisco Fido Fontana, e já sei que os conhecimentos que ele possui em Biotecnologia etc são aplicados na Criação de GadoPO e no plantio de cereais, sempre tem obtido ótimos resultados,e sempre acompanhado de meu neto FELIPE de 11 anos, para que se torne igualmente, um excelente AGRICULTOR.

plugins premium WordPress