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Engorda de gado em crise nos EUA

Tom Feller passou 40 anos de sua vida em um confinamento com 15.000 cabeças em Wisner, Nebraska, nos Estados Unidos, chamado Feller & Co., administrando os altos e baixos do negócio. Porém, 2015 produziu uma quebra no mercado como nunca antes, deixando Feller e outros confinadores procurando por um superlativo apropriado para descrever a devastação financeira. Chamar isso de train wreck (expressão americana que descreve uma situação realmente ruim) é um eufemismo. Feller, um confinador de gado de quarta geração, sobreviveu a “desastres de trem” anterior.

“É o pior mercado pelo qual já passei. É um pesadelo”, disse ele.

Coletivamente, os confinadores de gado perderam US$ 4,7 bilhões no ano passado, disse John Nalivka, presidente da Sterling Marketing, Inc., Vale, Oregon. Seus cálculos, feitos com base em dinheiro sem nenhuma consideração por hedging ou outras ferramentas de controle de risco, colocam os lucros cumulativos da indústria em 2014 em US$ 3,9 bilhões, o que significa que os confinadores desistiram disso e mais em 2015.

O pesadelo começou em janeiro do ano passado à medida que os confinamentos começaram a ver resultados vermelhos em suas liquidações. Dados do Sterling Markerting revelam uma perda média por cabeça de apenas US$ 18 em janeiro passado. À medida que os confinadores de maior preço começaram a mudar para boi gordo pronto para abate, entretanto, as margens dos confinamentos entraram em crise.

Dados históricos compilados pelo Livestock Marketing Information Center (LMIC), Denver, confirmam que 2015 foi o pior ano financeiro para a engorda de gado. E ainda não fechou.

“Estamos rastreado a rentabilidade da engorda desde meados dos anos setenta”, disse o diretor do LMIC, Jim Robb. “As perdas mensais média por cabeça em 2015 quase dobraram as perdas vistas em 2012”, anteriormente o pior ano financeiro para os confinamentos.

As perdas médias mensais em 2015 foram de US$ 303 por cabeças, passando as perdas médias de 2012 de US$ 159 por cabeça.

Esses números, entretanto, não refletem adequadamente a devastação que todos os confinadores passaram no último outono.

“Nossos clientes tiveram uma equidade por cabeça de US$ 300 no gado quando eles foram para a engorda, mas eles perderam tudo isso mais outros US$ 200 a US$ 300”.

Esse foi o cenário de todos os confinamentos do país em outubro passado, criando uma crise financeira para todos os envolvidos, especialmente operadores independentes de confinamento que sofreram perdas similares às companhias de propriedades de gado. Muitos se descobriram em uma crise financeira como jamais tinham passado.

“Não temos nenhuma companhia de propriedades de gado que estão indo para frente que não estão protegidas por hedge”, disse o gerente do Beef Belt Feedlot, um confinamento com capacidade de 15.000 cabeças em Scott City, Kansas, Dominic Stephens. “Isso foi difícil para nossos clientes e alguns podem precisar refinanciar seus ativos. Mas foi uma lição difícil para todos”.

À medida que os confinadores lutaram com a implacável volatilidade do mercado, a Mãe Natureza deu um segundo golpe rude.

“Estamos usando hedges e opções (para controle de risco), mas estamos ainda apanhando em nossas cabeças”, disse Feller. “Então, o clima ficou ruim. Tivemos chuvas incomuns no final de dezembro, que trouxeram umidade e frio e que prejudicou o desempenho dos gados. Além dos golpes que estamos tomando no mercado, os animais ficaram de 35 a 57 quilos mais leves”.

Impacto das perdas

Dados do LMIC sugerem que os confinamentos registraram perdas médias de mais de US% 450 por cabeça durante o período de quatro meses de outubro a janeiro. Isso é similar aos dados de fechamento de outras fontes e a média inclui algumas semanas com números péssimos.

A Sterling Marketing, Inc., que fornece o Beef Profit Tracker semanalmente publicado na Drovers.com a cada terça-feira, reportou perdas de US$ 695 por cabeça para a semana que terminou em 19 de dezembro de 2015. Essa foi a semana que o USDA reportou uma queda de preço médio em cinco áreas para US$ 257,52 por 100 quilos, ou mais de US$ 116,85 por 100 quilos sob breakeven (preço em que não há perdas nem ganhos).

“O breakeven daquela semana foi de US$ 375,29 por 100 quilos”, disse Nalivka. “Os altos breakevens foram resultado de novilhos de engorda de 340 a 363 quilos que custam US$ 496,68 por 100 quilos (US$ 1.689 por cabeça)”.

Desde o baixo ponto pré-Natal, as perdas da indústria foram cortadas pela metade, mas as médias semanais para o primeiro mês de 2016 permaneceram acima de US$ 300 por cabeça.

“Os breakevens estão substancialmente menores do que estavam no outono passado”, disse Nalivka. “Os confinamentos não conseguem continuar pagando esses preços altos para o gado para engorda quando estão sofrendo perdas de capital”.

O resultado foi um mercado em baixa para bovinos de engorda de até um ano, o que produziu um declínio de 35%.

“Houve uma mudança na lógica”, disse Rob. “A correção de mercado trouxe a indústria a um equilíbrio de forma muito abrupta. Os compradores nos confinamentos estão obviamente menos agressivos”.

Indo em frente

A perda massiva de capital pelos confinamentos e seus clientes terão um profundo impacto na indústria para o balanço de 2016 e provavelmente para os próximos anos à medida que essas lições não são facilmente esquecidas.

“A crise do mercado de 2015 foi um momento de definição para a indústria pecuária”, disse Steve Meyer, veterano economista pecuário que anteriormente contribuía com o The Daily Livestock Report, e que agora é vice-presidente de análises de suínos do EMI Analytics. “A indústria de engorda de gado teve capacidade excessiva por anos e os confinadores buscaram agressivamente gado para engorda para manter seus estabelecimentos cheios. Mas esse mercado foi um dia do juízo final como nunca vimos antes”.

Os confinadores e seus clientes estão relutantes em discutir o impacto financeiro das perdas recentes que tiveram em suas finanças. Porém, as análises – e os poucos confinadores que comentaram essa história – disseram que há uma enxurrada de refinanciamento ocorrendo. Os ativos como terra e equipamentos estão sendo reavaliados pelos banqueiros, e os pecuaristas estão trabalhando para cobrir suas perdas.

Além disso, os pecuaristas são descritos como resilientes e muitos se veem continuando a engordar gado.

“Nossos clientes continuarão a engordar gado”, disse Stephens. “Esse é seu negócio. É isso que eles fazem”.

Haverá mudanças, entretanto, à medida que a indústria engole as peras coletivas e segue em frente.

“Veremos mais consolidação da indústria de engorda, disse Meyer. “É provável que aluns dos confinamentos menores independentes deixem a atividade depois dessa crise”.

Os confinamentos pendurarão uma placa de “À venda”?

“Achamos que isso acontecerá por pelo menos 10 anos”, disse Meyer. “Veremos um mercado de compradores no momento”.

Robb disse que é provável que a indústria continuará vendo confinamentos maiores e corporativos adicionando estábulos enquanto os menores e independentes ficarão vazios, buscando novos proprietários.

“A demanda por confinamentos de 5.000 a 10.000 cabeças não existe”, disse ele. “As margens estão tão apertadas e os membros do setor precisam de economias de escala para fazer isso funcionar no clima de hoje”.

confinamentosEUA

Impacto sobre os produtores

Embora os produtores de cria estejam no banco de motorista como há um ano, os problemas da indústria de engorda já atrapalharam os outros segmentos da indústria. Os preços para bezerros e novilhos estão substancialmente menores à medida que a demanda dos compradores está mais racional. Todos os analistas da indústria revisaram suas previsões de preços para 2016 para baixo, refletindo as mudanças na demanda.

“Os preços dos gados para engorda foram fatorados em um fechamento projetado de US$ 143,30 por 100 quilos a menos do que estavam há um ano”, disse Nalivka. “E um bom caso pode ser feito de que eles não caíram o suficiente, porque os confinamentos ainda não podem prever um lucro nesse nível”.

De uma perspectiva dos confinadores, Robb disse que a crise também inpirará mais participação nas fórmulas de preços para capturar os premiums para gado de maior qualidade. Ele também ve um risco ainda maior para proprietários de novilhos em 2016.

“Os novilhos provavelmente terão mais risco para os pecuaristas e operadores stocker”.

“Eles devem procurar duro no contrato por aqueles bovinos para entrega após a estação de pastoreio se surgirem oportunidades de lucros”.

Apesar do colapso sem precedentes do mercado, Feller permanece otimista. “Daqui para a frente, se os bovinos estiverem muito caros, os pedidos dos compradores serão ouvidos”.

Fonte: Drovers, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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