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Encefalopatia Espongiforme Bovina

Por Maristela Pituco1 e Nayana Pereira2

A Encefalopatia Espongiforme Bovina – EEB (ou BSE em inglês), também conhecida como “doença da vaca louca”, é um quadro degenerativo crônico e transmissível do sistema nervoso central (SNC) de bovinos.

A EEB é causada por um novo tipo de agente infeccioso, denominado prion, (uma partícula de proteína em versão modificada) o qual é transmitido através da ingestão de subprodutos animais como farinha de carne e ossos de bovinos ou ovinos contaminados. A versão normal do prion é abundante na superfície dos neurônios (células cerebrais), desde os répteis aos mamíferos, e algumas pesquisas realizadas em camundongos indicam que estes têm por função o bom funcionamento do cérebro, enquanto que a versão modificada causa a “doença da vaca louca”, devido a sua acumulação, provocando uma gradual deterioração no tecido do cérebro de bovinos. Observado ao microscópio, o cérebro do animal doente apresenta lesões características que lhe dão o aspecto de esponja, o que explica seu nome.

Os cientistas acreditam que o prion bovino alterado possa, também, contaminar o cérebro humano causando a variante da doença “Creutzfeldt-Jakob”, porém isto ainda não foi totalmente provado.

O agente da EEB é extremamente resistente ao calor, portanto também aos processos convencionais de esterilização, e não induz resposta imune ou inflamatória. A doença já foi relatada em bovinos de cerca de 20 países, embora acima de 90% dos casos tenham ocorrido na Grã-Bretanha.

A EEB foi identificada pela primeira vez em 1986, na Grã-Bretanha, principalmente em vacas leiteiras com mais de 3 anos. Contudo, dados epidemiológicos e revisões de arquivos de preparações histológicas mostram a ocorrência de casos já em 1985 e alguns estudos sugerem que casos anteriores possam ter ocorrido já na década de 70. A maioria dos bovinos afetados por EEB pertence a rebanhos da Grã-Bretanha, formando um total de 180.000 casos desde 1986, distribuídos por 35.000 rebanhos, numa média 1 a 2 casos por rebanho afetado. O pico ocorreu em 1992, quando 37.000 bovinos foram positivos para EEB.

Fora da Grã-Bretanha, a doença foi confirmada num número relativamente pequeno (cerca de 2.800) de bovinos nativos da Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, França, Grécia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Liechtenstein, Luxemburgo, Países Baixos, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Finlândia, República Tcheca e Suíça. Em alguns países ocorreram casos somente em bovinos importados, como foi o caso de Ilhas Malvinas, Oman e EUA.

A EEB foi adquirida pelos bovinos por meio de rações contendo farinhas de carne ou de ossos de bovinos contaminadas pelo agente etiológico. Especula-se que a fonte da infecção também poderia ser ovinos contaminados por scrapie.

Na década de 70 e início da década de 80 na Inglaterra ocorreram alterações nos processos de fabricação de rações de farinha de carne ou de osso, o que pode ter contribuído para o aparecimento da doença.

O período de incubação da EEB (tempo decorrido desde que o animal é infectado até o aparecimento dos primeiros sinais clínicos) é de 2 a 8 anos (em média 5 anos). Após o aparecimento dos sinais clínicos, a doença evolui e em 3 semanas a 6 meses o animal morre. Bovinos afetados por EEB apresentam nervosismo, reação exagerada a estímulos externos e dificuldade de locomoção, principalmente nos membros pélvicos.

A EEB ainda não possui tratamento curativo ou preventivo, portanto é fundamental prevenir sua ocorrência. Ressalta-se que durante o processo de avaliação e certificação da condição sanitária dos rebanhos brasileiros, em 2002, pela missão Européia, o Brasil foi classificado como risco 1, ou seja, “altamente improvável” de apresentar a ocorrência da EEB.

Normalmente a Avaliação de Risco para EEB é realizada periodicamente por um Comitê Independente de Cientistas que oferece apoio à decisão das autoridades sanitárias. Para a montagem dos cenários indispensáveis aos estudos é necessário um amplo levantamento sobre a organização pecuária, com ênfase nas políticas e estrutura de saúde animal.

Para manter a classificação obtida, as autoridades sanitárias brasileiras tomaram várias medidas preventivas desde o aparecimento da doença no Reino Unido, visando preservar o patrimônio pecuário e a saúde pública. A Portaria No. 516, de 9 de dezembro de 1997, incorporou a encefalopatia espongiforme bovina, a paraplexia enzoótica dos ovinos (scrapie) e outras doenças com sintomatologia nervosa de caráter progressivo no sistema de vigilância da raiva dos herbívoros domésticos.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), fundamentado em legislações especificas, implantou o sistema nacional de vigilância para Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis – EET. Foram tomadas medidas sanitárias como a restrição à importação de animais suscetíveis e seus produtos, quando originários de países de risco, o rastreamento dos animais importados desses países e a proibição da utilização de proteína de origem animal na formulação de alimentos destinados aos ruminantes, bem como análise laboratorial de animais com quadro clínico de encefalite.

No Brasil, é importante ressaltar que a criação de bovinos é extensiva, ou seja, os animais comem pasto durante o ano inteiro, com o uso estratégico de ração como suplemento. Além disto, desde 1996 foi proibido o uso de farinhas de origem animal na elaboração de rações para bovinos, uma vez que esta é a via de contaminação e disseminação da doença.

Os países que mantêm comércio de produtos de origem animal com o Brasil consideraram satisfatórias as garantias fornecidas pelo governo brasileiro sobre os bovinos importados,e ainda, considerando o sistema de criação, classificaram o risco de transmissão da EEB, pela importação desses produtos e bovinos como desprezível.

Finalmente, o Brasil tem um risco de entrada e disseminação da EEB muito baixo, o que pode tornar-se uma grande vantagem na conquista e manutenção dos mercados mundiais de carne, além de oferecer aos consumidores brasileiros um produto com alta confiabilidade.

________________________
1Maristela Pituco, médica veterinária, mestra em patologia bovina pela USP e doutora em patologia bovina pela Escola Superior de Medicina Veterinária de Hannover, na Alemanha, pesquisadora científica do Instituto Biológico de São Paulo, integrante do comitê técnico do SIC

2Nayana Pereira, Graduanda de Administrtação da FEA – RP/USP, Pesquisadora do PENSA e estagiária do SIC.

Fontes Consultadas

Organização Mundial de Sanidade Animal – OIE – www.oie.int

BSE Info – www.bseinfo.org

CIV – www.civ-viande.org

– “Crise BSE USA – Oportunidades e Ameaças“, Enio Antonio Marques Pereira – publicado pelo BeefPoint

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – http://www.agricultura.gov.br/

PESQUISA FAPESP 94 – Dez/2003

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