Mercado Físico da Vaca – 14/04/10
14 de abril de 2010
Mercados Futuros – 15/04/10
16 de abril de 2010

Edilson Alcântara esclarece dúvidas sobre o Leilão de Carne Bovina

A Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) lançou oficialmente nesta semana o Leilão de Carne Bovina. A Equipe do BeefPoint conversou com Edilson Alcântara, Assessor da Diretoria da Bolsa Brasileira de Mercadorias para Novos Produtos, sobre esse projeto que promete melhorar a comercialização de boi gordo. "Todo pecuarista cria um bom gado, investe em manejo e na produção durante 2 a 3 anos e o maior dilema dele está no hora de vender. Esse sistema que a BBM está propondo irá dar mais segurança e credibilidade para o pecuarista realizar suas operações e do lado do frigorífico irá ajudar na questão da regularidade de escala".

A Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) lançou oficialmente nesta semana um sistema que está sendo chamado de Venda e Compra Eletrônica de Carne Bovina. Este trabalho não tem a pretensão de corrigir todas as falhas do processo de comercialização de bovinos, mas visa contribuir para a melhora da comercialização. A criação de uma Bolsa de Carnes no Brasil dentro do ambiente da Bolsa Brasileira de Mercadorias visa reduzir o grau de intranqüilidade dos agentes, propiciando segurança e credibilidade nessas relações.

“É um nicho de negócio que não era explorado por ser um mercado físico”, diz o presidente do conselho da BBM, Joaquim da Silva Ferreira. “Daremos mais credibilidade aos negócios com juízo arbitral e o peso da BM&FBovespa, com transparência e segurança”.

As partes parecem apostar no sucesso do sistema. “É interessante, mas para saber se é bom ou ruim, temos que experimentar”, diz o presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira. “Dá para vender realmente antecipado, porque hoje a venda à vista demora 48 horas”. As indústrias também aprovam a iniciativa. “É uma nova forma que atende bem ao setor, mas ainda precisa de alguns ajustes”, afirma o presidente da associação dos frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar. “Mas ajuda a quebrar o gelo nas relações comerciais”.

Na semana passada foi negociado o primeiro lote de bovinos através do Sistema de “Leilão Eletrônico de Compra e Venda de Carne Bovina”. Segundo a BBM, foi vendido um lote 432 arrobas, referente a aproximadamente 32 fêmeas de cruzamento industrial, no Estado do Mato Grosso do Sul, ao preço de R$ 71,82/@.

A Equipe do BeefPoint conversou com Edilson Alcântara, Assessor da Diretoria da Bolsa Brasileira de Mercadorias para Novos Produtos, sobre o Leilão Eletrônico de Carne Bovina que promete melhorar a comercialização de boi gordo.

BeefPoint: Como funcionará este novo produto da Bolsa Brasileira de Mercadorias? Quem poderá negociar animais através da Bolsa?

Edilson Alcântara: Esse novo produto é um leilão de carne bovina dentro da Bolsa Brasileira de Mercadorias e quem pode participar são pecuaristas e frigoríficos interessados em negociar bois prontos para o abate, que são animais gordos com peso entre 15 a 23 arrobas.

Esses agentes devem entrar em contato com os corretores cadastrados na Bolsa para emitir suas ordens de compra e venda. Feito o contato e cadastro junto aos corretores da Bolsa, o pecuarista (vendedor) deve enviar sua oferta que será colocada no sistema de leilão da BBM.

BeefPoint: Quais são as vantagens deste novo sistema?

Edilson Alcântara: O grande diferencial deste tipo de negociação é a sua forma de liquidação. Após o negócio ter sido fechado, o frigorífico comprador tem até as 17 horas do mesmo dia para definir quando será o dia do embarque dos animais, com prazo máximo de 10 dias.

Ou seja, a grande diferença deste tipo de negociação das existentes hoje no mercado é que nos negócios realizados no leilão de carne da Bolsa, ninguém tira um animal de dentro de uma fazenda sem depositar este pré-pagamento.

BeefPoint: Fechada a negociação, quais são os próximos passos e quais são as responsabilidades do comprador e do vendedor?

Edilson Alcântara: Fixada a data de entrega dos animais, três dias úteis antes o comprador deve fazer um depósito de 90% do valor do negócio na conta de liquidação da BBM. Quando este dinheiro tiver entrado na conta, a Bolsa vai avisar o pecuarista para que ele prepare os animais para entregar no dia determinado pelo frigorífico. Esta preparação deve ser a retirada da Guia de Transporte Animal (GTA), Guia de Sanidade, Nota Fiscal e o fechamento dos animais para que os caminhões do frigorífico possam buscá-los na fazenda.

Depois do abate, com o romaneio em mãos será feita liquidação e pagamento do pecuarista.

Para exemplificar como funciona este acerto final podemos pensar em uma negociação que foi fechada por R$ 100 mil. Na data pré-determinada o frigorífico irá depositar R$ 90 mil mais as taxas na conta da BBM e o pecuarista entrega os animais conforme combinado. Após o abate será emitido o romaneio com o peso exato do lote negociado. Caso esse peso seja correspondente a R$ 95 mil, a Bolsa vai pagar os R$ 90 mil menos as taxas – que são cobradas tanto do frigorífico quanto do pecuarista -, e o pagamento restante deve ser acertado entre as partes. Neste caso, os R$ 5 mil devem ser pagos pelo frigorífico diretamente ao pecuarista sem nenhuma interferência da Bolsa.

BeefPoint: E no caso desse lote ser mais leve do que o informado?

Edilson Alcântara: No caso do lote abatido apresentar peso inferior ao informado no momento do leilão, a Bolsa pagará o valor correspondente ao peso de abate para o produtor e devolverá o que sobrou para o frigorífico. Na verdade, neste processo, a Bolsa funciona como uma câmara de liquidação.

BeefPoint: Como estamos falando de entrega física, pode existir certa heterogeneidade entre os animais. Como as mercadorias serão especificadas?

Edilson Alcântara: Nesse sistema, quem definirá o valor da mercadoria será o produtor, ao contrário do que acontece hoje, quando o pecuarista liga para o comprador do frigorífico e pergunta: quanto você está pagando? Com as negociações na Bolsa o produtor ao invés de perguntar, irá falar: eu quero tanto.

Ao enviar sua oferta para o Leilão de Carne Bovina, via corretoras credenciadas, o pecuarista deve especificar o tipo de mercadoria que ele pretende vender, indicando o sexo e quantidade de animais, peso médio, raça predominante, média de idade, se os animais são rastreados ou não e qual é o sistema de criação adotado – pasto, confinamento, semi-confinamento.

Essa não é uma informação para ser chegada e sim uma informação de entrega, o que vale na hora da liquidação é o romaneio de abate, que deve bater com as informações disponibilizadas pelo pecuarista no momento do leilão. A ideia é que o pecuarista acompanhe o abate e que o romaneio que traz o rendimento (arroba líquida de peso morto) seja, como sempre foi, a verdade sobre a matança dos animais.

Para a formação dos lotes não existe um tamanho mínimo ou máximo, mas por uma questão de logística, podemos dizer que os lotes devem ser múltiplos da lotação de uma carreta ou um truck. Isso deve acontecer para que o frigorífico consiga definir quantos caminhões serão necessários para buscar o lote na fazenda e garantir a máxima eficiência deste transporte. Não existe uma quantidade máxima de animais que devem ser ofertados por lote. Essa decisão é do pecuarista, se ele quiser vender seus animais em um só lote ele pode e se decidir fracionar também. Mas as vezes um lote maior é mais atraente, principalmente para os grandes frigoríficos.

As ofertas serão colocadas no sistema por ordem de entrada e o tempo mínimo de exposição de cada lote é de 30 minutos. Ao contrário do que alguns falam, quanto mais tempo o lote permanecer em leilão maior será a possibilidade de que mais interessados disputem este lote, assim o pecuarista pode colocar uma oferta às 10 horas e deixá-la em aberto até 15 horas sem nenhum problema. Existem pessoas que defendem que o fato que trabalhar com tempo mais curto é mais interessante para forçar o fechamento rápido do negócio e das escalas, mas isso vai depender muito do mercado que deve ir se acertando com o tempo e conforme a demanda.

BeefPoint: Recebemos algumas dúvidas de leitores do BeefPoint que estão preocupados com esta definição de preços. Se por algum motivo, após iniciado o leilão, o produtor desejar cancelar a negociação ele tem esse poder? Ou seja, ele tem como defender o lote em questão?

Edilson Alcântara: Não existe este tipo de operação dentro da Bolsa. Após o lançamento das ofertas o produtor só poderá ser representado pelo seu corretor.

Por exemplo, o produtor lançou uma oferta de R$ 73,00/@. Caso nenhum comprador aceite esta oferta, ele pode retirá-la a qualquer momento. Mas se alguém realizar uma oferta no valor mínimo, no caso R$ 73,00, o pecuarista não pode retirar sua oferta e o lote continuará em leilão.

BeefPoint: Caso uma das partes não cumpra com o acordo, quais são as penalidades previstas?

Edilson Alcântara: Se alguma das partes não cumprir o acordo, a Bolsa aplicará uma multa de 10% do valor da negociação à parte faltante. Além disso a parte prejudicada pode solicitar o ajuizamento de uma arbitragem para que seja compensada dos prejuízos desta negociação.

BeefPoint: Como funcionam os Registros de Balcão?

Edilson Alcântara: Existem duas modalidades de registros de balcão, que estão baseadas na relação do pecuarista com o frigorífico.

Por exemplo, eu sou produtor e estou acostumado a abater animais com determinado frigorífico, mas não quero ter toda essa incerteza de recebimento que existe hoje no mercado. Então eu faço toda a negociação com o frigorífico, escolho um corretor cadastrado na BBM e peço para esse corretor registrar esse negócio. Após esse negócio ter sido registrado o processo de liquidação será o mesmo do sistema de pregão: define a data da entrega, com antecedência de três dias o frigorífico deposita 90% do valor na conta da BBM, os animais são abatidos, o frigorífico emite o romaneio de abate e a Bolsa realiza o pagamento do produtor.

O outro tipo é o registro de balcão a termo, neste tipo negociação o pecuarista faz um contrato a termo convencional com o frigorífico, registra este contrato na BBM, e procede a liquidação da mesma maneira através da Bolsa.

Por exemplo, hoje o pecuarista tem bois magros que estarão terminados em outubro. Ele vai ao frigorífico e negocia a entrega futura como já é de costume de muitos. Digamos que ele faça um acordo para entregar seus animais em 22 de outubro ao preço de R$ 90,00/@ e registre este contrato através de uma corretora na BBM. No dia 19 de outubro o frigorífico deve depositar os 90% do valor acordado na conta da Bolsa e após o abate o acerto será feito nos mesmos moldes já explicados. Caso haja algum problema com a entrega e o pagamento a Bolsa irá aplicar as penalidades devidas.

A gente conversou com alguns frigoríficos que já trabalham com este tipo de negociação [boi a termo] e eles ficaram muito satisfeitos com esta questão da multa e da arbitragem em caso de rompimento de contrato.

Vale lembrar que essas negociações acontecem fora da Bolsa, mas a liquidação é realizada pelo sistema da BBM, acabando com possíveis riscos, incertezas e qualquer falta de transparência.

Todo pecuarista cria um bom gado, investe em manejo e na produção durante 2 a 3 anos e o maior dilema dele está no hora de vender. Esse sistema que a BBM está propondo irá dar mais segurança e credibilidade para o pecuarista realizar suas operações e do lado do frigorífico irá ajudar na questão da regularidade de escala.

Confira abaixo o regulamento de comercialização de bovinos na BBM:

Clique aqui e acesse o site da BBM para conferir outras informações.

0 Comments

  1. AMAURI ANTONIO DE MENDONÇA disse:

    Gostei muito do sistema de comercialização, o unico medo é a balança dos frigorificos se na data efetiva o preço da @ estiver abaixo do comercializado.

  2. Ayrton Berger Junior disse:

    Neste tipo de operação quais os custos para o pecuarista?

plugins premium WordPress