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Efeitos da nutrição na reprodução de bovinos de corte 1/3: Energia

O alimento como fonte de nutriente é importante para reprodução e outras condições biológicas. Ainda são incertas quais as formas em que a nutrição atua, influenciando o potencial genético para reprodução. Neste contexto os próximos artigos irão abordar uma rápida revisão sobre os possíveis mecanismos envolvidos na nutrição e reprodução.

SIMPSON (1998) relata que a idade a puberdade tem sido largamente estudada ao redor do mecanismo, que marca o início da puberdade, sendo que um dos marcadores seria o aumento na freqüência na liberação de hormônio luteinizante (LH). A nutrição (energia, proteína), fotoperíodo e raça são outros fatores que agem na idade a puberdade, anestro e pós-parto prolongado, sendo que estes fatores não são totalmente elucidados sobre a atuação no eixo-hipotálamo-hipófise-ovariano.

A restrição energética segundo SCHILLO (1992) tem demonstrando suprimir a liberação cíclica de LH em bovinos e maturação de folículos, ou seja, através de efeitos no controle neuro-endócrino da liberação do LH.

A deficiência de proteína tem demonstrado afetar negativamente a reprodução (RUSCHE et al. 1993). A quantidade e a qualidade tem influenciado a reprodução, com menor intervalo entre partos (DHUYVETTER et al., 1993).

Vários autores discorrem que a condição corporal no parto e alimentação pré e pós-parto, influenciam a duração do anestro pós-parto, bem como nas taxas de concepção e prenhez. WRIGHT (1992), observou que vacas, que mantiveram a condição corporal em função da dieta com alta energia, apresentavam uma maior freqüência pulso de LH que as vacas com baixa energia.

Energia

A redução da freqüência do pulso de LH tem sido observada em restrições energéticas, provavelmente representam um dos meios mais importantes, modo pelo qual a desnutrição prejudica a atividade em fêmeas bovinas. SCHILLO (1992) revisou que a perda na gordura corporal, também está associada à redução freqüência dos pulsos de LH.

Segundo SCHILLO (1992) a redução na freqüência dos pulsos de LH, não são bem claras, mas suspeita-se que fatores como insulina, IGF-1, aminoácidos, ácidos graxos não esterificados, glicose e corpos cetônicos, refletem o status metabólico, parecendo influenciar de alguma maneira a liberação do hormônio supra citado.

A concentração de insulina pode servir como um sinal nutricional que influencia a liberação de LH. As concentrações periférica de insulina são diretamente proporcionais aos níveis de ingestão alimentar dos ruminantes. Por atravessar a barreira hemato-encefálica, pode influenciar varias funções no sistema nervoso central. Desta forma a insulina pode afetar a liberação de LH. HARRESON e RANDEL (1986) não observaram alterações nos padrões de LH durante o ciclo estral em novilhas injetadas com insulina.

FOSTER e OLSTER (1985) observaram que usando insulina em carneiros subnutridos e alimentados ad libitum, obtiveram como resposta, falha em elevar o LH, em animais desnutridos, em contra partida foi observado um efeito inibitório na liberação de LH nos animais alimentados ad libitum. Sugerindo que a insulina pode não atuar como mediador dos efeitos da nutrição nos padrões hormonais.

A insulina exerce efeito diretamente sobre os ovários e não no hipotálamo. GONG e WEBB (1996) revisaram que a insulina, bem como GH e IGF-1 estão envolvidos nos estágios iniciais da foliculogênese, visando a dominância folicular e a resposta destes às gonadotrofinas.

PIRES & SUSIN (1997) revisaram que a insulina atua sinergicamente com FSH na diferenciação morfológica das células granulosas do folículo, e também aumenta a capacidade de ligação de LH com seus receptores. Os autores ainda observaram que a insulina estimula a produção de progesterona pelo corpo lúteo e a síntese de prostaglandina, na presença de lipoproteína de alta e baixa densidade. As ações da insulina sobre os ovários são bastante semelhantes as das gonadotrofinas hipofisárias.

HALL et al. (1995) testando o efeito de duas dietas, que proporcionaram ganhos de peso moderados e altos para novilhas pré-puberes, observaram aumento das concentrações de insulina para ambos tratamentos próximo a puberdade. Porém, como resultados de YELICH et al. (1995), falharam em demonstrar o efeito de condição corporal e quantidade de gordura sejam o “gatilho” para o início da puberdade.

Logo após o parto a concentração de insulina plasmática é baixa, bem como a glicose, estando positivamente relacionada com o balanço de energia. A disponibilidade de insulina pode ser limitante para a atividade ovariana, e sua receptividade à ação das gonadotrofinas (PIRES & SUSIN, 1997)

KITTOK (1998) relata que em carneiras adultas ovariectomisadas, a secreção de LH é deprimida após hipoglicemia induzida por insulina e que a infusão de glicose previne o decréscimo nos níveis deste hormônio, e FUNSTON et al., (1995) confirma que a redução glicose diminui os níveis de LH, usando um antagonista da glicose (2-deoxiglicose).

Já RUTTER e MANNS (1987 e 1988) responsabilizam que a glicose é que altera a amplitude de liberação de LH, enquanto que a restrição energética altera a freqüência de liberação. Quando da hipoglicemia instituída pela restrição enérgica os mesmos autores citam que os corpos cetônicos derivados da metabolização de gordura, podem ser utilizados pêlos neurônios estimularem o hipotálamo a manter pulsos de GnRH, para sustentar os níveis pulsáteis de LH.

MCCAUGHEY et al. (1988) estudando os efeitos da glicose na função reprodutiva de vacas pós-parto mantidas em níveis nutricionais adequados, não observaram alterações nos padrões de LH. RUTTER & MANNS (1986) em trabalho semelhante com ovelhas, concluíram que o conteúdo de hormônios na hipófise e hipotálamo, bem como a concentração de receptores não foram alterados quando níveis de glicose são fornecidos a animais em alimentação adequada.

CLARKE et al., (1990) observaram que a insulina bloqueia completamente a liberação de LH em carneiras, já que esta leva o animal a hipoglicemia e reduz a lipólise, privando o sistema nervoso central de energia.

SCHILLO (1992) sugere a hipótese para confirmar que a liberação de LH também esta correlacionada a mobilização e oxidação de lipídeos. Usando um antagonista da glicose (2-deoxiglicose), associado ao bloqueador de oxidação de ácido graxos (metil palmoxirato), obtendo com esta combinação a completa inibição da liberação dos pulsos de LH.

ESPINOSA et al., (1995) usando gordura protegida (Megalac) na dieta (125g/dia) de vacas multíparas (Angus e Angus x Hereford) no pós-parto obteve uma taxa de vacas ciclando e não ciclando entre 30 e 90 dias pós parto de 38% e 22% respectivamente. Aos 90 dias obteve índice de gestação de 62,5% para o grupo tratado contra 35,5% do controle, mas ao fim do experimento com 180 dias não houve diferenças para taxa de prenhez. Porém quando as vacas parem mais cedo na estação de nascimento, maiores são suas chances de conceber na estação de cobertura seguinte, e apresentam menor intervalo entre parto.

A concentração de progesterona (P4) apresenta uma correlação com os metabólitos do colesterol (HDL, LDL e VLDL) que apresentavam aumentados nos animais suplementados com gordura protegida, ESPINOSA et al., (1995). Os autores especulam que o aumento dos metabólitos da gordura apresenta melhora na qualidade do corpo lúteo e não na quantidade de corpos lúteos.

FRIES et al., (1998) usando dietas isocalóricas e isoprotéicas, comparando fontes de alimento (farelo de arroz) que apresentam concentrações maiores de ácido oléico e linoléico, obtiveram como resultado, um número total folículos maiores e uma tendência em aumentar na taxa de prenhez (94,1 para o tratamento e 71,4% para o controle).

ESPINOSA et al., (1995) e FRIES et al., (1998) concordam que dietas contendo ácido linoléico, aumentam a quantidade de prostaglandina (PGF2a) circulante, o que implica na involução uterina, e que de alguma forma, pode aumentar a ciclicidade após o parto.

SCHILLO (1992) sugere que as concentrações de ácidos graxos não esterificados (NEFA) tem uma correlação inversa com reprodução. YELECH et al., (1994) encontrou em animais com 3 níveis de dietas para ganho (1,36Kg, 0,68Kg e 0,23Kg), que animais com o maior ganho apresentavam concentrações menores de NEFA e concentração de IGF1 e insulina maiores, quando comparados aos de menor ganho.

Recentemente a atenção tem sido direcionada, na habilidade do IGF-1 em modular a atividade de gonadotrofinas e esteroides a nível ovariano (RUTTER e MANNS, 1991). RUTTER et al.(1989) observaram que havia, uma rápida redução da concentração sérica de IGF-1 em vacas pós-parto com restrição nutricional, porém RUTTER e MANNS (1991) em trabalho semelhante não observaram alterações nas concentrações séricas de IGF-1.

RUTTER e MANNS (1991) concluíram que a supressão do crescimento folicular não foi refletida nas mudanças de IGF-1; já WEBB e ARMSTRONG (1998) observaram que o IGF-1 está relacionado com o recrutamento e dominância de folículos.

WRIGHT et al., (1992) relata que reservas corporais de gordura (condição corporal) e dietas adequadas de energia são capazes de controlar adequadamente a freqüência de liberação de LH, o que conclui que vacas com boa condição corporal pós-parto não apresentarão longos períodos de anestro. Segundo revisão MUKASA-MUGERVA et al., (1997) para cada unidade de condição corporal (50Kg) reduzida, aumenta-se em 43 dias o anestro pós-parto e WHRIGHT (1987) relata 53 Kg para os mesmos 43 dias.

LALMAN et al., (1997) em um experimento usando novilhas com diferentes níveis energéticos pós-parto, obteve como resposta diminuição no anestro pós-parto e consequentemente menor intervalo entre partos, fato este também constatado por HOUGHTON et al., (1990), trabalhando com vacas Charolês-Angus com diferentes níveis de energia pré e pós-parto. Segundo os autores a suplementação beneficiou as vacas por diminuir a perda de condição corporal.

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