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Embargo da China: liberação de carne bovina já habilitada não garante retomada das exportações

Recebida de forma positiva pelo governo e pelo setor, nesta semana, a decisão chinesa de permitir a entrada da carne bovina certificada até o último dia 3 de setembro, data que antecedeu o embargo determinado após dois casos atípicos de mal da vaca louca, não garante a retomada das importações regulares. Pelo contrário, avaliam analistas de mercado: com um volume que pode passar de 100 mil toneladas de carne entrando no mercado chinês às vésperas do ano novo lunar, existe a possibilidade da suspensão se alongar ainda mais.

“É uma notícia boa? É. Vai gerar algo positivo em médio e longo prazo? Não sei”, resume o analista de pecuária da Stonex, Caio Toledo, ao destacar que a notícia também ajudou a desfazer o temor que pairava sobre o mercado, de que a carne bloqueada nos portos chineses e nos próprios frigoríficos brasileiros fosse destinada ao mercado interno.

“Tinha frigoríficos que pareciam terminais portuários, tamanha quantidade de contêiner que tinha no pátio. Então, esse era um problema que precisava ser desenrolado o quanto antes e felizmente foi”, acrescenta o analista da Safras & Mercado, Fernando Iglesias.

Os dois acreditam que a decisão chinesa de aceitar a carne bovina certificada até o dia 3 de setembro pode ser lida tanto pelo lado positivo quanto negativo. O lado positivo é o da expectativa de avanço das negociações para o fim do embargo. A própria ministra da Agricultura, Tereza Cristina, chegou a avaliar que a decisão desta semana seria um 1º passo para a retomada das exportações regulares de carne bovina para a China

O lado negativo é justamente o do aumento da oferta de carne bovina no país com um produto que já tinha o país como destino antes do embargo justamente em um período em que a demanda é maior, como o ano novo chinês. “Com esse volume de carnes que está chegando, a China se resguarda para o ano novo lunar e não precisa comprar carne bovina tão cedo, podendo manter esse embargo por um período ainda mais longo”, explica Iglesias, estimando um volume entre 100 a 150 mil toneladas, totalizando US$ 1 bilhão.

De olho no suíno

Toledo, da StoneX, argumenta que, para tentar entender os próximos passos da China em relação a carne bovina brasileira será preciso acompanhar os efeitos dessa liberação sobre os preços da carne suína e a margem da suinocultura no mercado chinês. O fundamento é a preferência do consumidor chinês pela carne suína e os esforços do país para conter a queda de preços, após fortes investimentos na recuperação do setor.

“Como a gente observou que, depois do bloqueio brasileiro, a carne suína subiu, a gente tem adotado como medida de acompanhamento justamente se essa carne entrando vai ter impacto sobre a carne suína ou não”, revela o analista.

“Houve um refino das técnicas de manejo, uma profissionalização da atividade, com investimento em nutrição animal de qualidade, importação de genética. Tudo isso para melhorar a qualidade da suinocultura. E o governo chines não vai deixar esse dinheiro desperdiçado, já que os custos de produção na China também estão muito altos este ano”, observa Iglesias ao mencionar que Austrália e Irlanda também tiveram dificuldades para a exportar carne bovina para a China nos últimos meses.

“A China fez uma série de estratégias e medidas para conseguir com que os preços da suinocultura começassem a reagir. E é isso o que estamos vendo nesse mês de novembro, os preços da suinocultura chinesa reagindo, embora ainda num patamar bem baixo. Por isso que, nas entrelinhas, temos imaginado que esse seja o grande motivo para esse embargo tão alongado assim”, comenta o analista da Safras & Mercado.

Fonte: Revista Globo Rural.

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