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Eficiência da prostaglandina para sincronização de estro em bovinos em diferentes dias do ciclo estral

A sincronização do estro, através da aplicação de agentes luteolíticos, como a prostaglandina-F2a (PGF2a), ou seus análogos, tem sido amplamente utilizada, tanto em casos de monta natural, inseminação artificial, como na técnica de transferência de embriões (TE), para qual é imprescindível. Trata-se de um método prático e que induz um estro de fertilidade comparada ao natural (FERNANDES, 1994).

Porém, um ponto de estrangulamento, principalmente na sincronização de estros entre doadoras e receptoras num programa de transferência de embriões, que utiliza em larga escala a aplicação destas substâncias, é o custo relativamente elevado dos agentes luteolíticos, além da variação nos resultados. No ano de 2004 feitas cerca de 10.000 coletas de embriões no Brasil e os gastos com prostaglandinas correspondem a 15% dos custos de um programa de TE.

O efeito luteolítico de diferentes doses de análogos de prostaglandinas aplicados por diferentes vias tem sido documentado, porém na maioria das vezes se baseia em resultados referentes à manifestação de estro posterior, o que sem dúvida e uma fonte adicional de variação, referente a capacidade de observação de cada estudo ou situação.

Sabe-se que além da presença de um corpo lúteo funcional, a eficiência do processo luteolítico varia de acordo com a fase do ciclo estral na qual a fêmea se encontra quando recebe o produto com esta finalidade.

A grande vantagem, para a sincronização de estro em bovinos, que os luteolíticos apresentam sobre os protocolos que utilizam implantes de progesterona ou progestágenos está no custo reduzido dos primeiros. Por outro lado, a diminuição da eficiência é uma das limitações observadas neste caso. A seleção de animais aptos e em fases sensíveis a estes fármacos pode reduzir sensivelmente as diferenças observadas em relação à eficiência.

A utilização de animais em trabalhos de mensuração da eficiência de luteólise sem a seleção previa e distribuição eqüitativa dos mesmos de acordo com o período do ciclo estral, entre os tratamentos, pode levar a resultados distorcidos. Não é possível confiar em testes de comparação de protocolos ou de produtos para sincronização de estro quando não se define ou não se distribui de forma balanceada os animais entre os grupos de acordo com a fase do ciclo.

A variação da sensibilidade do corpo lúteo aos análogos da prostaglandina depende do dia do ciclo. Do estro até cerca de seis dias após este evento, a a sensibilidade à prostaglandina e seus análogos no corpo lúteo é mínima. Assim sendo a resposta aos indutores de luteólise é irrisória. Entre seis e dez dias do ciclo estral, a literatura indica uma elevação gradativa da sensibilidade. Nesta fase, o corpo lúteo passa a ser sensível, além de apresentar resposta dependente da dose de produto utilizada para induzir a luteólise. A partir de doze dias após o estro a sensibilidade atinge seu limite e assim permanece até o período da luteólise natural.

Diante disto, pretendeu-se neste estudo avaliar os efeitos da aplicação de um agente luteolítico em diferentes fases do ciclo estral, para avaliação de eficiência na sincronização de estro. Além disto pretende-se avaliar a viabilidade da observação diária de cios, para que os luteolíticos sejam aplicados somente em animais na fase sensível do ciclo, aumentando assim a eficiência e reduzindo ainda mais os custos de sincronização.

O experimento foi realizado nas fazendas Água Limpa no município de Fama- MG e Fazenda Pinhal, no município de Silvianópolis-MG, ambas no Sul de do Estado de Minas, no período de janeiro a abril de 2005. Foram realizados 360 aplicações de agentes luteolíticos, visando a sincronização de estro em novilhas mestiças (Zebu X Holandês), utilizadas como receptoras num programa de Transferência de Embriões. Possuíam peso corporal superior a 350 kg e escore de condição corporal entre 3,0 e 4,0 (escala de 1 a 5). Estes animais foram avaliados anteriormente, e somente foram utilizados aqueles previamente observados em estro natural. Foram classificados para o experimento de acordo com o dia do ciclo no momento da aplicação.

Os animais, devidamente identificados através de brinco numérico na orelha, foram selecionados de acordo com o dia do ciclo estral (entre 06 e 17o dia). Todos os animais receberam 530µg de cloprostenol sódico (2 ml de Ciosin).

Após tratamento os animais foram mantidos em pasto de Brachiaria decubens ou Brachiaria brizanta, apenas com suplementação com sal e mineral comercial. Foram utilizado rufiões preparados pela técnica de aderência do pênis proporção 1:40 para auxílio da observação de cio.

Os animais foram mantidos em piquetes, na presença de um rufião, na proporção de 1 rufião para cada 40 fêmeas, no máximo, para o auxílio na detecção de estro, o qual foi observado visualmente, 2 vezes ao dia, em intervalos de 10-12 horas. A condição a ser adotada para se considerar o animal em estro foi o reflexo de imobilidade. Somente foram considerados os animais que manifestarem estro até 96 horas após.

Do total de animais que foram tratados com 2ml de Ciosin, 82,74 foram observados em cio. Outros trabalhos onde os animais não são previamente selecionados mostram eficiência que varia de 30 a 65%. Isto mostra que quando existe manejo eficiente e mão-de-obra adequada, e os animais se encontram numa fase sensível do ciclo estral a eficiência da sincronização com prostaglandina é muito boa. Vale ressaltar que o produto utilizado tem efeito luteolítico. Este efeito (luteolítico) pode ter ocorrido em alguns animais, e o cio não ter sido detectado. Somente a análise de queda de progesterona (próxima fase do projeto) pode revelar quais e quantos seriam estes animais.

Eficiência tratamento com cloprostenol sódico (Ciosin®) em animais de acordo com o dia do ciclo estral


Conclusões

A sincronização de cio com prostaglandinas é uma alternativa viável que pode apresentar ótimos índices de seincronização.

A observação de cios, mesmo quando praticada em animais sincronizados pode ter uma boa eficiência.

A sensibilidade dos animais ao cloprostenol (Ciosin) é praticamente constante e elevada a partir do 7o dia do ciclo estral.

O conhecimento do dia do ciclo em que o animal se encontra no momento da aplicação do luteolítico pode auxiliar na eficiência do protocolo e redução de custos.

Referências bibliográficas

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0 Comments

  1. Irezê Moraes Ferreira disse:

    Gostaria de parabenizar o autor deste artigo, o qual foi meu professor no curso de pós-graduação em reprodução animal, e este assunto é de vital importância e nós profissionais devemos ter completo domínio sobre o uso das prostaglandinas que muito pode nos auxiliar nos protocolos de sincronização de cio de femeas bovinas.

    Vale ressaltar que os animais que participaram do trabalha apresentavam boas condições corporais e estavam ciclando com regularidade, o que nos permite relembrar a máxima de que o ´CIO ENTRA PELA BOCA”.

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