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Engorda de novilhas prenhas e suas implicações sobre as características de carcaça.

A engorda e abate de fêmeas no Brasil tem representado aproximadamente 50% do volume total abatido anualmente. Deste número, parte destas fêmeas são destinadas prenhas aos frigoríficos. Quais seriam então os efeitos da gestação sobre características importantes da carcaça, como acabamento e peso?

A engorda e abate de fêmeas no Brasil tem representado aproximadamente 50% do volume total abatido anualmente. Deste representativo número, parte destas vacas e também novilhas são destinadas prenhas aos frigoríficos (especialmente em ciclos de baixa, com preços de animais de reposição pouco atrativos). Quais seriam então os efeitos da gestação sobre características importantes da carcaça, como acabamento e peso? Lembremos que no Brasil não é raro a engorda em confinamento de fêmeas com prenhez confirmada ou até mesmo paridas.

No tocante ao desempenho, novilhas prenhas apresentam menor ganho de peso em carcaça (menos 12,2%) e menor rendimento (cerca de 5,5% inferior) à medida que a gestação progride. A conversão alimentar aumenta (13,3%), ou seja, piora (Meyer, 2005).

Pesquisadores da Universidade do Kansas (EUA) coletaram dados de abate de 8.292 novilhas oriundas de confinamento, sendo que deste total, 208 apresentavam-se no segundo trimestre de gestação, 185 no terceiro trimestre e 7.899 vazias. Além de características de carcaça como acabamento e peso, a incidência de cortes cárneos escuros também foi verificada.

Cortes escuros se referem à situação em que um corte de carne, quando cortado e exposto ao ambiente com oxigênio, não apresenta a luminosidade ou brilho adequado. Também têm como características pH final mais elevado, maior capacidade de retenção de água e cor escura. Estes aspectos estão relacionados à depleção das reservas de glicogênio muscular antes do abate. Claro que para a indústria frigorífica estes cortes não são desejáveis. Por exemplo, no Brasil, animais inteiros são mais susceptíveis a este tipo de problema. Fêmeas em cio também apresentam maior predisposição.

Os resultados da pesquisa estão resumidos na tabela abaixo:

Tabela 1. Efeito da gestação sobre as características de carcaça de novilhas.


As carcaças das novilhas prenhas foram 4 kg mais leves em relação às carcaças das fêmeas vazias. Outros trabalhos mostraram variação de 6 a 18 kg.

Apesar de não mensurado nesta pesquisa, o rendimento de carcaça é um parâmetro importante, uma vez que interfere nos custos de produção. Conforme mencionado anteriormente, o rendimento de carcaça de fêmeas prenhas é inferior, basicamente porque o peso vivo de abate é mais elevado, em decorrência dos pesos do feto, útero e membranas fetais (um útero gravídico pode chegar a 82 kg no final da gestação). Assim, a carcaça representará ou renderá menos em relação ao peso vivo final.

A espessura de gordura subcutânea foi maior nas fêmeas prenhas, sendo que 12,3% das novilhas prenhas apresentaram espessura maior que 20,2 mm.

Com relação aos cortes escuros, 1,7% das carcaças de novilhas vazias apresentaram cortes escurecidos, enquanto que nenhum caso foi observado nas fêmeas prenhas. Possivelmente a ocorrência de cio nas novilhas vazias esteja relacionada. Estes animais são mais ativos e susceptíveis a estresse, o que resulta em menores estoques de glicogênio no momento do abate, com conseqüente pH final da carne mais elevado.

As carcaças das novilhas prenhas receberam melhor classificação (Quality Grade), sendo que a porcentagem de carcaças classificadas como Choice e Prime (melhores classificações e maior remuneração) são mostradas nos gráficos abaixo.

Gráfico 1. Porcentagem de carcaças com classificação Choice


Gráfico 2. Porcentagem de carcaças com classificação Prime


Apesar da melhor classificação e da ausência de cortes escuros nas carcaças das novilhas prenhas, os autores concluem que estas vantagens são anuladas pela excessiva cobertura de gordura e pelo provável menor rendimento de carcaça.

Desta forma é preciso ficar atento à engorda de vacas e novilhas prenhas, pois muitas vezes estas apresentam maior ganho de peso vivo e peso vivo final, mas estes são conseqüência do crescimento do feto e aumento do peso do útero, não de tecidos da carcaça, interferindo negativamente no rendimento e custo da arroba.

Referências bibliográficas

KREIKEMEIER, K.K., UNRUH, J.A. 1993. Carcass traits and the occurrence of dark cutters in pregnant and nonpregnant feedlot heifers. J. Anim. Sci, 71:1699.

MEYER, D., B. 2005. Spaying Pays. Beef Magazine, www.gov.on.ca. acesso em 20/03/2007.

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10 Comments

  1. Marcelo Della Vecchia disse:

    Gostaria de saber se é bom negócio comprar vacas paridas para engordar em confinamento, estou em São Paulo.

    Obrigado

    Resposta do autor:

    O grande fator em confinar vacas paridas é a maior exigência destes animais, decorrente dos requerimentos para da lactação. Então para “alisar” estes animais pode levar um pouco mais de dias de confinamento.

    Tive boas experiências com esta categoria quando o preço de compra foi muito baixo (o bezerro fica praticamente com custo zero). Ao abater as fêmeas, os bezerros são forçadamente desmamados, precisa ver o manejo que será utilizado com estes animais. Boa parte dos bezerros consome a dieta no cocho, facilitando a desmama. Em certos casos e regiões pode ser interessante, principalmente com a alta do preço da vaca. Porém, com os atuais preços de reposição, quem quer vender vaca parida?

    Abraço, Rafael.

  2. Mauro Lanzarini disse:

    Muito bom esse informativo, parabéns.

  3. hugo vinicius de oliveira cardoso disse:

    eu queria saber se no confinamento de femeas vazias eu posso colocar touros , pois vacas no periodo de estro elas representam menor ganho de peso , e fora que elas vao ficar rufiando uma e outra e assim vai haver perda de peso…

    Resposta do autor:

    Este é um problema que realmente surge com fêmeas confinadas. Talvez a presença do macho resolva o problema de várias fêmeas rufiando, pois irá detectar e cobrir a vaca/novilha em cio, diminuindo a agitação no lote, a qual certamente interfere no consumo de matéria seca.

    Alguns técnicos também sugerem esta estratégia para explorar o anabolismo gravídico que ocorre durante a prenhês. Porém se a fêmea for ao abate em fase avançada de gestação, pode haver comprometimento do rendimento de carcaça. Mas no seu caso isto não deverá ocorrer.

    Abraço,

    Rafael Cervieri.

  4. Saulo Fernando Oliveira Santos disse:

    Muito interessante e esclarecedor o artigo. Eu só gostaria que me tirasse uma dúvida em relação a prenhez moderada e avançada. Qual a correspondência em dias de gestação?

    Obrigado!

    Resposta do autor:

    Prezado Saulo Fernando Oliveira Santos,

    Grato pela participação.

    Prenhez moderada – 4 a 6 meses
    Prenhez avançada – 7 a 9 meses

    Abraço, Rafael Cervieri.

  5. CLEIDIVÂNIA DE MOURA disse:

    Essa matéria foi de grande importância para uma pesquisa que fiz na faculdade, ajudou muito para melhor entendimento desse assunto. obrigada.

  6. Roberto da Silva França disse:

    Levando em consideração o preço da @ praticado pelos frigorificos, tendo em conta o rendimento de carcaça reduzido na limpeza, seria viavel a engorda de novilhas prenhes para abate?

  7. CARLOS ENRIQUE GAMA E SILVA disse:

    Do ponto de vistra técnico e/ou econômico há alguma contra-indicação à realização de engorda de novilhas para abate?

    Resposta do autor:

    Prezado CARLOS ENRIQUE GAMA E SILVA,

    Não existe nenhuma restrição. Fêmeas jovens podem apresentar desempenhos satisfatórios. Possuem conversão alimentar inferior à machos,
    Do ponto de vista econômico, podem existir situações desfavoráveis, por exemplo:
    – baixo preço de venda;
    – custos com alimentação/suplementação em momento desfavorável;
    Lembre que novilhas possuem carcaças mais leves e menor rendimento destas;
    Abraço.

  8. osires dos reis pereira disse:

    Artigo muito bom, ligeiro e com muitos dados objetivos.

  9. Márcio Venâncio disse:

    Eu trabalho com engorda de novilhas em regime de pasto,em terras arrendadas com o

    custo de 10,00 por cab/mês, 60 dias antes do abate trato com proteinados com consumo de 1% do peso vivo.A minha dúvida é,que na minha região Ji-parana Rondonia tem varios companheiros que compram bezerros para vender garrotes após um ano da compra, pelo fato da conversão alimentar do macho ser melhor que a fêmea, será mais viável comprar o bezerro e faze-lo garrote para vender aos invernistas? na condição a qual eu trabalho?

    Abraço, e desde já obrigado pela atenção!

  10. alessandro ferreira garcia disse:

    Marcio nao psso te responder mas vou fazer uma pergunta se eu comprar novilhas de 5 @ quantos tempo eu vou ter elas em pasto pra chegar as 11 ou 12 @ para abate? preciso do seu conhecimento pra mim comecar um sonho ?

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