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El Niño fraco deve ‘poupar’ safra 2018/19

A formação de El Niño não deve trazer grandes dores de cabeças para os produtores brasileiros neste ciclo 2018/19. Contudo, gastos maiores com agrotóxicos são esperados para a temporada.

“Há indícios de El Niño, mas a atmosfera não está se comportando como se houvesse”, afirmou Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima.

Ontem, o escritório de meteorologia do governo da Austrália manteve alerta para a formação de El Niño, mas indicou que a atmosfera não está reforçando as condições do Oceano Pacífico.

A tendência, segundo meteorologistas, é que não sejam registrados nesta safra longos períodos de estiagem durante a fase de formação dos grãos no Centro-Oeste e Norte, nem de chuvas em excesso ao Sul, como é de costume quando o fenômeno se forma.

Para Heloísa Pereira, meteorologista da Somar, o clima deve refletir as condições de El Niño já no meio do verão, mas a intensidade do fenômeno será fraca. “Em meados de janeiro e fevereiro, deveremos ter chuvas irregulares no Brasil Central e mais concentradas no Sul”, disse.

Como nem tudo são flores, o produtor deverá gastar mais neste ciclo com tratos culturais. A incidência atual de chuvas no Centro-Oeste deve aumentar consideravelmente a proliferação de pragas. A última projeção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica alta de 9,4% nos gastos da safra em 2018/19.

“Até o momento, não houve tratos culturais na soja em Mato Grosso. Com certeza, haverá focos de ferrugem”, disse Santos. O agrometeorologista avalia que, ainda assim, a produção de soja no país deve ficar entre 122 milhões e 124 milhões de toneladas. “Sem nenhum problema climático, o potencial seria de 127 milhões de toneladas. É uma redução de potencial produtivo”, explicou ele.

Pereira disse que a Somar Meteorologia prevê tempo quente e úmido entre Goiás e Mato Grosso, “o que já pode favorecer o desenvolvimento da ferrugem asiática”.

Quanto ao milho “safrinha”, que começará a ser semeado no Centro-Oeste em janeiro, também há indícios de que a produção não estará ameaçada. Cerca de 80% da área deverá ser plantada até 15 de fevereiro, o que deve garantir chuvas para o desenvolvimento dos grãos. “O cenário é extremamente favorável, mas é mais consequência de plantio dentro da janela ideal que de clima”, disse Santos. Na safrinha de 2017/18 houve queda de 15% da produtividade.

A região mais sensível ao El Niño deve ser o Matopiba (confluência entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Pereira explicou que, no momento, as chuvas na região estão acima da média, o que pode levar ao desenvolvimento de raízes pouco profundas. Mais para frente, quando as chuvas ficarem mais irregulares, as plantas poderão ter dificuldades de se desenvolver. Além disso, o solo mais arenoso também torna a região mais suscetível às intempéries, disse ele.

Nas demais culturas, o clima não deve ser um problema. As áreas de café entre São Paulo e Minas Gerais devem receber chuvas abaixo da média entre janeiro e fevereiro, mas ambas já registraram precipitações volumosas na primavera, provocando a abertura de floradas, disse Pereira. Em algumas regiões, porém, não houve bom pegamento da florada, segundo produtores.
Na maior parte do Sudeste, contudo, as chuvas devem ficar dentro da média, segundo a Somar, o que deve favorecer os pomares de laranja e particularmente as lavouras de cana, em um período crítico para o desenvolvimento.

Para o algodão pode ocorrer perda de qualidade por causa das chuvas acima da média. “Mas serão problemas pontuais. Nada que traga preocupações maiores com a safra”, avaliou Santos.

Fonte: Valor Econômico.

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