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Em carta, Marfrig manifesta intenção de investir no Paraguai

Mesmo após desistir de adquirir o Frigonorte, indústria paraguaia de carne bovina que foi colocada à venda em meio a turbulências financeiras, a brasileira Marfrig ainda quer ingressar no Paraguai, país que costuma entregar boa rentabilidade para a indústria frigorífica.

Na semana passada, a companhia manifestou oficialmente a intenção de investir no país vizinho. Em carta entregue a Rodolfo Alfaro, ministro da Agricultura paraguaio, a Marfrig disse estar ciente do interesse do governo local em fomentar a pecuária. O documento, obtido pela reportagem, é assinado por Heraldo Geres, vice-presidente jurídico da Marfrig.

A manifestação do grupo brasileiro chamou atenção pelo momento em que ocorreu, poucos dias após a rival brasileira Minerva Foods fechar um contrato com o Frigonorte para a prestação de serviços. Pelos termos do acordo, de um ano de validade, a empresa paraguaia produzirá carne e a Minerva se encarregará da venda.

Embora permita a reabertura do Frigonorte, que está fechado e deve mais de US$ 4 milhões para pecuaristas, o acordo com a Minerva provocou muitas críticas de parte dos produtores de gado, que temem o que consideram ser uma excessiva concentração do abate nas mãos da Minerva – com quatro plantas em operação no Paraguai, a empresa já é a maior indústria de carne bovina, respondendo por quase 45% das exportações de carne bovina do país.

Em meio ao noticiário sobre o acordo entre Frigonorte e Minerva, o órgão antitruste do Paraguai anunciou em 19 de junho uma apuração preliminar sobre a operação. Na ocasião, Comissão Nacional da Concorrência (Conacom) informou que a ação não significava o início formal de um procedimento de investigação. Na última sexta-feira, o órgão antitruste informou, após ter acesso à minuta do contrato entre as
duas empresas, que o negócio será avaliado como um “ato de concentração”.

Os desdobramentos do caso provocaram desconforto em pessoas envolvidas na negociação. Ao Valor, uma fonte disse que a declaração de interesse em investir no Paraguai feita pela Marfrig mesmo após desistir da aquisição do Frigonorte poderia representar uma pressão para que o órgão antitruste paraguaio melasse a operação.

Uma fonte próxima à Marfrig negou qualquer intenção nesse sentido, sustentando que a manifestação só ocorreu após o governo local fazer uma sondagem dos motivos do grupo para desistir de assumir o Frigonorte – as dívidas da sociedade que controla a unidade e problemas no processo de diligência levaram à desistência. Procuradas, Minerva Foods e Marfrig não comentaram.

Como não há muitas alternativas de aquisição no Paraguai – o Concepción, segundo maior frigorífico do país, chegou a ser oferecido para a Marfrig no ano passado, mas por valores fora da realidade -, a manifestação do grupo ao governo foi o pontapé inicial para o estudo da possível construção de uma planta.

O último abatedouro construído no Paraguai foi erguido pela JBS – e posteriormente vendido à Minerva – quando Miguel Gularte, atual CEO da Marfrig, presidia o negócio de carne da JBS. Construir um frigorífico, no entanto, poderia levar dois anos e exigiria investimento de mais de US$ 50 milhões.

Paralelamente, pecuaristas do Paraguai ainda tentam evitar o acordo entre Minerva e Frigonorte. “O governo está preocupado porque há gente sem emprego e o que estamos dizendo é que a Athena Foods [subsidiária da Minerva] não é a única opção. Nós podemos ser a opção com um sócio internacional”, disse Fernando Serrati, presidente de uma associação de produtores, ao jornal paraguaio “Ultima Hora”.

Fonte: Valor Econômico.

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