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Emissões de CRA em dólar a caminho

Empresas brasileiras e investidores estrangeiros começaram a estruturar as primeiras emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) em dólar para financiar o setor produtivo, medida permitida desde abril com a sanção da lei 13.986, resultado da MP do Agro. Duas operações, envolvendo uma cerealista e uma usina de biocombustíveis, podem aportar investimentos de US$ 550 milhões por meio desses títulos.

A expectativa é que elas sejam efetivadas até outubro com registro fora do país, incrementando um mercado que já vinha crescendo. Em 2019, as emissões de CRAs aumentaram 78,5% e, este ano, movimentaram mais de R$ 8 bilhões, a despeito das incertezas da pandemia.

“É um processo de educação dos investidores estrangeiros para mostrar a atratividade do CRA em dólar”, disse ao Valor Lúcio Feijó Lopes, head do escritório Feijó Lopes Advogados e que assessora as duas empresas cujo faturamento anual beira R$ 1 bilhão, de acordo com ele.

As emissões em estruturação são de US$ 200 milhões e U$$ 350 milhões. Os recursos serão destinados ao financiamento de insumos para produtores de grãos e cana-de-açúcar das regiões Sul e Sudeste do país.

Apesar de o lançamento dos primeiros CRAs em dólar estar a caminho, o setor produtivo está comedido. A avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é que essa opção não vai financiar diretamente a grande massa de produtores. De acordo com a entidade, a opção é vantajosa para cooperativas e revendas de insumos.

“Dificilmente vai chegar para os pequenos e médios produtores isoladamente. A grande vantagem é para cooperativas e revendas que vão poder captar de forma mais barata os recursos que usam para financiar o produtor na ponta”, avaliou Fernanda Schwantes, assessora técnica da Comissão Nacional de Política Agrícola da confederação.

Para Moacir Teixeira, sócio da Ecoagro, securitizadora que lidera a emissão de CRAs no Brasil com mais de R$ 20 bilhões emitidos desde 2016, o campo está aberto para emissões em dólar e para médias empresas do interior do país emitirem CRAs de até R$ 150 milhões lastreados em títulos como as Cédulas de Produto Rural (CPR).

Na avaliação de Carlos Augusto Lopes, sócio-fundador da UqBar, empresa referência em finanças estruturadas do país, há espaço para o maior protagonismo de médios produtores no segmento e para mudanças no perfil de quem compra os títulos, migrando de pessoas físicas para investidores institucionais, fundos e gestores de recursos, principalmente com a opção em dólar.

“O ambiente de credibilidade e confiança no agronegócio brasileiro é o que pode impulsionar isso”, vislumbrou Teixeira. Segundo ele, a emissão em dólar também abre novas oportunidades bem como o registro dos chamados títulos verdes. “O mercado de dólar vai vir e vai ficar grande, pois vai trazer prazo para os produtores, independência de negociação perante as tradings e indústria de químicos e fertilizantes na compra de insumos à vista, que dá diferencial de preço fantástico”, acrescentou o sócio da Ecoagro. Neste ano, as emissões de CRAs vêm aumentando mesmo com a crise. No primeiro semestre, foram captados R$ 5,8 bilhões com a emissão desses títulos, mais do que os R$ 5,2 bilhões do mesmo período do ano passado. Com novas captações realizadas em julho, o montante emitido supera os R$ 8,26 bilhões. Em todo o ano passado, foram R$ 12,3 bilhões.

Uma das novas operações foi a emissão do maior CRA da história: R$ 2,2 bilhões. O título foi dividido em duas séries, com vencimentos em 2027 e 2030, pela Vert Securitizadora e teve como beneficiária a BRF. A remuneração será pelo IPCA e o lastro são debêntures da empresa.

O lastro em debêntures é uma características dos CRAs que mantém as emissões longe do financiamento direto da agropecuária. Em 2019, 62% do valor emitido teve como lastro debêntures de gigantes do setor. Carlos Augusto Lopes, da UqBar, afirma que existe concentração de grandes empresas e de operações pouco “pulverizadas” na emissão por conta da isenção fiscal para imposto de renda.

Com a queda dos juros no Brasil, a composição dos títulos também está mudando. O IPCA, que mede a inflação no país, passou a ser o principal indexador, superando o tradicional CDI. Em 2020, mais de 80% de todo montante realizado foi atrelado à inflação.

“É um dos principais movimentos transformacionais do CRA. Hoje praticamente podemos decretar a morte temporária do CDI. O investidor está preferindo um hedge natural inflacionário”, disse Lopes.

Conforme a B3, o estoque atual de CRAs passa de R$ 45,7 bilhões. Sem arriscar prognósticos quanto a volume e número de operações, o superintendente de Produtos de Balcão da bolsa, Carlos Alcântara, diz que o custo menor torna o título atrativo mesmo no cenário conturbado de pandemia. “O investidor está olhando para outros mercados, como a bolsa, buscando mais risco. Dentro da renda fixa, vemos movimento de saída dos títulos do governo e de emissão bancária para renda de emissão corporativa. O CRA pode aparecer como boa alternativa por conta da isenção de imposto de renda para pessoa física”, afirmou ele.

Fonte: Valor Econômico.

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