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Eficiência a campo de programas de I.A. em tempo fixo em Bos indicus

Pietro Sampaio Baruselli, Ed Hoffmann Madureira e Márcio de Oliveira Marques

1. Introdução

A atual situação econômica da pecuária mundial exige dos produtores máxima eficiência para garantia de retorno econômico. Desta forma, elevados índices de produção, associados à alta eficiência reprodutiva, devem ser metas que norteiam os técnicos e criadores a alcançar melhor produtividade e satisfatório retorno econômico na atividade. Neste contexto, a otimização da eficiência reprodutiva é um dos principais fatores que contribuem para melhora da performance produtiva e da lucratividade dos rebanhos bovinos.

A inseminação artificial (IA) se consagrou mundialmente e provou ser viável técnica e economicamente para acelerar o ganho genético e o retorno econômico da pecuária. No entanto, em todo o mundo existem relatos que indicam baixa taxa de serviço em bovinos, principalmente devido a comprometimentos na eficiência de detecção de cio. Este comprometimento é maior em rebanhos Bos indicus devido a particularidades do comportamento reprodutivo (estro de curta duração com elevado percentual de manifestação noturna; Galina et al., 1996; Pinheiro et al., 1998). Desta forma, programas que visam empregar a inseminação em tempo fixo, sem a necessidade de detecção de estro, colaboram sobremaneira no aumento do emprego desta biotecnologia.

O objetivo deste trabalho é descrever sucintamente experimentos realizados a campo utilizando progesterona e progestágenos com viabilidade de emprego em bovinos de corte, com destaque aos Bos indicus e suas cruzas criados a campo no Brasil Central.

2. Vantagens do emprego da Inseminação Artificial em Tempo Fixo

Sem sombra de dúvidas, a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) está revolucionando o emprego desta biotecnologia em rebanhos de corte. Dentre algumas das vantagens, podemos enumerar que a IATF: 1) elimina o trabalho com detecção de cio; 2) facilita o manejo da IA; 3) concentra o trabalho em dias pré-determinados; 4) aumenta o número de animais inseminados (100% de taxa de serviço); 5) possibilita o planejamento dos partos e da estação de monta subseqüente; 6) reduz a quantidade de touros na propriedade; 7) acelera o ganho genético nos rebanhos.

Atualmente, o fator limitante da IATF está relacionado à viabilidade econômica da técnica, principalmente quando empregada em rebanhos comerciais, nos quais o custo-benefício pode não ser favorável. Entretanto, o que se verifica em todo o mundo é uma redução gradativa no custo dos fármacos utilizados para a sincronização da ovulação. Assim, acredita-se que, em pouco tempo, a viabilidade econômica da IATF seja facilmente alcançada em rebanhos comerciais, já que em criações destinadas à produção de touros e/ou matrizes (maior valor agregado), tem-se verificado adequado retorno financeiro.

Verifica-se, também, que os tratamentos que utilizam GnRH e prostaglandina (Protocolo Ovsynch) têm apresentado baixa eficiência em vacas de corte com bezerro ao pé, apesar do reduzido custo do protocolo. Nossos trabalhos (Baruselli et al., 2001) demonstraram que, em situações de igualdade de condições, os tratamentos com progesterona e/ou progestágenos são mais eficientes em vacas de corte paridas sem desmame temporário.

3. Administração de Benzoato de Estradiol após sincronização com implantes contendo Norgestomet

Em experimento realizado na estação de monta 2001/2002 se objetivou avaliar a necessidade da administração de Benzoato de Estradiol (BE) após a retirada de implantes contendo Norgestomet (Crestar, Intervet) em vacas Bos indicus e cruzadas com bezerro ao pé. No Dia 0, as vacas dos Grupos 1 e 2 (n=62 e n=59, respectivamente) receberam um implante de Norgestomet (Crestar, Intervet) e uma aplicação IM de 3 mg de Norgestomet com 5 mg de Valerato de estradiol. No Dia 9, retirou-se os implantes e foram administrados 400 UI de eCG IM (Novormon, Tecnopec). Após 24 horas da remoção do implante (Dia 10) apenas os animais do Grupo 2 receberam 1 mg de Benzoato de Estradiol IM (Estrogin, Farmavet). A inseminação em tempo fixo foi procedida 52 a 56 horas após a retirada dos implantes (Dia 11) em todas as vacas.

As vacas dos Grupos 3 e 4 (n=60 e 63, respectivamente) receberam no Dia 0, um implante auricular de Norgestomet e uma aplicação IM de 2 mg de Benzoato de Estradiol. No Dia 8, retirou-se os implantes e foram administrados 400 UI de eCG IM e 150 µg de d-cloprostenol IM (Prolise, Tecnopec). Após 24 horas da remoção do implante (Dia 9), apenas os animais do Grupo 4 receberam 1 mg de Benzoato de Estradiol IM. A inseminação em tempo fixo foi procedida 52-56 horas após a retirada dos implantes em todas as vacas (Dia 10). Os resultados constam nas tabelas 1, 2 e 3.

Tabela 1. Taxa de concepção de vacas lactantes Nelore e ½ sangue Nelore x Simental ou Angus tratadas com VE + Nor + CRESTAR + eCG e BE + CRESTAR + PGF + eCG, associado ou não ao benzoato de estradiol 24 horas após a retirada do implante. Cascavel – PR, 2002.

Tabela 2. Efeito da raça (Nelore vs Cruzadas) na taxa de concepção de vacas lactantes tratadas com CRESTAR + eCG associado ou não ao benzoato de estradiol 24 horas após a retirada do implante. Cascavel – PR, 2002.

Tabela 3.. Efeito do escore da condição corporal na taxa de concepção de vacas lactantes Nelore e Cruzadas tratadas com CRESTAR + eCG associado ou não ao benzoato de estradiol 24 horas após a retirada do implante. Cascavel – PR, 2002.

Os resultados demonstraram que a administração de Benzoato de Estradiol, 24 horas após a remoção dos implantes não influencia a taxa de concepção de vacas tratadas com Valerato de Estradiol e Norgestomet ao início do protocolo para IATF com Crestar. Entretanto, em vacas submetidas ao protocolo que utiliza Benzoato Estradiol ao início do tratamento com implantes reutilizados de Crestar, a injeção de 1 mg de Benzoato de Estradiol (24 horas após a retirada dos implantes) determinou aumento significativo das taxas de concepção.

Secundariamente, verificou-se não ocorrer diferença na taxa de concepção de vacas Bos indicus (Nelore) e Bos indicus x Bos taurus (Nelore x Angus e Nelore x Simental) submetidas a estes protocolos (Tabela 2). Ainda, nas fêmeas com escore de condição corporal ≤ 3 (escala de 1 a 5) constatou-se menor taxa de concepção (P<0,05) que as vacas com escore superior a 3,5 (Tabela 3), demonstrando a importância do escore de condição corporal na obtenção de eficácia satisfatória à IATF. 4. Sincronização com Progesterona, Benzoato de estradiol, PGF2a e eCG.

Em trabalho recente, 215 vacas Nelore (Bos indicus) com período pós parto de 75 ± 19,38 dias e mantidas a pasto com seus bezerros na região de Sidrolândia, Mato Grosso do Sul, foram homogeneamente divididas em 2 grupos. No Dia 0, as vacas do Grupo Controle (n=108) receberam 2 mg de Benzoato de Estradiol IM (Estrogin, Farmavet) e um implante intra-vaginal contendo progesterona (CIDR-B, 1,9 g de P4, Pharmacia). No Dia 8, o implante foi retirado e administrados 150 µg de d-cloprostenol IM (Prolise, Tecnopec). No Dia 9, após 24 horas da retirada do implante, foi administrado 1 mg de Benzoato de Estradiol IM. No Dia 10, cerca de 52 a 56 horas após a retirada dos implantes, foi realizada a inseminação artificial em tempo fixo. O restante das vacas (n=107) constituiu o Grupo eCG e foi submetido ao mesmo protocolo acrescido da administração de 400 UI de eCG IM (Novormon, Tecnopec) no momento da retirada dos dispositivos intravaginais. Foram procedidas avaliações ultra-sonográficas ovarianas (Aloka SSD 500; 5 mHz) no Dia 0 para determinação da ciclicidade de todas as vacas e no Dia 42 para diagnóstico de gestação. Os resultados são demonstrados nas tabelas abaixo:

Tabela 4. Taxa de prenhez em vacas Nelore lactantes tratadas com CIDR-B e CIDR-B + eCG inseminadas em tempo fixo. Sidrolândia-MS, 2001.

Tabela 5. Taxa de prenhez em vacas Nelore lactantes tratadas com CIDR-B e CIDR-B + eCG no período pós-parto conforme a atividade ovariana no dia da inserção do CIDR-B. Sidrolândia-MS, 2001.

Os resultados demonstraram que a administração de eCG melhorou significativamente a taxa de concepção de vacas Bos indicus tratadas com dispositivos intravaginais com progesterona e inseminadas em tempo fixo (Tabela 4). Este incremento foi maior em vacas em anestro (P=0,08) e em transição (P=0,06) quando comparadas ao Grupo Controle. Em vacas cíclicas não se verificou melhoria significativa das taxas de concepção no grupo tratado com eCG (Tabela 5). Provavelmente, a ação FSH promovida pelo eCG melhorou o desenvolvimento do folículo dominante nas vacas em anestro e, conseqüentemente, sua taxa de ovulação.

Num terceiro experimento finalizado em janeiro de 2002, testamos a necessidade da utilização de camisa sanitária para inseminação em tempo fixo de vacas Brangus previamente tratadas com dispositivos intravaginais contendo progesterona. A hipótese testada era que a discreta vaginite causada pelo dispositivo intravaginal poderia diminuir a taxa de concepção de vacas inseminadas em tempo fixo e que, com o uso da camisa sanitária, a taxa de prenhez de vacas submetidas a estes tratamentos seria incrementada. Após um protocolo de sincronização da ovulação utilizando dispositivos intra-vaginais contendo progesterona (CIDR-B, Pharmacia) se procedeu a inseminação artificial em tempo fixo em 211 vacas cruzadas Nelore x Angus (Brangus) com 63 ± 10,77 dias de período pós-parto mantidas a pasto na região de São Manuel, São Paulo. Utilizou-se a camisa sanitária (Chemise sanitare IMV, França) em 105 vacas e não se procedeu o uso da mesma nas 106 restantes. Os resultados estão demonstrados nas tabelas 6, 7 e 8.

Tabela 6. Taxa de concepção de vacas Brangus conforme uso da camisa sanitária no momento da inseminação em tempo fixo. São Manuel-SP, 2002.

Tabela 7. Taxa de concepção de vacas Brangus inseminadas em tempo fixo conforme escore de condição corporal. São Manuel-SP, 2002.

Tabela 8. Taxa de concepção de vacas Brangus inseminadas em tempo fixo conforme período pós-parto. São Manuel-SP, 2002.

Observou-se que o uso da camisa sanitária não proporcionou maior taxa de concepção em vacas tratadas com dispositivos intravaginais e inseminadas em tempo fixo. Ainda, as vacas com escore de condição corporal ≥ 3 (escala de 1 a 5) tenderam (P=0,08) a obter uma melhor taxa de concepção que animais com escore inferior (2,5). O período pós-parto compreendido entre 40 e 50 dias determinou menor taxa de concepção que aquele entre 61 e 70 dias (respectivamente 40,7% vs 73,6%; P< 0,05). Desta forma, no presente experimento, vacas paridas há 61-70 dias e com escore de condição corporal ≥ 3 apresentaram melhor taxa de concepção à IATF. Conclusões

Os resultados indicam que é possível obter bons resultados com a inseminação artificial em tempo fixo em Bos indicus a campo. Entretanto, os técnicos devem estar atentos às particularidades da fisiologia reprodutiva desta espécie, principalmente relacionados ao anestro pós-parto e à condição corporal.

Referências Bibliográficas

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BARUSELLI, P.S.; MARQUES, M.O.; CARVALHO, N.A.T.; MADUREIRA, E.H.; CAMPOS FILHO, E.P. Efeito de diferentes protocolos de inseminação artificial em tempo fixo na estação de monta de vacas de corte lactantes. Resúmenes do 4o Simposio Internacional de Reproducción Animal, p. 236, 2001. Huerta Grande, Córdoba, Argentina.
GALINA, C.S.; ORIHUELA, A.; BUBIO, I. Behavioural trends affecting oestrus detection in Zebu cattle. Anim. Repr. Sci., V. 42, P. 465-470, 1996
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PINHEIRO, O.L., BARROS, C.M., FIGUEREDO, R.A., VALLE, E.R. DO, ENCARNAÇÃO, R.O., PADOVANI, C.R. Estrous behavior and the estrus-to-ovulation interval in Nelore cattle (Bos indicus) with natural estrus or estrus induced with prostaglandin F2alpha or norgestomet and estradiol valerate. Theriogenology, v.49, p.667-81, 1998.

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